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15 DE FEVEREIRO DE 1967 1207

Continuo a insistir na tese que defendo desde há muitos anos a indústria representa para Portugal a esperança melhor e de mais próxima realização para elevar o nível de vida português.
Porém, depois da nossa guerra de África, a indústria surge com um valor maior ainda a única probabilidade de assegurar o nosso equilíbrio financeiro.
Nem tudo é mau nesta guerra, eu o tenho afirmado repetidas vezes. Nelas se encontram muitos factores positivos.
Não iludamos, porem a realidade de que as despesas militares, com poucas excepções, não são reprodutivas, isto é, de que toda uma actividade económica revitalizada pela guerra não há compensação para parte importante dos bens consumidos.
Há que gerar novas fontes de receita, há que aumentar a produtividade nacional para que se compensem as perdas que, se indiscutíveis e prioritárias, se traduzem no orçamento geral da Nação como despesa sem contrapartida.
Novas melhores e maiores indústrias. Lembram-se da [...] com que se falava do turismo há dez ou quinze anos? Pois bem os homens do Palácio Foz conseguiram o milagre e a nossa balança de pagamentos está-lhes hoje bem reconhecida.

Vozes:- Muito bem!

O Orador:- Novas indústrias as para aumentar exportações e diminuir importações, algumas destas tão facilmente elimináveis.

Vozes:- Muito bem!

O Orador:- Temos chefes de empresa experimentados e os nossos técnicos têm demonstrado bem o que são capazes de realizar. Novas indústrias estão perfeitamente ao nosso alcance.
Cada um de nós tem de produzir mais. Não só pela vontade própria, que essa é naturalmente limitada, mas pela técnica, que ao homem confere potência quase inconfinada.
O homem rende, o homem produz pelo que se sabe «Saber é poder» era o lema de uma admirável escola de engenharia aeronáutica que me foi dado frequentar. Lema que toda a minha vida influenciou, no sentido de que os conhecimentos podem ser sempre aumentados pelo estudo e o valor do homem proporcionalmente multiplicado.
Talvez daí a minha devoção ao termo do pessoal que tem trabalhado debaixo das minhas ordens.
Em estabelecimento fabril do Estado, sem o estímulo da promoção proporcionada ao rendimento no trabalho ou da recompensa eventual e oportuna que a industria privada permite e faculta, dois milhares de jovens comportam-se como gente grande na disciplina consentida, no interesse pelo cumprimento da missão, descontraídamente- como hoje é [...] dizer-se, mas com um sentido nítido do dever que se auto-impõem.
E é da instrução que essa juventude tem recebido que eu queria vir hoje falar.
Nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, no final de 1966, trabalhavam 3103 empregados. Destes 2753 eram pessoal técnico e fabril, entre os quais se contavam mais de 40 por cento habilitados com os cursos das escolas industriais.
É massa trabalhada que essas escolas nos entregam com preparação tarefa prática.
Ingénuo ou sonhador o industrial que esperasse da escola executadas treinados e aptos pata a sua indústria fosse ela qual fosse.
A escola dá cultura e treino de base. A cada indústria compete o trino especializado.

O sr. André Navarro:- Muito bem!

O Orador :- Em Alverca, estamos presentemente a admitir para treinar como mecânicos dos aviões [...], os F- 101 tão falados nos jornais, rapazes vindos directamente das escolas os resultados obtidos excedem de longe os [...], quando se lançou mão de operários com experiência prévia, mas sem os cursos dessas escolas.
De mais de dois milhares de diplomados pelas escolas técnicas que a industria aeronáutica nacional tem recebido nos últimos dez anos, os resultados são francamente satisfatórios.
Indústria de ponta, a aeronáutica, de requisitos mais exigentes que qualquer outra, dela partem depois para indústrias mais compensadoras monetariamente, levando consigo novas técnicas e procedimentos, em alvoradas de juventude e conhecimentos contagiantes, para o progresso dessas industrias contribuindo de forma decisiva. Eu poderia documentar com exemplos concretos a minha afirmação.
Escolas industriais muito longe de serem tão más como se diz para aí frequentemente.
São todas das do mesmo nível, em professorados e em equipamento oficial, de Norte a Sul, do litoral para o interior do País? Claro que não. Eu diria que há até uma certa influência ou coincidência geográfica no [...] dos seus valores.
Há escolas utilizando ainda tornos mecânicos com mais de 60 anos de serviço, com professores sem estágio, ou até indiplomados. Claro que há.
Negar, porém, o esforço admirável- eu repito admirável- que nos últimos quinze anos se tem realizado no campo de ensino técnico profissional e o progresso verificado, não seria apenas injustiça seria apreciação grossena para, sem perda de tempo, se descartar.
Recordo-me sempre de quando, em 1964, os representantes técnicos de catorze nações presentes ao XIV Concurso Internacional de Formação Profissional entraram pela primeira vez na Escola do Marques de Pombal, recordo-me do impacte da sensação de surpresa por encontrarem no Portugal Industrialmente desconhecido para eles uma escola com instalações, equipamento e organização educativa de tal nível.
Neste ramo de ensino, estamos, pois, ao nível internacional em qualidade, infelizmente que não em quantidade.
Afirmei há anos- e por escrito- num congresso da indústria nacional, que o operário português era o mais ordinário e perigoso do meu conhecimento [...] e atrevido- o habilidoso, a tudo se abalançando, crente na impunidade que lhe advém natural falta de conhecimentos do cliente.
Mas acrescentava porém depois de treinado, o operário português é dos melhores do Mundo.
Tal como o dramante, que, ao ser encontrado no fundo da [...], não tem o brilho que a lapidagem lhe confere- brilho que, no entanto, só adquire se a gema for de boa água, o homem português é de uma alta qualidade para que espera apenas o lapidor do treino e da cultura para brilhar em pleno.