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14 DE FEVEREIRO DE 1964 3183

bem que espalhou, nas virtudes que incutiu nos outras, na sublimação da causa por que lutou e, sobretudo, porque tem assegurada a vida de glória, que jamais acaba, prometida aos bons, aos justos, aos santos.
O José Carlos nasceu num lar cristão e autenticamente português. Aí cresceu e se fez homem, embalado na crença em Deus e no amor da Pátrio, e também na consciência do dever de servir e difundir ideais tão sublimes. Aí apurou a sensibilidade e forjou o carácter, preparando-se para a generosa compreensão dos homens e para as grandes opções. Ai aprendeu a trabalhar e a medir os valores da vida segundo um ordenamento hierárquico de inspiração e sentido espiritual.
A sua carreira escolar haveria, pois, de iniciar-se e desenvolver-se com brilho ato a licenciatura em Direito e justificar, em seguida, o ingresso no professorado da Faculdade de Economia do Porto. A sua inteligência e a sua disciplina mental só foram sobrepujadas pela sua forte personalidade e pela irradiante simpatia do seu coração magnânimo. Tais atributos impuseram-no sempre ao respeito de superiores e camaradas. Por si, pelo sou porte irrepreensível e pela sua noção doutrinadora, era em toda a parte testemunho eloquente dos princípios que estruturam e legitimam a nossa cultura e estão na base da vida colectiva da grei através dos séculos.
A formação humanística do seu espírito não esbateu a vocação decidida para- as armas, despertada, conjuntamente com a paixão consciente dos problemas ultramarinos, por seu tio-avô, o general João de Almeida, cujo heroísmo e relevantíssimos serviços a consolidação da unidade nacional constituem página gloriosa da nossa história.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não admira, assim, que tenha sido dirigente do mais alto grau e prestígio da Mocidade Portuguesa. Comandante de castelo, de grupo e de falange, comandante de centro do Liceu Camões, mesmo quando aluno da Faculdade de Direito, passou depois pelo Centro Universitário e pela Milícia e, na Delegação Provincial, da Estremadura, foi comandante de divisão, tendo-se consagrado ainda com o maior zelo e eficiência à valorização do Grupo Nacional de Graduados.
«E deve, porventura, levar-se a mal que a mocidade se manifeste sem hesitação e sem excessos de prudência quando se lhe oferece um objectivo nobre?». Estas palavras, escritas pelo José Carlos quando exercia as funções do comandante do Corpo Nacional de Graduados, dão a medida da inflexível determinação e do desassombro com que sempre cumpria as missões que lhe eram confiados ou que ele a si próprio impunha para se realizar plenamente como homem de fé e de acção. Tão alevantados sentimentos já em 1954, aos 18 anos, o haviam impelido a oferecer-se, aquando dos incidentes de Dadrá e Nagar Aveli, a partir como voluntário para a índia. Mais tarde, depois de ingressar nos cursos especiais de preparação militar, serviu, como aspirante a oficial, nos regimentos de cavalaria n.º 7 e lanceiros 1.
Em 1960, e muito embora não lhe competisse a vez e estivesse com um pé fracturado, seguiu para a Guiné, onde, nomeado comandante do destacamento militar de Nova Lamego, evidenciou, com extraordinário vigor, aquele sentimento do dever, aquelas faculdades de decisão, aquele espírito de sacrifício e de simplicidade no viver que levaram, em impressionante, homenagem póstuma, o seu antigo comandante no regimento de lanceiros a dizer: «Ainda agora, a cada momento difícil da minha vida, estás perto de mim e, olhando a tua fotografia, existente na minha secretária, procuro, sob a tua inspiração, resolver os actos de comando, dentro dos princípios da honra, da justiça e do dever que, como em ninguém, estavam radicados na tua alma enorme de grande português».
Um seu colega de curso e companheiro na vida militar, bela figura da nova geração, escreveu que o José de Almeida era uma força da natureza, pela coragem e quase inacreditável resistência física, pelo inquebrantável poder da sua vontade, pela inteligência lúcida e esquematizada, pela fidelidade coerente e tenaz aos princípios que o norteavam, pela vivência estética do Mundo e multifacetada curiosidade intelectual, pela vastidão ordenada da cultura e gosto instintivo por todas as formas de compreensão e aproximação, enfim, pela sua personalidade vigorosa e sã.
Por tudo isto se compreende que o então governador da Guiné, hoje ilustre Ministro do Ultramar, houvesse por bem dar conhecimento ao Governo da repercussão generalizada e pungente que no meio teve a morte do José Carlos: «As autoridades, comerciantes e nativos logo acorreram ao quartel [...]; encerraram-se imediatamente todos os estabelecimentos comerciais [...]; a população aflui em grande número e durante toda a noite velou o cadáver [...]; uma verdadeira multidão incorporou-se no acompanhamento [...], e em todos os rostos se notava o grande pesar que sentiam por alguém que muito estimavam». Por tudo isto se compreende ainda que ele fosse condecorado a seguir ao louvor em Ordem do Exército, que o mostra «sempre votado ao culto dos mais altos ideais», o cita como «oficial brioso e aprumado, de viva inteligência, atento a todos os sentimentos nobres e a todos os ideais sãos, praticando com fervor as virtudes militares» e o aponta aos seus camaradas como exemplo de «grande dedicação à vocação ultramarina de Portugal» e como confirmação das «belas tradições militares da sua família».
O que se passou no aeroporto e na Estrela, em Lisboa, e na Guarda, onde o corpo do José Carlos ficou sepultado, foi também significativamente comovente. Assinale-se a coincidência de ter sido na Guarda que ganhou raízes e se desenvolveu a consciência patriótica e missionária do José Carlos. Seu tio-avô, o herói dos Dembos e o grande pacificador e administrador do Sul de Angola, levava-o, com frequência, a torre de menagem do castelo, onde, de modo especial, fazia perpassar, perante os seus olhos ávidos de grandeza, os feitos mais representativos da história da Pátria e lhe falava, com vibração e autenticidade, da vocação ultramarina de Portugal e das graves responsabilidades dela decorrentes.
Quem diria que, tão poucos anos volvidos, o José Carlos, rosário nas mãos e bandeira nacional a aureolá-lo, haveria de subir, para não mais descer, a cidade alcandorada nas alturas da grande serra beiroa. E lá ficou, bem alto, à sombra tutelar dos coruchéus da vetusta catedral, a ouvir, repetidas pelos ventos fortes da montanha, as histórias formosas que ali perto semearam na sua imaginação de pequeno e que ele dilatou com a sua vida, curta mas fecunda e magnífica, e com a sua morte ao serviço da Pátria.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: li algures que o alferes Ferreira de Almeida «foi o primeiro oficial a morrer em consequência das ameaças e ataques de que têm sido alvo as nossas províncias da Guiné e de Angola».
Depois dele, muitos outros, em combate ou em serviço, na defesa do território nacional tombaram para sempre, vítimas da criminosa guerra que nos é movida do estrangeiro.
Evoquemos a memória sagrada de todos eles e saibamos com a nossa presença activa nesta luta pela sobrevivência de Portugal merecer de quantos por ele se sacrificaram e