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20 DE JANEIRO DE 1967 1049

As autoridades indianas dispensaram os manifestantes com gases lacrimogéneos.
De qualquer maneira, o resultado da consulta popular, conduzida pela própria União Indiana e por métodos que lhe são peculiares é uma primeira indicação da vontade dos Goeses dentro das duas opções que lhes foram propostas. Mas se acaso lhes fosse permitido, eles desafiaram a União Indiana a deixar realizar uma consulta com o fim de indagai se desejam permanecer dentro da União Indiana ou fora dela, e nenhumas dúvidas tenho. Sr. Presidente e Srs. Deputados, em afirmar que os Goeses, Damanenses e Diuenses em peso optariam pela liberdade que lhes é negada pela força brutal de uma potência que não sabe respeitar nem a lei nem a moral.

Vozes: -Muito bem, muito bem !

A Oradora:-Para terminar é desta Câmara representativa que desejo manifestar o nosso grande apreço pelas provas que acabam de dar os nossos compatriotas de Goa, Damão e Diu, compartilhando com eles essa natural alegria, que afinal, é a alegria de todos nós.

Vozes: -Muito bem, muito bem !
A oradora foi muito cumprimentada

O Sr. Mário Galo: - Sr. Presidente, prezados colegas. Vou ocupar-me de um assunto que a qualquer de nós será grato focar - e que, se todos o focássemos, cada qual por seu aspecto, suponho que não o esgotáramos, já que se pode dizer que se trata de um assunto multifário por excelência. Refiro-me à conhecida e benemerente Fundação de Calouste Gulbenkian.
É já no próximo ano de 1968 que se passa o centenário do nascimento de Calouste Gulbenkian - uma efeméride que não podemos deixar de considerar notável referindo-se, como se refere, a uma personalidade ela própria indiscrepantemente notável. Ora bem me parece - e terei sem dúvida, aplauso unânime quanto à, ideia- que há que celebrar esse centenário a toda a altura das circunstâncias, olhando Calouste Gulbenkian quer como homem do Mundo que honrou o Mundo, quer olhando-o como homem que viu em Portugal o país eleito - portanto, honrando Portugal - para os seus últimos dias de vida e paia o começo mais concreto, ainda que sobretudo espiritual, de uma outra vida essa na memória de todos nós através de uma linha monumental de benemerência tornada possível pela conduta memorei que levou na sua vida física - linha monumental de benemerência, sim, considerada dos mais variados ângulos.
A gratidão que Portugal tem de demonstrar - correspondendo à própria gratidão que Calouste Gulbenkian demonstrou por nós- e que Portugal, dizia, tem de demonstrar no ano que vem por foi ma especial - e até outros países o terão de fazer -, acontece que ela, gratidão nossa, como que tem uma repartição de fina espécie quanto, pois, principalmente ao caso português.
Devida ao homem, Calouste Gulbenkian, por ter escolhido Portugal paia aqui se vir a instalai, pelos bons desígnios da Providência um centro polarizador e ao mesmo tempo madiante de ideias e benefícios a prazo curto ou longo - benefícios e ideias da mais emocionante polivalência.
Devida, essa gratidão nossa, à circunstância de, podendo Calouste Gulbenkian ter-se encaminhado para outro país que não o nosso - pois outros havia ainda em paz, embora longe da Europa -, ter preferido Portugal para se afastar dos males de que tantos e tantos milhares de pessoas estavam a fugir,

evida, também, essa gratidão de todos nós, a circunstância de esta ponta mais ocidental da Europa, que o Portugal, estar então como hoje, felizmente, em
condições de incitar tantos e tantos foragidos a virem até cá, esperando melhores dias para regresso às pátrias de origem, passados que fossem os trágicos dias dos anos de 1939 a 1945,
Gratidão nossa ainda à circunstância de Calouste Gulbenkian ter encontrado entre nós um outro homem de subida categoria - o Dr. José de Azeredo Perdigão - que soube rodear os últimos anos da vida daquele - os anos que passou em Portugal - do sentimento de agrado pleno e de reconhecimento a Deus e aos homens pela paz em que acabou os seus dias - um ano após ter também expirado nessa beatífica serenidade a sua mulher, D. Nevarte Gulbenkian - paz, tranquilidade, serenidade que lhes tinham fugido nesses tempos de tragédia que imediatamente precederam a sua vinda para terras portuguesas e que só anos depois retomariam a terras dessa Europa além.
Sr. Presidente, prezados colegas. Não me deterei na consideração de quantos benefícios a Fundação Gulbenkian já espalhou, sob a égide do seu patrono, por tantas instituições nacionais e estrangeiras - a par de os empregar também em várias instituições de índole múltipla que directamente mantém. Isso seria tarefa de que nunca mais me desempenharia, tão vasta tem sido essa obra de benemerência - bastando que se saiba que na inspiração da Fundação esta a cláusula 10.ª do testamento de Calouste Gulbenkian, dispondo, como bases essências da benemerência a realizar.
b) Os seus fins são de caridade, artísticos, educativos e científicos,
c) A sua acção exercer-se-á não só em Portugal, mas também em qualquer outro país onde os seus diligentes o julguem conveniente

De como a vontade de Calouste Gulbenkian tem sido cumprida fartamente a imprensa portuguesa e estrangeira a tal se tem referido com o realce devido a obra de tanto alcance no valor e no espaço e ainda no tempo. Por isso pois não me deterei nessa enumeração exaustiva de benefícios distribuídos pela Fundação Gulbenkian, apenas nesse capítulo me cumprindo expressar admiração pelo volume e pela qualidade da actuação do seu conselho de administração composto de tão distintíssimas personalidades de todos conhecidas. Aliás se mais não houvera em vontades fragmentárias manifestadas de qualquer maneira pelo patrono da, Fundação e que o mesmo conselho cumpriu religiosamente - e cumpre ainda - , bastante o enunciado daquelas duas alíneas da cláusula 10.ª do testamento paia se ter noção completíssima do vulto da Fundação nos seus fins, sem esquecer que os seus meios correspondem inteiramente a tal vulto, e isso o aponta alguém quando diz que as fortunas famosas dos Fugger, dos Rotschild e dos Morgan talvez fossem mais volumosas do que as deixadas por Calouste Gulbenkian à sua Fundação - mas não as formou fundamentalmente e as guiou um só homem e nem tiveram o singular destino dos bens de Calouste, esse homem fascinante que, pelo testamento que firmou, quis retirar esses seus bens do "privatismo", dando-lhes um destino social de inconfundível porte.
E passo então ao ponto que desejaria focar, trazendo-o para esta Casa da representação nacional, pois julgo não se lhe poder dar mais elevada moldura (sem desconte-