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11 DE MARÇO DE 1964 3545

orientação da política ultramarina, há que estender à comunidade portuguesa de além-mar os benefícios do sistema administrativo e da organização corporativa da metrópole.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não será este o objectivo último de uma nação constitucionalmente unitária, e corporativa?
Em resumo, só teremos realizado a missão ultramarina de Portugal quando tivermos uma política única para todo o espaço nacional - uma política portuguesa.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem !
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

Ordem do dia

O Sr. Presidente: - Continua o debate sobre o aviso prévio do Sr. Deputado Nunes Barata acerca do turismo. Tem a palavra o Sr. Deputado Armando Cândido.

O Sr. Armando Cândido: -Sr. Presidente: creio que a humanidade nunca viveu tão afogada em problemas como agora. Sociólogos, economistas, financeiros e políticos propriamente ditos adiantam as suas teses e assistem, as mais das vezes, ao embate das soluções por uns e outros requeridas. E de tudo se faz um problema. Tanto que nos velhos dicionários - velhos e dignos de serem manuseados com mão- diurna e nocturna, como diria o vernaculíssimo Camilo - parece não existir palavra capaz de abarcar os múltiplos aspectos em que se dividem as questões levantadas. Começou então a falar-se, e fala-se agora muito, de «problemática». Porque detrás de um problema está outro e de cada vez mais os problemas se sucedem e interpenetram, a ponto de constituir excepção o assunto que não se prenda com outro assunto e não reclame coordenação de esforços.
Não se arreceou, no entanto, o Sr. Deputado Nunes Barata da complexidade do seu aviso prévio, e com o senti infatigável espírito de trabalhador útil trouxe a esta Assembleia densa cópia de elementos para serem convenientemente ponderados, sendo, por isso, e pelas sugestões oferecidas, merecedor da plena confirmação do nosso apreço. Existem mesmo, no desenvolvimento das suas largas considerações, pontos de muito interesse, que por si só se recomendam à atenção superior, pelo que estou pessoalmente convencido de que serão atendidos, ainda que tenham de sujeitar-se aos irremovíveis limites das nossas possibilidades.
Aludi ao risco de não podermos isolar os problemas, para os tratar e resolver em separado. Vejamos, por exemplo, a matéria em discussão.
Haverá o problema do turismo sem problemas dele emergentes ou com ele articulados ou a articular?
«Turismo» não é vocábulo nosso. Mas está internacionalizado e desdobra-se em vários ramos. Qual deles convirá mais aceitar e desenvolver? O turismo externo, passivo ou activo? O turismo interno? O popular ou o de elite? O social? O juvenil? O que se interessa só pelas práticas desportivas? O que busca o sortilégio das águas termais? O que se apraz unicamente em ser romeiro da natureza?

O turismo vinícola - também referido pelo Sr. Deputado Nunes Barata? O que parte em demanda das frutas deliciosas e das curiosidades gastronómicas? O que
procura expressões de arte, ou o sossego dos lugares ermos, ou as diversões ruidosas, ou o pitoresco dos costumes?
E bastaria toda esta diversidade para tornar difíceis a indagação e a resolução aos que pretendam enfrentar, com o seu zelo de dirigentes, um problema tão gerador de problemas, uma vez que as predilecções dos visitantes têm as suas exigências, e para as satisfazer importa mobilizar energias e recursos em muitos sectores da vida nacional, alguns deles nem sempre habilitados, devido a circunstâncias de maior premência, a darem o seu contributo.
Seja como for, a verdade é que poucos serão, no mundo de hoje, os que se limitam a exprimir - como VI declarado algures - que desejariam empregar toda a sua vida a viajar, se lhes fosse consentida uma segunda vida para viverem em casa. A força dos homens o que quer é o céu por cima da cabeça deles e caminhos abertos a seus pés - tal qual li não sei onde, a propósito de outro tema. E o turismo - o turismo, na amplidão do seu significado e na multiplicidade das suas incidências - não é só uma realidade poderosa, mas uma realidade crescente, que tem de ser estudada e aproveitada sem desperdícios de tempo nem retracção das ajudas possíveis.
Sr. Presidente: a primeira condição que o turismo externo exige é a de existir paz nos países a que só destina. E essa condição basilar - a paz interna resultante da boa estabilidade política - não nos tem faltado, não devendo contar para o efeito, como é evidente, as restritas alterações que em determinadas fronteiras do nosso além-mar alguns perturbadores estranhos têm provocado e não desistiram ainda de provocar, apesar de termos demonstrado e continuarmos a demonstrar os mais exemplares processos de fraterno convívio, o que deveria mesmo constituir objecto de interesse susceptível de despertar uma. espécie de- turismo de observação imparcial, muito benéfico para os participantes e para nós dado o conhecimento, por parte daqueles, de uma verdade que carece de ser espalhada- no Mundo, de modo a frutificar, pelo menos nas almas dos mais conscientes e dos mais responsáveis.
Custou muito a estabelecer esta paz interna e muito mais teria de sofrer o País se os Portugueses não compreendessem que só assim, unidos na sua- razão, conseguiram vencer as dificuldades passadas e estarem preparados para dominar as presentes e as que vierem. Por isso, cada qual deve ter bem presente a necessidade, primordial - essencialíssima - do seu esforço sempre directo e sempre constante para a manutenção dar paz adquirida e dignamente sustentada.
Tumultos, greves e assaltos, diferendos entre homens que deveriam dar-se as mãos para viverem na mesma lei. com inteligência aberta á mútua compreensão e em clima propício às justificáveis tarefas do progresso, é o que infelizmente abunda, designadamente entre os que mais de perto pretendem ditar-nos ou impor-nos normas estranhas à nossa consciência de povo civilizador e com direito a ser respeitado pela sua longa e frutuosa experiência histórica.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Assim, e pelo mais, não devemos perder o bem que alcançámos, por constituir factor indispensável a todos os empreendimentos, sem excluir o de chamar até nós os estranhos, para que levem na alma e no coração tudo o que lhes pudermos oferecer em beleza, tranquilidade e conforto.