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3428 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 136

De resto, o estímulo da cultura vinícola e a promoção do interesse pelos vinhos de Portugal ainda, se conjugariam com:

A instituição de prémios para estudos de investigação histórica e sobre o valor alimentar e higiénico do vinho:
A divulgação de publicações onde se enaltecesse o o valor dos nossos vinhos, elucidando ainda sobro a «arte de beber» e o seu interesse para a culinária;
A organização de cursos especiais destinados a valorização profissional dos que se encontram ligados à produção, comercialização e consumo de vinho:
O estabelecimento de «roteiros do vinho» nos nossos circuitos turísticos e a conveniente publicidade dos mesmos u sinalização das respectivas estradas.

Assim, se os vinhos portugueses podem vir a ser um elemento de atracção dos estrangeiros convirá igualmente, e este é o último ponto que desejo salientar, que estes estrangeiros só transformem em elementos de propaganda dos nossos vinhos nos mercados externos. Para isso haverá que servi-los de forma a levarem do País vinícola as melhores recordações.
Esta última consideração aplica-se com grande, propriedade às conservas de peixe.
O País passou, nos últimos tempos, por alguns desgostos relativamente ao estado de conservas portuguesas exportadas. Mas há outro aspecto que nos deve preocupar: o das conservas que se vendem no mercado interno. Colhe-se, muitas vezes, a convicção de que Portugal consome o refugo da sua própria produção. Se persistirmos neste mau hábito, contribuiremos, além do mais, para que os estrangeiros que nos visitam levem daqui a pior impressão de um celebrado produto nacional.
E que dizer das frutas?
Vejamos o que se passa em Espanha. A laranja, por exemplo, ajuda hoje a compor os cartazes da atracção turística do país vizinho. Quem visita a região de Valência poderá recordar a feira de Julho, o teatro romano de Sagunto, a apoteose das falias, o Museu Nacional da Cerâmica, a pintura do retábulo de Frei Bonifácio Ferrer, do S. Bruno (Ribalta) ou do auto-retrato de Velázquez. Mas no fundo o ineditismo da huerta e da paella, e sobretudo o aroma e o perfume das laranjas da região valenciana perdurarão de forma a que ainda no sector das frutas se aceite o consagrado slogan de que «Espanha é diferente».
De facto, a superfície plantada de citrinos passou do 75 200 ha no período de 1931-l1935 para 105 100 ha em 1960-1961, donde um incremento de mais de 5 000 000 q na produção anual espanhola destes frutos
Quanto a Portugal, ainda há meses, em documento oficial, se denunciavam as grandes deficiências da nossa fruticultura: poucos pomares dignos de tal nome; persistência em plantio disperso ou promíscuo; vegetação de espécies desajudadas de cuidados de granjeio; flora frutícola pobre e desactualizada; baixa qualidade da produção; insuficiências no panorama fitossanitário.
Chega a parecer incrível que um país de tão reconhecida aptidão frutícola vegete em tamanho primarismo e desperdício de potencialidades.
Mas estas debilidades no sector da produção saem ainda mais agravadas numa comercialização que não existo ou num aproveitamento industrial que, à parte um ou outro sucesso, não nos permite, mesmo nos territórios nacionais, competir com a produção estrangeira.
Quando amanhã se desenvolver entre nós o campiny e o caravaniny, é natural que os estrangeiros procedam como já hoje acontece em Moçambique com os da África do Sul: que tragam de outros territórios todos os enlatados destinados à sua alimentação durante o período em que beneficiem do sol e do mar de Portugal e aqui deixem como única recordação as latas vazias das compotas que consumiram...
Nos guias turísticos salientam-se as variedades dos nossos queijos: «Queijo da Serra», «Queijo de Castelo Branco», «Queijo do Alentejo», «Queijo de Azeitão», «Queijo Cabreiro», «Queijo do Rabaçal», «Queijo de S. Jorge», «Queijo da Ilha do Pico», etc.
O incremento no afluxo de turistas trará ao nosso país gentes de regiões onde é notável o consumo de leite e seus derivados, pessoas que recorrem ao queijo com uma habitualidade que imporá, nos problemas de abastecimento, mais do que preocupações de qualidade.
Impõe-se, assim, por um lado, a valorização das especialidades tradicionais e, por outro, incrementar a produção, industrialização e comércio, de forma a abastecer convenientemente os futuros núcleos turísticos.
Ainda aqui serão oportunas as cooperativas. Talvez não seja despropositado recordar que, na Holanda, 85 por cento do seu apreciado queijo é fabricado em instalações do cooperativas.
Mas a metrópole deveria igualmente servir a propaganda dos produtos ultramarinas, através de um conveniente abastecimento aos turistas. E o caso do café, do chá, do cacau, da castanha de caju, das frutas tropicais.
Enaltecemos os Robustas de Angola e o Arábica de Timor. No entanto bebemos há anos na metrópole uma inacreditável chicória, como se lutássemos com grande escassez na produção de cafés.
Mas da «arte de comer» e da «arte de beber» passo agora à Arte, em sentido mais largo. Referirei sucessivamente, aspectos relacionados com o aproveitamento turístico dos valores culturais, a política de embelezamento nacional, e o turismo e a importância do artesanato para o turismo.
Não poderei dizer que os serviços oficiais do turismo tenham realizado aqui uma intervenção exaustiva ou esgotado o mundo de possibilidades que estes sectores oferecem.
No que respeita ao aproveitamento turístico das valores culturais será contudo de justiça dar conta: da adaptação de castelos e palácios a estabelecimentos hoteleiros; da obrigatoriedade de passagem, nos circuitos turísticos, por lugares históricos; da instrução dos guias-intérpretes com vista à divulgação dos nossos valores culturais; de algumas exposições artísticas; de espectáculos como o Som e a Luz dos Jerónimos, a exibição do Verde-Gaio em Alcobaça, o Auto do Descimento da Cruz na Semana Santa em Óbidos; da manutenção do Museu da Arte Popular; do Festival de Sintra, que vai na oitava realização; e dos Cursos de Férias Musicais, no Museu do Conde de Castro Guimarães, na Casta do Sol.
A política cultural alarga-se, de resto, a uma tal multiplicidade de sectores que seria aqui de desejar uma, eficaz coordenação na actividade dos vários serviços públicos e instituições privadas.
É indiscutível que a cultura e a arte constituem o principal cartaz turístico em alguns países.
Já há anos cerca de 70 por cento do turismo estrangeiro procurava na Bélgica as cidades de arte. É a sedução de Bruges, de Gand ou Antuérpia ...
A magia de Paris resulta de uma multiplicidade de atracções a que preside o espírito.