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1166 DIÁRIO DAS SESSÕES N." 64

Quantas vezes o reconheci e, como atenuante, ofereço o nunca ter deixado, nestes casos, de fazer o mea culpa.

Porque muito me debrucei sobre o problema da fixação do agricultor nativo, julgo meu dever vir produzir perante esta Assembleia o meu depoimento, na esperança de que possa contribuir, ainda que com modesta achega, quanto possível objectiva, para a solução do problema.
Até por formação profissional, concordo inteiramente com o ilustre colega Dr. Nazaré quando diz que, ao falar em evoluir "a primeira tarefa que se impõe e a definição do sentido a imprimir às mutações possíveis" (Na marinha soltar o rumo).
Já não o acompanho porém, na sujeição aos "políticos e etnólogos" da revisão ou confirmação da nossa política de assimilação, e isto por a considerar "transitada em julgado".
Que possível revisão admito uma política baseada na directiva secular, dada pelos reis de antanho, de "ide o fazei cristandade"?
E, fazer cristandade não era dar aos povos que íamos descobrindo a nossa fé, a nossa língua, os valores morais mais preciosos que possuíamos o ficar obrigados para com eles a "amá-los como n nos mesmos", como comanda o mandamento fundamental da lei de Deus?
Houve erros, desvios? Certamente. Mas qual a obra humana, isenta deles?
No juízo dos povos que é juízo de Deus transitou em julgado esta nossa política de assimilação.
Saímos da Malaia há séculos, mas o dialecto feito da mistura do português com as línguas nativas ainda hoje é chamado "falar cristão".
E este mesmo julgamento repete-te em nossos dias. Para não fatigar VV Exas. com exemplos, vou limitar-me a um único, particularmente significativo pela multiplicidade e diversidade dos intervenientes.
Há uns doze anos a equipa de futebol do Sporting Clube de Portugal foi jogar a Lourenço Marques e, no regresso, disputou em Joanesburgo um desafio com a selecção do Transval.
A um quarto de hora do final, o Sporting perdia por 1-4. Subitamente, o Sporting agigantou-se e em seguida fez 2-4 3-4 4-4 e no último minuto 5-4!
Assistiam ao desafio milhares de indígenas portugueses, das mais variadas tribos e dialectos desde o ajaua do Lago até ao landim do Lourenço Marques.
Durante todo o desafio, sofreram com a posição subalterna do Sporting, mas foram-se animando com o crescer deste, até que, com o golo da vitória, irrompeu uma explosão daqueles, milhares de indígenas, gritando bem da alma Portugal! Portugal!
Não se compreendiam entre si nos respectivos dialectos, mas tinham no coração um sentimento comum e uma palavra comum para o expressar Portugal!
E mal o árbitro dá o apito final, descem em torrente num delírio de exaltação, ignorando passagens ou recintos reservados a brancos e tomam aos ombros a equipa do Sporting perante a polícia pasmada, esquecida dos regulamentos do aparthcul!
Contou-me isto um amigo estrangeiro que acrescentou "Havia tanta sublime grandeza na comunhão de sentimentos daquela multidão que me vieram as lágrimas aos olhos". Confesso que ao ouvi-lo narrar o sucedido, os meus também não estavam enxutos!
E este juízo nos deve bastar.
E quem haveria de julgar da nossa política de assimilação?
Os novos estados africanos, dominados por minorias desafricanizadas em longos estágios preparação nos países além da "cortina de terror"?
Minorias dominadas pelos delegados políticos de Moscovo, Pequim ou de Cuba, como no Congo do Biazzaville, que esmagam e expulsam as elites autenticamente africanas como as que apoiavam Tchombé e o abade Youlou, ou as chacinam, como sucedeu em Zarizibar?
A O N U onde a maioria das nações ocidentais dá o seu subserviente ámen àquelas minorias que três vezes por semana, numa caricatura de julgamento nos condenam por constituirmos uma ameaça à paz?
Não! Para mim, basta-me o juízo das populações do nosso ultramar.
De resto, mesmo sem o juízo dos "etnólogos ou políticos, o ilustre colega Dr. Nazaré marcou claramente a sua concordância.
Eu não direi que está certo. Antes digo que se está em erro, compartilho deste por convicção arreigada há muitos anos.
Perdoem-me VV Exas. que me transcreva, mas não posso de outra forma comprovar esta última afirmação.
Há mais de 30 anos escrevi, sobre o império colonial português e seus objectivos, quanto as populações nativas.

Podemos, pois, definir os objectivos da nossa política imperial enquadrar no império a massa indígena tomada consciente e que embora africana de raça, seja portuguesa pelo espírito.

E mais adiante, quanto à forma de enquadrar no império a massa indígena.

Trazer os indígenas à colaboração o mesmo é dizer valorizá-los, moralmente, para os elevar da sua barbárie à nossa civilização, economicamente, para que possam suportar os encargos que lhes, toquem o usufruir os benefícios materiais correspondentes aos sucessivos, graus que forem atingindo na escala da civilização.
As valorizações moral e económica do indígena tem de caminhar a par.
Se predomina a primeira, criam-se revoltados por não poderem satisfazer as necessidades que lhes criámos.
Se predomina a segunda, a melhoria material será empregada na satisfação de necessidades inferiores, ou melhor, do hábitos inferiores, que os acorrentarão a sua barbárie.

E continuava.

Esta obra, longa de gerações e delicada de execução, tem de ser realizada por etapas.
Não esqueçamos isto e não ignoremos os imponderáveis.

ão nos deixemos arrastar à utopia do pretender fixar rigidamente a, senda a seguir.

E concluía

Nesta rápida resenha vimos, os, pontos fracos, vimos quanto a "realização" está atrasada em relação à "concepção".
Temos de acelerar febrilmente a obra do império para estarmos preparados para as eventualidades que possam surgir.

Portanto, quanto a mim, não há que rever a nossa política haverá, sim que reprimir, e cada vez com mais