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3550 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 142

E eu acredito em que tenhamos dificuldades, designadamente por causa do tempo exigido pelo labor das raízes, o qual não se vê nem se avalia senão quando a árvore despede vulto e se desentranha na bondade dos frutos. Mas os Portugueses sabem esperar para vencer e vencer para progredir.
Tenho dito.

Vozes: -Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado. -

O Sr. Nunes de Oliveira: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: depois de ter ouvido com o maior agrado-a extensa e bem delineada exposição do nosso colega Dr. Nunes Barata, a quem endereço as minhas mais vivas felicitações, na apresentação do seu aviso prévio sobre o turismo em Portugal, reflecti bastante sobre se deveria subir a esta tribuna. O que seria possível dizer-se após um estudo tão bem cuidado e tão proficientemente elaborado?
Pensei no entanto não desperdiçar esta oportunidade que se me oferece para algumas breves considerações sobre dois aspectos referidos no aviso prévio e que, embora interessem a muitas regiões do País, se situam em plano de relevo no distrito que aqui represento.
Deter-me-ei, por conseguinte, .no que respeita ao artesanato e às estâncias hidrotermais.
São em quantidade razoável as indústrias caseiras típicas ligadas às actividades artesanais e que merecem ser acarinhadas. Aí desenvolvem o seu trabalho especialmente indivíduos do mesmo agregado familiar, com a colaboração de um reduzido número de operários, exigindo justificado realce as que se encontram instaladas nos distritos de Braga, Évora, Portalegre, Leiria e Viseu.
E já que penso situar-me fundamentalmente no distrito a que pertenço, representaria grave injustiça não citar antes dessa minha digressão bairrista, plenamente justificada, a bela cerâmica de Estremoz, Redondo, Viana do Alentejo e S. Pedro do Corval; os interessantes chocalhos e esquilaria de Alcáçovas; os tarros de cortiça de Azaruja; as artísticas e elegantes mobílias alente j anãs; as mantas de Reguengos, etc., tudo isso que faz do distrito de Évora, de entre outros encantos, um centro de artesanato da maior importância.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E ainda de referi a cerâmica de Nisa, das Caldas da Bainha, de Molelos, e a tão útil como delicada cestaria feita em várias regiões, fabricada com diversos materiais (vime, palma, ráfia, etc.), e tantos outros tipos que evito agora enumerar para não me alongar demasiado.
Constituem um caso à parte os famosos bordados da Madeira e dos Açores, cujas exportações atingem já anualmente a soma aproximada de 150 000 contos, dos quais apenas 20 000 contos se referem aos Açores, mas com possibilidades de poder ascender a um grau de desenvolvimento ainda maior, prevendo-se que com melhor ordenamento seja possível decuplicar o valor da exportação actual.
O panorama relacionado com o curioso sector do artesanato rural não é, infelizmente, auspicioso, apesar de louváveis tentativas feitas em alguns centros artesanais pelo Fundo de Fomento de Exportação e pelo Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo, que, prodigalizando auxílio de vária ordem, têm procurado, não só evitar o desaparecimento dos melhores tipos artesanais, mas promover ainda a sua expansão.
Entretanto, para pouco vale incrementar sem o estabelecimento de condições que permitam uma coordenação eficaz, por forma a salvaguardar o verdadeiro artesanato rural e a assegurar a sua comercialização e exportação, evitando que os autênticos artesãos abandonem a sua arte por falta de protecção que os compense do seu esforço e do seu trabalho.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Várias medidas se impõem para a defesa do artesanato rural. Parece-me que a primeira seria a criação de escolas artesanais, com a instalação de secções nos meios rurais onde se justifiquem, dependentes das escolas técnicas das respectivas zonas.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Desta forma estaríamos desde logo a concorrer para que o número reduzidíssimo de velhas e velhos artesãos que ainda existem não deixassem de transmitir a sua arte e os seus conhecimentos para que as peças que criaram não se extingam quando eles, pela lei natural da vida, desaparecerem. Assim, novos artesãos surgirão como fiéis depositários de uma tradição que por vezes vem de séculos e que caracteriza uma determinada região, ao mesmo tempo que se tornam aptos a promoverem novas criações, fundamentadas em temas peculiares da região, embora acompanhando a evolução das coisas e da época ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Por outro lado, a circunstância de essas escolas estarem na dependência das escolas técnicas concede aos artesãos, entre outras vantagens, maior facilidade no conhecimento e escolha da matéria-prima a utilizar e na forma mais conveniente de operar a cozedura das peças fabricadas, como acontece, por exemplo, com a cerâmica. E com isto se pretende sobretudo conseguir uma produção em melhores condições de técnica, para que os produtos resultantes se tornem facilmente exportáveis.
Evidentemente que não reside apenas neste aspecto a solução do problema, porquanto é do meu conhecimento que a Escola Industrial de Évora mantém um curso de olaria -com a duração de três anos- em Viana do Alentejo, o qual terá de ser encerrado a verificar-se a sua reduzida frequência de alunos.
Alguma coisa mais e de maior importância interessará fazer para estimular esses alunos, ou seja proporcionar-lhes posteriormente uma garantia e compensadora retribuição no exercício da sua profissão.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Tendo presentes as palavras de Sua Santidade o Papa Pio XII quando diz que «a pequena e a média propriedade, na agricultura, no artesanato e nos ofícios, TIO comércio e na indústria, devem ser garantidas e promovidas, assegurando-se-lhes as vantagens da grande empresa por meio de uniões cooperativas», também me parece considerar-se do maior interesse a formação de cooperativas nas regiões onde as potencialidades do artesanato nos aparecem mais vincadas.

Vozes:-Muito bem!