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20 DE JANEIRO DE 1967 1053

Este ensino abrangeria desde os primeiros graus de preparação agrária ate à formação de regentes agrícolas.
Parece de maior interesse e de primeira prioridade a execução gradual deste plano já instituído por lei, pois de outra forma de pouco serviria uma legislação sem dúvida perfeita se não se lhe seguisse a efectuação prática.
Nos momentos difíceis que a Nação atravessa e em que é legítimo exigir o sacrifício e o esforço total dos seus filhos, é altura própria para arrancar em todos os campos.
E este, mais que nenhum outro, está nos próprios alicerces de qualquer política de valorização, ocupação e crescimento.
Insisto neste ponto, não por espírito de crítica fácil, sempre cómoda, mas com o objectivo de alertar e colaborar.
Temos a estrutura jurídica adequada, temos com certeza os homens à altura de a executar. Minguam, é certo, os meios de acção, mas não podemos pretender que todo o imenso edifício do futuro da Nação se possa obrigatoriamente confinar às disponibilidades normais das receitas públicas ordinárias. Trata-se de fomento e, portanto, estamos perfeitamente integrados na doutrina que antecede e justifica o decreto que publicou o Orçamento Geral do Estado para 1967.
Não estamos de facto trabalhando apenas situados no presente. Aliás, o presente é o minuto fugidio entre o passado e o futuro.
A formação dos quadros primários para uma racionalização agrária é a condição de força para qualquer tentativa de povoamento. Não podemos começar pelo fim ou pelo meio. Há que começar pelo princípio, e não estamos em situação de perder tempo.
E ainda a defesa do património nacional que o exige defesa essa que tanto se faz de armas na mão como vergados sobre a terra e a máquina e guiados pelo conhecimento inteligente.
Outro ponto é a animação rural, cuja criação já por várias vezes me tem ocupado, pois que acredito na sua utilidade.
A animação será a preparação de homens conscientes, de agricultores, que vão ficar agricultores na sua pequena comunidade rural, sem outra vantagem que não seja a formação que receberam e que vão partilhar com os seus vizinhos. Não serão agricultores-pilotos, nem agentes privilegiados da Administração. Permanecerão membros da sua comunidade.
Obteremos assim homens escolhidos, ensinados e mentalizados em centros de formação mas que voltarão a ser integrados no seu meio rural. Pelo seu exemplo e poios resultados que obtiverem nas suas próprias culturas, promoverão à sua volta um movimento de curiosidade e depois de imitação e mais tarde de compreensão, que levará progressivamente a sua pequena comunidade a uma produção racional e à escolha de melhores métodos.
Não provocará desconfiança nem resistência. Será um método natural de promoção sócio-económica.
É indispensável obter-se uma mudança de atitude por parte do autóctone mas essa mudança é mister sei conseguida em profundidade. É preciso que seja ele próprio a desejar o seu desenvolvimento, a aderir voluntariamente e a consagrar as suas forças ao trabalho útil.
Pelo conjunto de animadores, que vão ser informados e alertados (ia dizer acordados) durante os seus estágios a animação vai incitar o mundo rural a tomar consciência de si próprio, das suas possibilidades doa seus recursos e a entrar livre e profundamente no caminho do desenvolvimento.
O sistema pode funcionar de várias formas, mas já há experiências com bons resultados nalguns territórios subdesenvolvidos da antiga África francesa.
Segundo o economista Grulio Fossi, um dos problemas dos países subdesenvolvidos, e em particular das zonas rurais desses países, é que as novas preocupações do Estado nos domínios económico e social são mal compreendidas por parte da população. O Estado para eles é ainda aquele dos séculos passados, que exercia essencialmente três funções: manutenção da ordem pública, administração da justiça e, sobretudo, colecta de impostos. Nos tempos mais recentes as populações viram um outro aspecto do Estado o de grande construtor de estradas, barragens, canais de irrigação e também fabricas.
Mas não compreenderam, e, aliás, talvez não lhes explicassem, qual a relação entre eles e esses imensos investimentos.

A animação rural será ainda.

Tomada de consciência pala população das suas possibilidades paia o seu próprio desenvolvimento e para o da Nação,
Participação neste desenvolvimento,
Estruturação desta participação

A promoção humana ultrapassa largamento o quadro social, cultural e político no qual há a tendência de a querer limitar e revela-se em definitivo um fruto poderoso do progresso económico.
Nem todos estes pontos podem evidentemente ser satisfeitos de jacto, nem com as receitas ordinárias dos magros orçamentos provinciais.
Resta-me ditar se a grandiosidade do empreendimento não justificará uma distribuição do ónus por mais de uma geração, já que o proveito social e económico, e nacional dos resultados virá beneficiar as gerações vindouras.
O que não me oferece dúvida é que sem uma intensificação do esforço total neste sentido, ou seja, elevar para a participação activa no desenvolvimento a maioria da população autóctone, até agora quase a ela alheia serão vãs as tentativas de um povoamento intensivo tão fundamental como desejado de Moçambique por gentes oriundas da metrópole.
Nós, Portugueses, podemos à vontade abordar com fina objectividade estes problemas que nos preocupam.
Na verdade apesar de todas as nossas carências o nosso ultramar marcha muito na vanguarda de todos os territórios independentes ou pseudo-independentes da chamada África negra ou Segunda África qualquer que seja o aspecto que se encare liberdade, educação, nível de vida, paz, progresso ou bem-estar social. E isto, apesar de todos os auxílios em pessoas e em bens que a cegueira de países responsáveis lança em amontoada abundância sobre aqueles povos afundados ainda na mais profunda e obscura inquietação tribal.
E porque temos consciência da nossa missão, da nossa mística e da nossa civilização, não necessitamos esconder seja o que for.
A grandiosidade da obra a prosseguir, os riscos a correr, os passos a emendar, a tarefa de criar com sacrifício, suor e sangue só nos servirão de estímulo para andar melhor e mais depressa.
Esta tem sido a nossa política e ela permite-nos manter a cabeça erguida no tumulto das paixões e dos interesses não confessados dos grandes países, como dos pequenos estados bárbaros e semi-selvagens.
Quero mais propriamente referir-me ao povoamento.