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13 DE MARÇO DE 1965 4531

1.º Povoamento cinegético

O número de caçadores multiplica todos os anos.
Mas cada vez esta legião depara com menos caça e mais magros resultam os trofeus obtidos.
Os poisos, cantões, refúgios, matos e lugares onde a caça se acoutava dantes, estreitecem e diminuem, cortados e perturbados pelo automóvel, pelo avião, pelas máquinas e casas, pelos fios eléctricos e pela expansão demográfica e urbana.
Onde se notava abundância verifica-se agora escassez e correspondem falhas.
Os biólogos e os escritores anotam as espécies que desapareceram e também as que se supõem condenadas dentro de pouco.
As artes dos caçadores ilegais progridem e dizimam.
Assim, o homem encontra-se perante uma Natureza brava que contrai, ao passo que ele próprio se desenvolve.
E como a vontade esclarecida pelo estudo a pela técnica se propõe lutar contra os antagonismos dal Natureza para os suplantar e vencer, o mesmo homem procura travar a obra destrutiva e, pelo seu engenho, preparar as faltas e melhorar a situação.
Quando não os animais bravios e a sua caça têm os dias contados.
Uma actividade que, desde os primórdios de viver colectivo, assegurou ocupação, exigiu esforços e obteve resultados não pode perder-se como inútil ou superfluidade.
Eis porque o problema se reveste de importância e avulta agora a sua faceta de património nacional.
Mais que um entretenimento saudável, uma (escola de ar puro, uma evasão das preocupações urbanas, uma desintoxicação, a caça propõe-se, na economia nacional, como fonte de enriquecimento e de atraimento alheio.
Instrumento civilizado de elevação social em vez de libertar instintos primevos, a caça pode entrar-se do lado do desenvolvimento e de princípios expansivos sem ter que buscar, para seu remédio, novos liames e apertos jurídicos que ditem o comportamento dos caçadores perante horizontes vazios.
Em vez de regulamentação das actividades venatórias julga-se preferível um estatuto de novos primeiros e meios sobre o repovoamento cinegético.

2.º Exercício salutar

todavia.
Muitos escritores conferiram à caça o título de rainha dos desportos, pondo em evidência, no seu exercício, trabalhos e porfias, imprevistos e façanhas sofridas que não invejam os esforços, penas e consequências das restantes culturas físicas.
D. João I, rei de Portugal, no magnífico Livro da Montaria, publicado pela Academia das Ciências Coimbra, 1918 (pp. 3 e seguintes), dando-a como proveitosa e de inultrapassável bondade pelas suas manhas, compara-a aos demais jogos, exercícios e distracções para os suplantar.
Compara-a ao xadrez e a outros jogos dei tabuleiro, à péla, à dança, a música, aos exercícios de salto e luta, às corridas e estafetas, ao arremesso de lanais, ao exercício de braço, facha e espada, às festas e treinos.
Por fim procura demonstrar que «o jogo de andar ao monte he melhor que todollos outros joguos pera recrear o entender, e também a correger o feito (...), mais que todollos outros que pera isto foram aleuantades» (p. 15).
E acrescentava « o joguo de andar ao monte guarda o feito das armas por que se nom perca» (p. 21)

3.º Adestramento militar

A caça sempre foi concebida como um preparatório da arte militar e uma inclinação pelo exercício das armas.
(Mestre André Resende, na Vida do Infante D Duarte (Academia Real das Ciências, edição de 1789, p. 21) conta que este, respondendo à observação de um censor que o admoestava de seus exageros, nos termos seguintes afirmara.

O mal poderão os homens sofrer o exercício militar, quando a honra e necessidade os constranger, se desda mocidade senão avezarem ao cansaço, vigília, calma, e frio, este laborioso exercício da caça e montaria he huma imagem da vida militar, e quasi sombra da guerra em tempo de paz, com que os membros enrijecem e se fazem habiles para soster o pezo das armas, e não desmayarem quando nos trabalhos militares se acharem.

4.º Descontracção e alívio de pesares

Outros fazem avultar os seus efeitos psicológicos de distracção saudável, pondo em evidência as benéficas consequências temperamentais.
É assim que o mais famoso dos nossos escritores de volataria em altura, Diogo Fernandes Ferreira, moço da tâmara de el-rei, por duas vezes o salienta na sua Arte da Caça de Altaneria (edição de 1899, I, p 24, e n, p 142)
Sobre o exercício da caça escreve primeiro.

É alivio de cuidados pesados, mãe de altos pensamentos, é finalmente um toque no qual se conhece o para quanto cada pessoa seja.

E quase no fim do seu volume de dois tomos.

E assim os senhores a esta arte afeiçoados silo liberais, cheios de grandes e altos pensamentos.

5.º Fonte de abastecimento alimentar

Mas é mais faz parte da mesa bem provida e sem desdenhar os pobres.
Encontramo-nos ainda num diverso plano - o nosso - em que a exploração da terra e a alimentação das grandes massas se surpreendem ainda distanciadas sem haver um esforço construtivo pronunciado e capaz de unir os dois sectores numa perfeita intimidade.
Alimento imemorial, regalo das culinárias, primor das mesas, a caça, quando em abundância, facilita o abastecimento e consumo e melhora-o qualitativamente
Os mercados citadinos e provincianos encontravam-se dantes, nas épocas de licença, perfeitamente abastecidos, o que agora já não sucede.
Os excedentes dos coutos, as colheitas dos angariadores, a actividade dos profissionais, lograva fornecer quantidades suficientes aos mercados das vilas e cidades.
Está-se, porém, evoluindo da abundância dos mercados para a escassez, para a raridade e, como consequência, para os preços inabordáveis, na altura
O que dantes era frequente na maioria das cozinhas e comedoiros começa a ver-se, donde em onde, como se fruto exótico ou manjar precioso fosse apenas Os grandes mercados falham ou contraem e, em cidades enormes como Lisboa, apenas algumas lojinhas respondem em último caso à procura crescente.