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28 DE NOVEMBRO DE 1964 3915

O Orador: - Ainda neste caso o Governo Trabalhista teria de responder às solicitações da sua opinião pública.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E ainda a propósito deste ponto gostaria de saber as verdadeiras razões que levaram, o Governo Trabalhista a acabar por ceder à República da África do Sul os aviões Bucancer.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Finalmente, nós sabemos, o Mundo sabe, que nas grandes linhas do partidarismo britânico existe a ideia dominante de que a propaganda eleitoral, no que respeita à política externa, se faz de acordo com a política do partido, como é natural, mas uma vez que o partido passa a governo, as realidades da vida internacional o levam a ceder ou mesmo a abandonar alguns aspectos das directrizes políticas que a paixão eleitoral ou o desconhecimento de alguns dados importantes do problema obrigaram a traçar.
Por isso, tenho esperança de que o Governo Trabalhista, sobretudo depois de ouvir a opinião dos seus cinco partidários que recentemente visitaram as nossas províncias ultramarinas de Angola e Moçambique, possa melhor aperceber-se das razões que nos levam a considerar Angola, Moçambique, S. Tomé e Príncipe, Guiné, Cabo Verde, Macau e Timor como províncias portuguesas e, consequentemente, com o direito de as defender, por serem nossas. E assim há-de ser até ao limite das nossas possibilidades, com ou sem autorização do Governo Trabalhista.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: Quando cada um de nós pensa na situação do Mundo actual, ficamos desorientados ao procurar encontrar uma lógica de pensamento e de atitudes nos responsáveis pela condução do Mundo. Para lá da «cortina» tudo parece lógico, porque tudo parece obedecer a uma directriz comum; para cá dessa «cortina» os atropelos são constantes e a mudança de rumo nas políticas e nas atitudes são frequentes: a América ajuda o Japão e o Japão não gosta da América; a França, ajuda a Argélia e a Argélia está constantemente a trair a França: a Inglaterra deseja a independência progressiva, das suas antigas colónias, mas quando uma delas quer fazer a sua independência a Inglaterra não quer.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - No que a nós respeita, e só para falar em aspecto relacionado com a razão de ser desta intervenção, faz-me confusão, não entendo, que um país negue a outro país legitimamente constituído, organicamente estruturado, com uma missão que a história lhe entregou e as realidades dos nossos dias impõem, a possibilidade de se defender de ataques terroristas e que, em contrapartida, consinta que agenciários seus forneçam a- esses terroristas, que não são mais na estrutura das nações do que agentes do mal, da desgraça e da desordem, as armas que necessitam ... e que possam pagar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não entendo, Sr. Presidente.
Muito obrigado, Sr. Presidente.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Lopes Roseira: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Está para breve um acontecimento do mais alto e brilhante significado na vida do agregado nacional: o congresso das comunidades portuguesas espalhadas pelo Mundo. E é à benemérita Sociedade de Geografia de Lisboa que ficará cabendo a honra de tão feliz inspiração.
Entendi, por isso, que uma tal afirmação, concreta e válida, da presença de Portugal no Mundo não devia ser silenciada nesta Assembleia. Menos qualificado do que qualquer dos ilustres colegas para dar a merecida relevância ao empreendimento a que patriòticamente se devotou a benemérita Sociedade de Geografia de Lisboa, seja-me permitido, no entanto, que aqui deixe exarada modesta nota de registo, a provar que a brilhante iniciativa não nos foi indiferente. E quem pode ser indiferente à delicada, à amorosa, tarefa de reunir nesta capital, em congresso, os portugueses que se apartaram do seu rincão natal e, correndo as sete partidas do Mundo, foram aplicar as suas actividades em terras de outras gentes?
Este pretexto de pura demonstração de fraternidade e de amor pátrio nunca enfraquecido penso que não será por ninguém incompreendido e desvirtuado. Não sei em que medida terá o Governo animado, acarinhado e auxiliado esta iniciativa magnífica, de que hão-de brotar frutos surpreendentes, por nunca sonhados. Também, a tal respeito muito pouco tem sido divulgado publicamente. Se bem que não me pareça isso a melhor maneira de se dar repercussão a um empreendimento de verdadeiro interesse nacional - que o é na sua exacta e real dimensão -, também penso que não é pelo silêncio que se diminui a relevância de uma iniciativa que, por sua natureza, já é relevante. Impõe-se de tal modo, pela sua dimensão e alcance, que excede o de qualquer dos congressos realizados em terra portuguesa e dispensa que para ele chamemos as atenções do Governo.
Nascido de uma instituição apolítica, o Congresso das Comunidades Portuguesas, não visando directamente objectivo político, há-de, fatalmente, ter repercussão política, que não deixará de ser benéfica a todos os títulos. E a razão é simples.; a maioria daqueles que, numa demonstração de boa vontade, visitam episodicamente a Mãe-Pátria, emigraram em idades pouco amadurecidas para terem Levado e Conservarem uma ideia clara e ajustada do valor global da vida do País. Chegados agora, volvidas algumas dezenas de anos, e depois de haverem alcançado e consolidado posições de considerar nos países que elegeram por segunda pátria, estão, à custa da experiência vivida e da isenção de espírito resultante de nova mentalidade criada, estão, como vinha dizendo, em condições de ver e avaliar desapaixonadamente os diversos aspectos da vida nacional, por comparação com o que deixaram no tempo de emigração. E sem querer insinuar, vão com certeza encontrar algumas realizações que constituem título bastante para acreditar um sistema de governo. Os seus juízos, portanto, porque não são de estrangeiros a quem o obséquio dos banquetes e passeatas força à lisonja, terão para nós, que vivemos sob a influência do próprio meio, o valor das confissões sinceras de membros de nossa família, podendo, por isso, ser de grande utilidade.
Sinto-me comprazido em fazer esta despretensiosa referência ao Congresso das Comunidades Portuguesas, por um lado, porque o alto significado nacional que encerra espicaçou o meu sentimento patriótico e, por outro lado, porque posso pôr à prova, mais uma vez, a minha capacidade de livre determinação e o meu poder de dissociar dos homens as ideias, para abraçar e repelir estas e continuar, na ordem social, a respeitar e a considerar