O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

2846 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 113

Quantos tios oposicionistas actuantes ou virtuais, sem embargo de reservas ideológicas quanto ao regime actual, se não aperceberam já que quanto à defesa do ultramar o Governo vem trilhando o único caminho consentâneo com o da sua manutenção, que qualquer transigência seria apenas brecha por onde entraria a perdição total?
De resto, os nossos antagonistas afro-asiáticos quanto a isso não nos consentem sequer dúvidas. E ainda bem. pois bom serviço de esclarecimento nos prestam.
Cá dentro, quantos que acima de tudo se têm por bons portugueses têm feito já a sua escolha! E por ela, na pessoa do Sr. Prof. Armando Cortesão, lhes presto a minha homenagem rendida.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A lição que nos acaba de dar de ecumenismo português com artigos publicados no Diário Popular em resposta aos traiçoeiros e insidiosos ataques vindos donde menos se deveria esperar é bem digna de aproveitar a todos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Está bem na tradição daqueles que, para além de idealismos políticos, sabem pôr a Pátria acima de tudo. e nisto, como velho expedicionário de 1917. não posso deixar de prestar saudosa homenagem à memória de Álvaro de Castro, assim como é impossível não recordar a propósito o que Norton do Matos deixou escrito como imperativo nacional quanto a Angola.
De resto, como monárquico, neste campo apenas me cinjo às directivas que em circunstâncias correspondentes, e em conformidade com o pensamento dos príncipes, soube traçar Aires de Orneias: «Pátria ao alto!».
Confiemos, pois. em que o tempo que embora contra as tábuas, vamos em caminho de ganhar, algo nos favoreça.

3.º Razões de esperança:

a) Inevitável rivalidade das novas nações africanas, demais constituídas não sobre antecedentes de ascensão orgânica, mas sobre o artifício das partilhas europeias. Essas rivalidades agravadas pelas dificuldades de uma administração interna incipiente:
b) Influências contraditórias de impérios hegemónicos. É sabido que onde se implanta o capitalismo os contrastes, já não falo nos excessos, da vida que implica tornam-no fácil campo para o influxo comunista, à por de mais conhecido este ponto para sobre ele insistirmos, certos de que isso levará os países ocidentais a tornarem-se mais compreensivos para connosco:
c) O aparecimento da China aspirando à catalisação de todas as raças não arianas. Espécie de racismo negativo tendente no futuro naturalmente à colocação em África dos excessos demográficos de que sofre e cuja colocação na América de há muito que tem vindo a ser tolhida.
O racismo supera assim a ideologia comunista. Os Russos, como brancos, não escapam ao pecado de o serem, que se pretende todas as outras raças lhe atribuam.
São estes os sólidos elementos negativos para que tenhamos esperança: quanto aos positivos, eles têm de partir sobretudo de nós, do povo português e da força do seu Governo.
O intercâmbio que as actuais circunstâncias bélicas impõem entre as províncias do ultramar, marcadamente Angola, e a metrópole, muito para tanto contribuirá.
Confio convictamente no espírito nacional, cimentado pelos militares que se batem e pela lição dos que morrem para que a Pátria viva. Essa chama muito contribuirá para insuflar ânimo novo na consciência da Nação, acordando-a da natural dormência que traz o gozo de vida relativamente fácil.
Por outro lado, esses militares que vêm vivendo prolongadamente nesses torrões sagrados da Pátria nunca perderão a saudade deles. Em muito maior número que antes, os portugueses tenderão a procurar realizar ali a sua vida permanente.
A amplitude da vida que de lá se vislumbra, em contraste com a estreiteza daquela de que as condições daqui não permitem se escape, hão-de constantemente solicitai-os que a experimentaram para essa prova de esforço, mas esforço largamente promissor.
Por outro lado a cristianização romana dos povos gentios - por isso nunca as missões católicas são de mais -, com a graça de Deus, há-de ajudar-nos uma vez mais. As nossas capacidades de sol» e vivência têm uma prova de séculos. Se nós conseguimos até tirar partido da usurpação filipina para, sob o pretexto da união de coroas, subverter, no J3rasil. em nosso proveito, a partilha do meridiano de Tordesilhas!
Sr. Presidente: tudo isto, e quanto se vem trazendo à barra desta Assembleia, proclama quê a política seguida pelo Governo está certa, e nem mesmo se poderia conceber outra viável!
Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Pinheiro da Silva: - Sr. Presidente: duas palavras muito breves.
Com inteira propriedade se pode asseverar que o conceito português de nação jamais viveu ao sabor de interesses momentâneos, confessados ou não, nem primou pela estreiteza. Cedo forjado, robusteceu-se ao longo dos séculos e em época. alguma o vemos subordinado às ideias de raça e geografia. Quer isto dizer, afinal, que há séculos se entende entre nos a Nação como multirracial e distribuída pelo Mundo.
A vida das populações transmarinas, ali nascidas ou radicadas, foi sempre vida da Nação. Na realidade ultramarina teve sempre o patriotismo português um dos seus mais rijos suportes. Os desenvolvimentos da política ultramarina, por isso, nunca deixaram do confundir-se com a própria política nacional.
E se é certo ser constante da história o irem, em momentos de necessidade ou de perigo, socorrer os ultramarinos os portugueses Ha Europa, não o é menos que, quando necessário, aqueles vieram em auxílio destes, oferecendo-lhes a inteligência, a fazenda e a vida, batendo-se pelos mesmos sagrados valores e interesses pátrios.
A esta luz creio ser perfeitamente inteligível que as ideias de alienação, venda, troca, abandono das populações e territórios de além-mar não pertençam ao nosso património político-cultural. A consciência nacional repele-as, porque estranhas na origem e nas intenções.
Por outro lado, Sr. Presidente, assim se compreendem alguns factos recentes:
Logo a seguir ao já hoje histórico discurso de Salazar de 12 de Agosto passado, em que a política ultramarina nacional é luminosamente definida, as gentes do ultra-