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2076 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 82

No início de 1928 havia atingido 29 500 000 o número de viaturas para uma população mundial do 1900 000 000 de habitantes. Portugal aparece na estatística com 20 000 veículos e 310 habitantes por veículo.
Em 1984 as estatísticas da Câmara do Comércio Automóvel dos Estados Unidos da América apontam o número de 33 30000, dos quais quase 24 000 000 dos Estados Unidos da América, correspondendo já a um veículo automóvel por cada 5 1/4 habitantes desse país.
Portugal teria nessa época 38 741 veículos automóveis e uma proporcionalidade de 160 habitantes por veículo.
Em 1939 circulavam em Portugal 50 800 automóveis, o que estatisticamente corresponde a 140 habitantes por viatura.
E demorou treze anos ainda a duplicação do parque automóvel português, que só em 1952 atingiu 103 374 unidades. A partir de então acelerou-se notavelmente este crescimento, que o nosso muito douto colega engenheiro Araújo Correia, classifica saborosamente de «frenesim automobilístico» no Relatório das Contas Públicas de 1960. Bastaram realmente oito anos -os decorridos entre 1952 e 1960- para duplicar o parque automóvel português, atingindo em 1960 208 000 unidades e uma proporcionalidade de 80 habitantes por veículo.
Em 1961 o total de veículos automóveis em circulação, no continente e ilhas adjacentes, excluindo os veículos do Estado e das forças armadas, era de 231 052, afora, 26 359 motociclos e 9658 tractores (Anuário Estatístico dos Transportes Terrestres, 1961; outras estatísticas foram colhidas em Renó Béringuier, Le Problème de la Circulation, Paris, 1929; O Automóvel na Economia Nacional, de Augusto Ribeiro Vaz, 1935, e Linha de Rumo, do Prof. Ferreira Dias).
Salienta-se que nas estatísticas nacionais não figuram as bicicletas motorizadas, certamente pelo facto de o seu registo se efectuar apenas nas câmaras municipais. Dada a extraordinária expansão desta espécie de veículos, que em tilo grande parte concorrem, como veremos, para a sinistralidade, teria interesse que passassem a figurar no cadastro dos veículos motorizados do Anuário dos Transportas Terrestres.
Deste breve e incompleto apontamento estatístico poderá concluir-se que o parque automóvel nacional tem crescido substancialmente, e mais aceleradamente nos últimos anos, como resulta da verificação seguinte:

Em 25 anos (1985-1960) cresceu cinco vezes e meia;
Em 20 anos (1989-1959) quase quadruplicou;
Em 8 anos (1952-1960) duplicou.

Se a utilização rodoviária e o parque automóvel constituem hoje um dos índices de desenvolvimento e crescimento económico, nesta bizarra competição estatística entre nações, com atribuição de pontos na tabela de classificação, podemos dizer que Portugal tem acompanhado o ritmo, e até conseguido, em relação a outros, algum avanço relativo, embora não tanto como aquele que a Itália pôde apontar - o de ter duplicado em seis anos o seu já imenso parque automóvel, que atingiu 6 500 000 veículos motorizados em 1962.
Mas lá chegaremos certamente, a continuar assim.
E teremos então, lá para 1968, com meio milhão de viaturas automóveis em circulação, agravado ainda fatalmente o absurdo congestionamento de trânsito, o ar citadino mais poluído, os tímpanos mais brutalizados ainda pelo ruído e uma estatística confrangedora de vítimas do acidentes. Este é o reverso sombrio da brilhante subida na escala do progresso económico, traduzido em mais automóveis por habitante; parece, de resto, que já agora só satisfatoriamente definido, desde que toda a população possa ter assento simultaneamente dentro de veículos, desiderato atingido, aliás, desde que a relação veículo-habitante se situe em 1 para 5. E vimos que no já distante ano de 1927 os Estados Unidos da América haviam atingido essa meta, hoje ultrapassada certamente por mais alguns países.
Foi Henry Ford, pioneiro da produção em massa e certamente o grande impulsionador da indústria automóvel, quem disse esta coisa revolucionária:

Não temos muitos automóveis por sermos ricos; somos ricos por termos muitos automóveis.

A aparente boutade corresponde hoje a uma realidade económica e até social inegável. A motorização, a mecanização, são sem dúvida um factor de riqueza, progresso económico e social e, a par disso, uma imensa fonte de recursos fiscais.
Bastará referir que a receita total dos diversos impostos e taxas provenientes da circulação rodoviária atingiu em Portugal quase 1 milhão de contos em 1961 (precisamente 967 692 contos), não se incluindo os direitos aduaneiros sobre a importação de veículos e peças. Lembra-se que esses direitos aduaneiros incidiram em 1961 sobre 25 973 veículos importados, com 1 096 000 contos de valor atribuído. E o crescimento destas múltiplas receitas fiscais mais avulta se tivermos presente que não excediam em média anual 113 000 contos de 1935 a 1939. (Anuário Estatístico dos Transportes Terrestres, 1961 - mapas 65 e 64).
A enorme rede de interesses ligados à circulação automóvel (refinação e distribuição de combustíveis, construção de carroçarias, fábricas de pneus e câmaras-de-ar, oficinas de reparação, instalações de recolha e manutenção, carreiras de serviço público urbano e rodoviário, automóveis e camiões de aluguer) constitui hoje um imenso valor económico e factor de trabalho de dimensão certamente ímpar no conjunto da nossa economia. E agora, tardiamente, acordamos para a criação de uma indústria automóvel nacionalizada, em vias de montagem acelerada, e de que há a esperar, não obstante o atraso, ainda perspectivas enormes na vida industrial portuguesa.
E capítulo em que não poderá dizer-se que fomos audaciosos ou mesmo razoavelmente expeditos, se tivermos presente o facto de desde 1934 se ter pretendido instalar linhas de montagem em Portugal sem que tal tivesse sido autorizado. E todas as iniciativas se goraram até que em 1961 se iniciou um programa de fixação de indústria automóvel, agora em execução dispersa através de numerosos grupos industriais estrangeiros. (Eng.º Ferreira Dias, Linha de Rumo, p. 236).
E entretanto o Brasil havia criado uma fluorescente actividade que já produz mais de 300 000 veículos por ano e está em franco crescimento. A Espanha soube nacionalizar rasgadamente a produção de automóveis e o seu parque é hoje quase totalmente abastecido com produtos de seu fabrico.
E leio algures que só uma marca popular alemã logrou construir em 1962 mais de 1 000 000 de unidades, o que é muito, mas dessas conseguiu colocar no mercado americano (sublinho americano) coisa de 300 000 veículos, o que é surpreendente.
Que de tempo e de oportunidades inexplicavelmente perdidos, neste domínio, em Portugal.