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1170 DIÁRIO DAS SESSÕES V.º 64

O Orador: - O que o País, agora se atrasa, perdendo em tempo, não é recuperável, mesmo que pudéssemos dispor de recursos materiais ilimitados -o que está muito longe de ser o caso - ou de capacidade de organização numa normal - o que será de desejar.
Lutamos por almas. A tarefa basilar é, antes do mais, a de aportuguesarmos cada vez em maior profundidade as massas ultramarinas através do povoamento. Tudo o resto -ocupação, desenvolvimento económico, educação etc. - serão meios indispensáveis, instrumentos sem os quais nada se fará, mas o escopo, o fim último o ómega do estorço, tem de ser aquele aportuguesamento, tão completo quanto o possamos, de mais de 12 milhões do cidadãos.
É, na sua singeleza, o imenso desafio a que temos que responder perante a história e perante o futuro. Sem o fazermos, estamos a colocar-nos em situação de responsabilidade única em face das novas gerações, porque, em consciência o afirmo, deixaríamos de realizai talvez a condição primeira de subsistência do Portugal que nos legaram os nossos maiores em 800 anos de trabalho, de canseiras, de heróico sacrifício, de sonho e de missão.
Isto mesmo já o inimigo percebeu. Se nos, não bastasse a certeza dos que, como eu, apelam em nome das populações confiantes nos órgãos de soberania para que não percamos tempo, teríamos agora a voz das Nações Unidas, que, aprovando na Assembleia Geral a, moção da Comissão de Curadorias que a ela foi presente em Dezembro ultimo, declarou o povoamento do ultramar português realizado por portugueses como "crime contra a humanidade".
O nosso representante na Comissão classificou de "insuperável peça de extravagância" este passo da moção. Mas a verdade é que, com algumas abstenções e votos contrários, que honram quem se não solidarizou com ela, foi aprovada. E, perante os povos que no seu conjunto formam aquele nosso inimigo, a imagem de Portugal pode vir a confundir-se com a que têm daqueloutros aos quais se aplicou a mesma classificação os autores da guerra, os responsáveis pela morte a frio de d milhões de judeus.
Para além desta imagem deturpada e horrorosamente injusta há ainda que atender a que talvez esta classificação pelas Nações Unidas do povoamento que realizamos no ultramar possa vir a estar na base de qualquer estatuto jurídico que a, doentia mas fértil imaginação das maiorias da "casa de vidro" venham a tentar que se nos aplique num futuro mais ou menos próximo. Estou certo de que este aspecto não passou despercebido aos nossos diplomatas que tão esforçadamente se têm batido pela defesa intransigente dos nossos direitos e da nossa verdade sob a chefia do ilustre Ministro dos Negócios Estrangeiros, a quem aproveito a oportunidade para prestar a minha sincera homenagem de português e de ultramarino.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: -Feitas estas observações e reiterada esta confiança nos quadros da nossa diplomacia, parece, no entanto que pudemos aproveitar da moção a que me venho referindo - mais precisamente do seu n.º 3º - o que tem de positivo como animação da razão que têm os que apelam para uma urgente estruturação nacional da obra do povoamento do ultramar português.
Se nas Nações Unidas quando os afro-asiáticos se referem a Portugal ainda houvesse um vislumbre de decência política, ou até de mera honestidade mental seria de nos atormentar o facto de a nossa política de povoamento ser classificada de crime contra a humanidade.
Até pelas comparações a que atrás aludi.
É então aos carrascos de Dachau e do Auschw tz que querem comparar-nos! É a par dos seus crimes que colocam a obra de povoamento que nos impomos, obra de indiscutida igualdade racial obra que se não destina a aumentar lucros de investimentos de capitais mas sim a civilização de massas mais atrasadas obra de alargamento do único espírito multinacional realizado na actualidade a quantos vivem em território português obra de aportuguesamento na qual temos de servir não só os interesses de Portugal mas os dessa parte da humanidade que é portuguesa de nacionalidade e que sem ela se arriscará a estar dentro em pouco no mesmo nível que aquilo que constitui hoje as maiores afro-asiáticas da O N U.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - E porque pelo fruto fruto se conhece a árvore parece que, na verdade o mundo civilizado já concluiu que aquilo não é propriamente o modelo ideal para o futuro da espécie humana.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-De qualquer modo, no entanto como dizia, não é de pôr completamente de lado o n.º 3º da moção que estou comentando. Tem o seu valor para as nossas meditações nacionais.
É evidentemente de repelir sem qualquer hesitação a qualificação e temos de o fazer ridignadamente. Nem injustiça chega a ser porque nesta ainda há um elemento de valorização moral embora errada o que na moção não se encontra. Não nos deverá assim atingir no brio nacional. Como prova está a de que aquelas nações que podem significar qualquer coisa como expressão de civilização e de cultura abstiveram-se ou votaram contra. Houve mesmo algumas delegações que teceram os seus comentários amargos e desiludidos contra a moção afro-asiática. E é isto que conta para aquele brio e para a nossa situação moral.
Mas para além da iniquidade da deliberação, dizia eu há um elemento positivo a anotar.
É o de que o ataque inimigo a nossa política do povoamento do ultramar significa que ele sente que aí reside precisamente uma das nossas maiores armas aquela que será decisiva contra ele.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Como disse há um ano "os nossos inimigos não vencerão enquanto os Portugueses de qualquer [...] resistam na sua alma ao que eles pretendem por que querem manter-se como tais e em Portugal". E para tanto tentei demonstrar que a única política possível - e sem a qual qualquer outra será inútil - e a de povoarmos intensivamente as províncias.
Ora eles- também já o Viram. Reagiram à verdade que se lhes patenteou. Estamos assim no único ponto em que parece haver acordo entre nós e os afro-asiáticos o povoamento é a maior arma de que dispomos na luta pela subsistência do ultramar português.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Compete-nos a nós usá-la plenamente reforçando-a com urgência. A não o fazermos -e uma vez mais repito o que aqui já disse - estaremos a favorecer, os nossos inimigos