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16 DE JANEIRO DE 1963 1831

O Sr. Armando Cândido: - Sr. Presidente: o Dr. Juscelino Kubitschek de Oliveira recorda-se com certeza. Foi no aeroporto da ilha de Santa Maria. O seu amor a Portugal não o deixou indiferente. Saiu do avião e respirou o ar fresco da madrugada. Uma hora e pouco mais. Mas o bastante para levar na alma a felicidade de ter tocado inesperadamente em terra portuguesa.

Por acaso?

Já uma vez respondi assim:

O presidente eleito do Brasil, fiel ao programa da sua viagem à Europa atenta e amiga, partira dos Estados Unidos da América para a Holanda. Assaltado por temporal de vulto, mudou de rumo.

Para onde?

Para Portugal!

A ilha de Santa Maria foi então o refúgio no meio da procela.

A entrada da Europa, Portugal!

À saída da Europa, Portugal!

Portugal, princípio e fim de uma jornada pelo bem do Brasil, pelo bem do Ocidente.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -Não foi por acaso.

O acaso ó uma palavra que nfío explica o acontecimento.

O avião de Juscelino ia no firmamento, e foi o Céu que o desviou e lhe apontou o rumo.

Não acredito no acaso quando a vida tem destas exube-runcias sobrenaturais.

Nilo é acaso a fusão plena de portugueses e brasileiros na consciência do destino comum.

Não é acaso o mesmo sentimento, a mesma língua, a mesma crença, a mesma ansiedade.

Foi obra do acaso o porfiar das quilhas no mar largo, a teimosia das velas, a constância dos nautas?

Se o acaso nos tivesse bafejado, não seríamos um povo cheio de valor histórico; seríamos, quando muito, um povo cheio de sorte, sem valor humano.

A sorte vale como mistério, não vale como razão.

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O Orador: - O Presidente Juscelino, impelido pelos altos desígnios que presidem ao, crescimento brasileiro, não veio à Europa por acaso, nem por acaso principiou e acabou em Portugal a sua viagem de adaptação e valorização internacionais.

No Atlântico Sul o Brasil é a nossa presença, tingindo auroras cada vez mais vivas de luz.

Comunguemos no fogo dessas auroras.

Brasil e Portugal, corações gémeos, que meteram de permeio o mar como medida e sentido da sua ligação inextinguível.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quando se fala do Brasil' sentimo-nos brasileiros e quando se fala de Portugal não ha brasileiro que não respire o sopro de vontade e graça que fez os milagres do nosso milagre.

Não se pode desejar ser brasileiro sem se ter desejado ser português, nem se pode sentir a condição de português sem amar a condição de brasileiro.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sempre o mesmo ideal, a mesma chama, a mesma forja.

"Parece-me que estou ainda a ouvir a palavra interessada e ágil do Presidente eleito do Brasil, Juscelino Kubitschek de Oliveira, nessa manhã de Dezembro, que a sua presença sincera e amiga aquecera, de modo singular:

Sou português. Ë difícil haver uma família brasileira que não tenha sangue português.

Mais tarde, volvidos alguns anos, encontrei o Presidente Kubitschek de Oliveira no Catete. Depois, e a seu convite, acompanhei-o a Brasília, a meta-síntese, quando ela estava ganhando ímpeto e realizando a vocação unitária de integrar na validez efectiva, com todas as suas riquezas activas e potenciais, aqueles s6 milhões de quilómetros quadrados, compreendendo partes do pantanal mato-grossense, do planalto central e da Amazónia".

Vi descer, do ar, no aeroporto de Brasília, a imagem de Nossa Senhora de Fátima, oferecida por portugueses e destinada são primeiro santuário católico da futura capital "construído em 100 dias - se primeira obra arquitectónica concluída dentro do plano-piloto".

Vivi um dia de Brasília em construção. Toquei no mata rasteiro, junto das paredes que cresciam. Pode. ser que hoje, ao olhar-se para a cidade arrancada aos ermos custo todos de vencer, não se dê tanto pelo esforço inicial. Mas ele foi quase sobre-humano. Não era só conseguir as somas, em dinheiro, para levar a cabo o colossal empreendimento, embora auto financiavel. Era mobilizar vontades, energias, consciências. Era pegar no nada, titanicamente, e pô-lo fora do seu assento milenário. Era ter a vasta coragem de contrariar a renitência dos interesses enraizados há tantas décadas a volta do Governo instalado no litoral, para mais numa cidade que colheu das mãos da Providência quinhão farto de beleza maravilhosamente única. Era expulsar a vegetação recalcitrante donde só havia vegetação; abrir vias de acesso onde só havia chão bravio; aprofundar caboucos onde só havia terra arreigadamente virgem; carrear materiais de muito longe, por terra e ar, por ínvias rotas; dispor e aguentar a mão-de-obra em pleno sertão; congregar as aluías no cântico de uma marcha audaciosa; tomar de assalto as distâncias muito distantes, as dificuldades muito difíceis.

A solidão, aquela que ficou no Mundo após o Génesis, intacta, fechada, avassaladora, tem, no decorrer dos séculos, sido causa dos maiores martírios e das maiores glórias do homem. E o homem tem avançado dia a dia no caminho do seu sacrifício e do seu triunfo. Caminho de fé e tenacidade - senda irrecusável que exige passadas heróicas. Por isso, alcançar o âmago da solidão e inundá-lo de almas, mas inundá-lo vazando-lhe, a uma, torrentes de vidas, é tarefa para gigantes.

Pois vi o gigante em Brasília.

Porque será que nem todos avaliam o suor e o sangue que custou o Mundo valorizado?

Porque será que diante da obra realizada raro se dá o justo valor a quem meteu ombros a ela?

Tive a ventura de admirar Juscelino Kubitschek de Oliveira na lide ingente da construção de Brasília.

No meio do fragor das batalhas é que se observa melhor o que as batalhas são. Depois o tempo sempre come alguma altura de autenticidade.

Kubitschek de Oliveira é, essencialmente, um sincero e incansável homem de acção, que trouxe do berço como exemplo, segundo ele próprio diz: se de madrugar e o de trabalhar; o de persistir no esforço e na dignidade sem esperar compreensão e tolerância; o de oferecer sem orgulho e o de receber com humildade; o de amar a justiça e exaltar a coragem".

Vozes: - Muito bem!