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2070 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 82

O Sr. Sales Loureiro: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: tudo o que respeita à juventude interessa afervoradamente à consciência do País.
O que contribui para o seu progresso ou para a sua formação é labor, não apenas de interesse social, mas sim dilatado trabalho do mais alto préstimo nacional; da mesma sorte, aquilo que a distorça, a deforme ou degrade é serviço ignominioso, de autêntica traição, que a sã consciência nacional repele, combate e aniquila, porque o considera um ultraje a uma parte - a mais querida! - de si própria!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A juventude é o repositório sublime, o tesouro inexaurível das melhores virtudes de uma raça.
Daí a necessidade de se fazer um aproveitamento da soma das suas virtualidades em ordem a torná-la eficaz, útil, valorizada, no combate do futuro, que não é sómente de sobrevivência nacional, mas sim árdua batalha de cujo desiderato vai fatalmente sair a vitória ou a morte de um mundo que, surgido na Hélada e passando pelo Lácio, foi a Jerusalém buscar o conteúdo espiritual que deu sentido pleno à vida e encheu de radiosa luz o caminho da humanidade!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E o homem, entendido em si próprio ou na totalidade do género humano, julgado em si mesmo ou na trama das suas relações sociais, todo ele é um conjunto psicossomático, um eu físico, intelectual e anímico, que a educação informa e enforma, de modo a torná-lo consciente dos seus direitos e obrigações; de qualquer forma um ser responsável, esclarecido e virtuoso, apto para a luta, que é a vida, luta essa a que não fica indiferente o corpo social da Nação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E esta há-de ser sempre a medida do valor exacto dos seus cidadãos.
E estes formam-se através da família, da escola, da religião.
Assim, não pode haver formação completa, integral, sem a conjugação planificada desta tríplice acção educativa.

O Sr. Pinheiro da Silva: - Muito bem!

O Orador: - Cada uma delas, entretanto, tem de ajustar as suas ideias, os seus métodos, às realidades da época que passa.
Não podem ser utópicas nem anacrónicas!
Ensinar teorias ultrapassadas a homens que se recusam a compreendê-las é tempo perdido; do mesmo modo, querer reduzir o homem da actualidade ao do passado é não ter em conta circunstâncias e gravitações tão diferentes, que dão a essa redução, quando procurada, contorno a tal ponto disforme que a torna impraticável.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Por isso, já aí se fala de um «homem novo», a que preferíamos chamar «homem dos novos tempos», porquanto o homem, na sua essência, não é velho nem novo - mas simplesmente: homem!

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O Orador: - Desta forma, e ante esta realidade incontroversa - que os descrentes e desesperados apelidam de «fatalidade» -, temos, todos - e neste todos estão a família, a escola e a Igreja -, de reunir os nossos mais instantes esforços, no sentido de ajudar esse homem - «novo» ou da actualidade - a fazer-se, sacudindo as poeiras do passado que porventura briguem com as estruturas em que se vai mentalizar o seu futuro.
É certo que o condicionalismo actual, com a progressiva materialização da vida de trabalho, com um cada vez maior enredamento de sugestões ou solicitações de ordem técnica, confina os passos do homem na senda do seu destino. E os horizontes que hoje lhe são oferecidos já não são os mesmos das gerações passadas.
Assim, as antigas estruturas começam a ficar desactualizadas, muitas delas ameaçam mesmo perder-se.
Desta forma, o homem da actualidade, e muito particularmente o jovem actual, arrisca-se a ficar cada vez mais só.
Ele tem de resolver quase unicamente por si os grandes problemas que se lhe deparam.
A nova técnica, o novo cientismo, o excessivo comodismo da vida moderna, apenas lhe oferecem o desespero, a náusea, o absurdo, o vazio.

O Sr. Pinheiro da Silva: - Muito bem!

O Orador: - E o jovem cresce e faz-se através de tão estranhas sombras, e já que ao Estado, através da escola, como, para além dele, à família e à religião, compete a educação, toda ela terá de ter em conta estadura realidade, que constitui o enquadramento sob o qual se faz todo o desenvolvimento do ser humano.

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O Orador: - Há, pois, que preparar o homem do futuro por uma nova pedagogia, por uma especial acção educativa, que vá directamente ao encontro dos seus melhores anseios.
Temos de alicerçar as novas estruturas em vista a dar um conteúdo espiritual aos jovens de hoje, refazendo a vida de muitos por meio de uma acção apologética que plenamente satisfaça a sua curiosidade e a sua ansiedade.
Num mundo tecnocrático, que se barbarizou, são-lhes absolutamente indispensáveis os valores de uma cultura, de uma civilização, que se vai perdendo, porque os génios, os heróis u os mártires que o serviram se tornaram cada vez mais raros!
A estandardização das ideias poluiu muito do que era ocidental e bastante do que era nacional.
Por isso, tudo o que surja e sirva para opor um dique a esse novo caudal escatológico, de que resultarão os mais trágicos inconvenientes, as mais nefastas consequências, é obra de redenção humana e de salvação nacional.

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O Orador: - Assim, observámos muito recentemente afirmações públicas de tal relevo e proferidas por tão ilustres personalidades, a propósito destes magnos problemas, que, tomados pelo enlevo, pela sedução do seu significado, não podemos escusar-nos a comentá-las.
Sr. Presidente: umas dizem respeito aos problemas da juventude universitária; outras aos da juventude em geral.
Ligadas a elas os nomes ilustres do Sr. Ministro da Educação Nacional e de S. E. o Cardeal-Patriarca de Lisboa.