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2848 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 113

facto da minha ausência da província de Angola em momento tão alto da vida nacional e tão grato aos seus habitantes.
Ninguém sentiu, como eu próprio, tão funda contrariedade. E, pois, sem sombra de constrangimento, de coração aberto, que me apraz confessar, do lugar que mu pareceu mais próprio, a minha falta. Esta confissão implica um pedido de desculpa que daqui dirijo no Sr. Presidente da República, com a sincera expressão das minhas homenagens de muito respeito e alto apreço.
Não estive porque não pude, e não porque não quis. Não estive porque tenho sido obrigado a concentrar, sacrificadamente, porque vítima silenciosa e impassível do terrorismo, atenções e energias por outros lados, para descobrir e enfrentar manobras subtis e cavilosas de capangas e alcaiotes de uris quantos que na política fazem vida de tartufo e não se agradaram da posição que assumi quanto à política ultramarina, e tenho intransigentemente defendido, como esta ilustre Assembleia bem conhece.
Só lamento que haja tanta gente que tão pouco sabe de si e persiste, teimosa e sacrílega mente, em invadir os domínios que só a Deus pertencem, querendo também saber de todos. Isto é sinal tristemente, assustadoramente, indicativo da queda abandonada dos princípios morais. E não levo mais longe o que é simples desabafo sem propósito morigerador, porque os insensatos e os maus hão-de continuar sempre activos, falando e agindo com a certeza de que o bom Sol permanecerá imperturbável a alumiar e a aquecer, tanto os vermes como os génios.
A visita do Chefe do Estado às terras de Angola e de S. Tomé foi o remate, a cúpula, a demonstração brilhantemente expressiva do porquê de também ali ser Portugal. Justa visita teve o condão de criar uma atmosfera de suspense internacional. Pensava-se - e esperava-se - que iria resultar em malogro, que servisse de pretexto à confirmação dos critérios antiportugueses e justificasse a razão da campanha que nos movem. E foi tal o sucesso - de que, aliás, nunca duvidámos, embora imprevisto pelos de lá de fora - que todos os meios internacionais ficaram mudos de espanto e desapontamento.
Com que palavras poderiam referir-se ao êxito de uma jornada cujo insofismável significado tanto os contrariou e os convenceu intimamente da certeza do nosso direito? E o seu silêncio foi a mais clara confirmação disso, porque foi a confissão de uma derrota total.
Não me detenho a repisar o que foi dito na ocasião pela imprensa e mostrado na televisão, porque toda a Nação ficou então sabendo que a visita do Chefe do Estado assumiu a beleza ímpar dos factos empolgantes que só se vêem uma vez na vida. Felizes os que viram, porque são os que melhor podem dai1 ao Mundo testemunho válido. Felizmente, não foi devido à minha ausência que a visita do Chefe do Estado foi menos festejada. Nem a minha presença teria feito crescer mais e dar mais repercussão e intensidade a tão empolgante jornada patriótica, toda animada pelo espírito de bem servir, pelo meio próprio e na hora própria.
Em verdade, o Sr. Almirante Américo Tomás foi prestar um altíssimo serviço à Nação e, muito especialmente, às populações do ultramar visitado, nomeadamente às de Angola. S. Ex.ª não foi ali em visita de soberania, como para aí se teve .a ligeireza de propalar sob a influência da mentalidade colonialista, que muitos não querem crer já derrotada, e ultrapassada. Em nossa casa somos tão naturalmente soberanos que não temos necessidade de prová-lo por actos ostensivos, que corresponderiam a vilipêndio dos cidadãos visados por esses actos.
O Chefe do Estado foi a Angola e S. Tomé tão naturalmente e com os mesmos direitos e prerrogativas como tem ido aos Açores, à Madeira, a Beja ou ao Porto.

O Sr. Herculano de Carvalho: - Muito bem!

O Orador: - Apenas porque as visitas às províncias ultramarinas não são tão frequentes, quer-se atribuir-lhes um significado e um nome que, na conjuntura actual, e sempre, é assaz mal soante. Soberania?! Qual soberania, qual quê?! Se assim fosse entendida a honrosa visita do Chefe do Estado às terras portuguesas do ultramar teríamos dado uma prova de incoerência e de não sentirmos sinceramente a profundidade e extensão das raízes vinculantes de Portugal.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O Chefe do Estado foi lá, ao ultramar, e não saiu da terra portuguesa. Não foi afirmar propósito de domínio. Foi demonstrar aos que tinham dúvidas que não é por mero artifício, nem por condenável violência que lá também é Portugal; ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... pois aquelas terras já nasceram, por esforço de portugueses, para o mundo civilizado, portuguesas. E a melhor prova que o Mundo teve de que assim foi e assim é ficou patente na maneira descoberta, livre, cheia de à-vontade, com que o Chefe do Estado percorreu a província de Angola, inclusive os distritos onde a ordem foi mais profundamente afectada e o desassossego das populações mais dominante. Livremente, confiadamente, sem outro pensamento que não fosse o de manifestarem o seu regozijo e carinho, toda a gente, e muitos com os olhos implorantes de misericórdia, compreensão e justiça, em todos os lugares se abeirou de S. Exa., que a todos acolheu com a mesma serena confiança, com a mesma afabilidade, com o mesmo sorriso tranquilo.
E aos que lá vivem - aglutinação maravilhosa da mais surpreendente policromia humana de que só Portugal, por graça de Deus e obra dos homens, pode orgulhar-se -, porque irmãos ontem desavindos, quis o Chefe do Estado, não só com a sua presença, mas também com reais demonstrações de afabilidade e carinho, dar um exemplo de fraternidade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E esse exemplo bem ostensivamente o concretizou em amplexos e apertos de mão, e, também, com ternos beijos e afagos às crianças, no que a Exa. Esposa de S. Ex.ª colaborou cativantemente.
A todos envolveu nas mesmas demonstrações de paternal afecto, sem escrúpulos nem discriminações, assim indicando não ser outro o caminho da paz e da concórdia que torna felizes os povos. Não foi ali repetir as palavras de Albuquerque aos infiéis e traidores da índia. Esta a lição que todos quantos tiveram a felicidade de assistir a ela devem ter sempre presente, mesmo contrariando a própria tendência ou maneira de ser, que não devem ser postas à prova, estando a servir-se o interesse nacional. Eu não estive lá; mas soube interpretá-la e recebê-la agradecido.
Aos Srs. Ministro do Ultramar e Governador-Geral de Angola apresento as minhas felicitações pela maneira dedicada e afanosa como prepararam e executaram o programa da visita e pelo patriótico êxito alcançado.