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2388 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 96

marcará a sua efectivação para quando tiver por mais conveniente.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Gonçalves Rapazote: - Sr. Presidente: foi no domingo passado que a juventude católica levantou um altar no Terreiro do Paço.
E levantou esse altar, simbolicamente, como que a construir diante de nós o seu mundo, um mundo novo.
Os maus olhos claros ficaram turbados de emoção.
Rapazes e raparigas eram muitos, muitos milhares, vindos de toda a parte, e juntos, alegres, de mãos dadas, portadores do mesmo espírito, comungavam em Cristo.
Não estavam ali por acaso.
Tinham feito uma preparação longa, cuidada e séria, tinham meditado na escolha que vinham fazer, tinham rezado e cantado, tinham feito penitência e por fim começaram I construir o altar ...
E foram construí-lo amorosamente nesta capital, às portas do Tejo, onde se abriram os caminhos da nossa grandeza, frente ao mar.
Creio se trata de um verdadeiro acontecimento nacional e, por mim e neste lugar, onde a política é o denominador comum da nossa actividade, não posso ficar indiferente a esta magnífica prova de vitalidade, de força, de suficiência, de presença reflectida, do confiança, de determinação, de consciência serena, de clara definição de posições, de dignidade, de coragem e também de perseverança, de humildade, de generosidade e de amor.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: -A juventude propõe-se construir uma ordem nova e, procura o seu caminho, vai abrindo o seu rego e parece, Sr. Presidente, para alegria sua e nossa, que enregou «engatando a charrua a uma estrela».

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - E da minha natureza fugir da sombra para o sol, à procura da raça...
Gosto da análise c da crítica dos costumes, ali, no canto soalheiro da. minha aldeia, mas tenho imensa compreensão para a pobre humanidade que nós somos e mais ainda para a juventude que precisa de nós.
O problema do homem, o angustiante problema do homem, é colocado e renovado invariavelmente por cada geração.
Segundo aprendo do que leio e vejo e inédito, este nosso tempo prepara-se para contemplar o homem na totalidade do seu ser, como que a querer descobrir «o esquema essencial do humano».
Essa angústia do homem contemporâneo está, como diz o filósofo, «na dor que produz a impossível determinação do que constitui a sua própria natureza».
... «A maçã repete o sou ciclo biológico e entrega-se completamente nele. Sabe o que convém à sua essência, conheço a sua natureza, elegeu, definitivamente, o clima e o processo que convém ao seu ser».
O homem, à deriva, procura realizar-se.
Vem fazendo experiências seculares e as posições que toma diante do problema da vida são dirigidas, impulsionadas ou dominadas «por fluências vitais de que só Deus conhece as fontes que as vertem».
«A vida vem por misteriosos caminhos de intimidade e por afluentes externos que desembocam juntos no mar das nossas emoções».
O que o homem procura em cada geração nesses caminhos da consciência e no mundo exterior, o que o homem procura em cada geração com mais afinco, é, precisamente, «uma espécie de carta de marear para as novas correntes que se apresentam capazes de encher de esperanças o seu presente».
Por isso, a atitude mais digna do homem será a de «opositor à significação de qualquer presente».
Não conhecendo a sua natureza essencial, ao fazer-se radical, põe no futuro a única possibilidade de encontrar a fórmula do seu ser.
Todo este alinhavo mais ou menos livresco o fui buscar para criar um fundo à minha simpatia natural pela costumada e abençoada rebeldia da juventude.
Nenhum presente lhe serve; há-de tomar na sua mão o material com que construirá o seu futuro; há-de refugar e escolher.
Algum desse material poderemos servir-lho nós, os mais velhos, se tivermos tido a sorte de produzir alguma coisa que seja aproveitável e útil para o tal mundo novo.
É hora de fazer o nosso exame de consciência, dando conta daquilo que pusemos ao serviço da nossa juventude para realmente favorecer ou desenvolver as suas potencialidades.
Só quem guardar tesouros de «amor, de intuição, de riqueza imaginativa ou mostrar ampla experiência humana, artística ou religiosa» pode seriamente servir algum material nobre para a construção do futuro.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - A minha geração também foi generosa e foi paciente. Atou os fios partidos, compondo a teia, e trabalhou disciplinada e corajosamente para levantar com o parco material recebido da desordem precedente uma ordem.
É esse o nosso serviço, o grande e primeiro serviço da nossa geração.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Ordem perfeita, creio que não, mas ordem que não discute os valores essenciais e ordem vazada nas nossas constantes, inconfundível, que «os ventos da história» ainda não puderam abalar, e ordem suficiente para pôr em evidência a necessidade de dar as mãos e de quebrar a resistência de todos os egoísmos, mostrando os compartimentos fechados de uma sociedade que perdeu o sentido da comunidade, e para deixar circular livremente, por toda a parte, o espírito de renovação que pode conduzir os portugueses de todos os credos e de todos os quadrantes a colaborar no bem comum.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Pouco mais teremos feito, já que essas carpintarias, toscas e finas, umas boas e outras caras e imiteis que por aí ficam semeadas, são o fruto natural da mesma ordem e sobretudo do trabalho da Nação.
Os rapazes e raparigas que se juntaram aos milhares, dispostos a construir o futuro, vão ver como é difícil fazer alguma coisa.
Trazem, no entanto, consigo a eterna novidade do Evangelho, sabem que o Diabo existe, e agora são portadores da renovada mensagem social da Igreja, cheia dos mais