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10 DE JANEIRO DE 1964 2843

O Orador: - E como se sabe que o egoísmo quando transportado para o campo social pode representar uma perigosa ameaça às próprias estruturas políticas, eu insisto neste aspecto indispensável à materialização do nosso conceito multirracial, sem o que não me parece poder haver base e estrutura na nossa unidade política.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Finalmente, o quarto factor que poderá ter efeito acentuado sobre a nossa política ultramarina: a pressão externa ou a acção directa vinda do exterior.
As votações contrárias da O. N. U. apenas terão significado na medida em que os votantes estejam convencidos do real e prático valor das decisões recomendadas; uns estariam dispostos à acção directa, mas nestes não estará certamente a maioria dos próprios afro-asiáticos; outros desejarão a aplicação de sanções com vista a fazer pressão de vária ordem, mas nestes não estarão, não têm estado, aqueles dos mais poderosos que nos interessam; ainda outros votam contra ou abstêm-se porque razões de compromisso regional ou bilateral a isso os obrigam - nestes se incluem muitos que nos estimam, apreciam e até auxiliam em vários aspectos; finalmente poucos, menos dos que tinham o dever de o fazer, mantêm-se fiéis à política ultramarina portuguesa.
À N. A. T. O. continuamos a dar o valor das nossas posições estratégicas, continentais e insulares e a garantir uma retaguarda anticomunista. Dos nossos parceiros na Organização, com uma ou outra excepção acidental, temos obtido, no mínimo, prudência nas declarações e ponderação nas atitudes.
Existe assim um campo vasto de manobra diplomática onde o jogo pode ser feito desde que não falte convicção nas ideias, segurança na argumentação e constante espírito de contra-ataque.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Creio bem que estes atributos não têm faltado ao chefe da nossa diplomacia e que a larga experiência e especial acuidade do Chefe do Governo sobre esta matéria nos dão garantia de que os trunfos não estão todos jogados.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sobre a acção directa vinda do exterior sob a forma de agressão declarada, salvo qualquer acto desesperado, pessoalmente não creio que tal se possa dar nos anos mais próximos: os que o poderiam fazer por razões de proximidade geográfica têm problemas internos graves a resolver e, sobretudo, não ignoram o risco que correriam se o fizessem. Daqui se conclui que esta ameaça ao prosseguimento da nossa política ultramarina será tanto menor quanto mais vigilantes estiverem e poderosas forem as forças que defendem as províncias.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Isto traz sacrifícios à Nação, tristeza e luto a alguns lares, por vezes esmorecimentos. Não sei como de outra forma se possa fazer a história, sobretudo a história de um povo pequeno.

O Orador: - Sr. Presidente: propus-me ser curto e fui mais longo do que desejava. Apetecia-me dizer como o grande Vieira, caso não o ofenda: «Não tive tempo para ser mais breve.»
Pretendi transmitir em breves sínteses o que penso sobre a política ultramarina que o Governo está efectivando e se propõe continuar e procurei analisar alguns factores essenciais que afectam a sua realização.
Na medida em que esses factores forem obrigados a reagir no sentido positivo dos nossos desejos menos dificilmente serão atingidos os objectivos que a Nação, por grande maioria, ambiciona.
Damos ao Governo a nossa colaboração e o nosso apoio para que assim seja.
Muito obrigado, Sr. Presidente.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Armando Cândido: - Sr. Presidente: Portugal não está ameaçado. Está debaixo de fogos cruzados.
De um lado a táctica comunista, progredindo como uma verruma. Ganha a Ásia, quase toda; armado o punho cubano em direcção aos Estados Unidos; flagelada a América Latina, com incursões verbais e assaltos terroristas - com uma forte agitação subversiva -, e convencidas algumas potências da Europa a deixarem-se vencer em África, passamos a constituir a barreira teimosa.
Por outro lado, a América do Norte, julgando-se em momento, não de segurar posições, mas de distribuir afagos promissores, a cada hora perde espaço, sem ver que o futuro não é uma superstição, mas um caminho por onde a experiência marcha, tocada de novidade.
E, no meio destes avanços e recuos, destas realidades e enganos, o mundo árabe, reassumando às portas da história com aglutinada presença, também se activa, enviando aríetes contra a barreira firme.
Dadas as estranhas condições em que se processa a vida internacional do nosso tempo, não tem a gente de se admirar dos interesses e dos apetites que nos tomam como alvo - interesses e apetites, por vezes, opostos entre si, mas juntos, logo que se trate de ofender a nossa integridade territorial.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E não existem argumentos tirados da afirmação dos séculos. Muito menos o direito a ter direito ou a razão de ter razão. Nem o conceito de verdade se limita ao que é, mas ao que cada qual resolve que seja. A própria justiça, em vez de ser o prémio concedido ao direito ou a sentença favorável à razão, tornou-se o resultado vitorioso do que tiver mais garras ou mais habilidade.
Deste modo, há quem se adiante, agitando a paixão do que lhe convém ou a ilusão do que julga convir-lhe. E outro remédio não encontramos, que não seja o de estremecermos em profunda revolta, aceitarmos o desafio à nossa fé e corrermos às ameias da Pátria para de lá enfrentarmos a chusma com as únicas armas atendíveis - as de ferro e de fogo.
Isto não é novo na nossa história. Muitas- vezes nos temos visto em transes de defesa e sempre a alma dos Portugueses vibrou e cresceu. Até quando os fantasmas povoavam os mares e do lado de lá nos aguardava gente difícil, nem por isso deixámos de varrer as sombras.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!