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1374 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 77

Ela, para a Virgem de Guimarães, que apelou. E foi a Ela que prometeu grandes tributos se lhe desse a vitória da liberdade.
E cumpriu. Depois do dia glorioso de 14 de Agosto seguiu, ainda em movimento estratégico, para Santarém, mas assim que teve a certeza de que o rei D João I de Castela não voltaria atrás, logo partiu para Guimarães em cumprimento da promessa que fez do pagamento do seu peso em prata.
Chegou do Porto acompanhado de 100 besteiros, descalçou-se à entrada da vila, onde hoje está o padrão que tem o seu nome, e, como diz Fernão Lopes, foi recebido «com grão procissão clérigos e frades e toda a outra gente, e feita a sua oração e oferta deu muitas esmolas e tornou-se no Porto».
Lá deixou o altar de campanha de D João I de Castela e doze corpos de apóstolos, de prata, doze corpos de anjos também de prata, um pluvial, de brocado e oiro com as imagens e armas dos reis de Castela, o seu pelote e a sua lança.
Mandou refazer a igreja, o que ainda hoje se assinala em bela lápide que acaba assim:

e à honra da Victória, que lhe deu Santa Maria, mandou fazer esta obra.

Este foi certamente o momento mais glorioso de toda a história de Santa Maria de Guimarães,- Senhora da Oliveira o momento em que D. João I, cercado de clérigos e frades e de toda a outra gente, agradeceu a vitória dos Portugueses sobre o inimigo que talou a sua pátria e a queria conquistar.
A Colegiada de Guimarães era a primeira de Portugal. Os seus estatutos de 1229, lavrados em Leão, davam-lhe, além do dom-prior, trinta e cinco cónegos, dez porcionários e um mestre de Gramática. As suas riquezas eram enormes

Do Minho ao Vouga, e ainda para além destes rios se lhe contavam numerosas propriedades

No alto cargo de dom-prior, que constituía, segundo se crê o benefício mais rendoso do País, eram sempre providas pessoas da maior categoria, e entre elas dois príncipes vários Braganças, alguns outros dos grandes nomes de Portugal D. João Afonso das Regras, D. Jorge da Costa - cardeal de Alpedrinha - e D. Pedro II, depois papa com o nome de João XXI. De Guimarães saíram, além deste Sumo Pontífice três cardeais, nove arcebispos e vinte e quatro bispos.
A vida da Colegiada fazia-se então na Igreja de Santa Maria, nas instalações anexas e nos palácios dos dons-priores.
Sempre se foram realizando obras, de forma que o imponente conjunto apresenta situações artísticas diversas - latino-bizantina (século X), romântica (século XIII), gótica (século XIV) manuelina e neoclássica- e conserva no seu interior verdadeiras preciosidades artísticas e culturais. Assim, o arquivo era sem dúvida um dos mais importantes repositórios portugueses da época medieval e o tesouro de Nossa Senhora, uma das mais preciosas colecções de arte existentes entre nós.
Em 1848 foram reorganizadas ou extintas as colegiadas do Reino, e, das que ficaram nenhuma teria mais de onze benefícios excepto a de Guimarães. Mas, em 1869, o Decreto de 1 de Dezembro também a extinguiu. Ninguém que estivesse a par do assunto poderia, contudo aceitar essa extinção tais eram as suas gloriosas tradições, tal era e tal poderia ainda vir a ser a sua utilidade. E logo em 1890 a Lei de 14 de Setembro autorizou o Governo a conservar e reorganizar esta instituição, e a Carta Régia de 8 do Janeiro de 1891, que se lhe segurar dirigida ao arcebispo de Braga, D. António de Freitas Honorato acrescentava:

é definitivamente conservada a Insigne e Real Colegiada de Nossa Senhora de Oliveira da Cidade de Guimarães.

Foi então reorganizada com o dom-prior, sete cónegos e três beneficiários.
Anexo foi criado o seminário-liceu - inaugurado na presença do rei D. Carlos da rainha D. Amélia e do conselheiro João Franco que foi Deputado por Guimarães e o maior amigo que aquela terra tem tido. Mas este estabelecimento não pôde então durar. Representava uma iniciativa muito ousada para o tempo e veio, por isso, em 1896, a ser transformado em liceu nacional. Era um dos dois liceus mais frequentados do País tinha 278 alunos em 1908-1909. O de Lisboa (Maria Pia) tinha 446 mas a seguir ao do Guimarães vinha e de Faro, com 269, e o de Castelo Branco e o de Viana do Castelo apenas tinham 100 e 110 cada um. Essa grande frequência resultava do prestigio do liceu, e este, do da instituição donde provinha e do dos cónegos que praticamente, o dirigiam.
Eu vi-os desaparecer um a um. Muitos deles, eram realmente, ilustres e a alguns, que foram meus professores devo boa parte do que valho.
Ainda conheci os cónegos Miranda, Sanches, Morena, Bacelar, tio do ilustre e actual reitor da Faculdade de Filosofia de Braga, José Maria Gomes, que foi Deputado evolucionista, e o cónego Alberto de Vasconcelos, o último a morrer.
Acima porém da acção cultural social e política - e não posso deixar de lembrar aqui o patriotismo activo dos cónegos na resistência aos invasores franceses - acima de tudo, o que pairava mais alto, muito mais era o fervoroso culto a Nossa Senhora da Oliveira. O seu nome andou no costado das naus, na boca e no coração de todos os aflitos ou agradecidos.
Sr. Presidente: Ùltimamente os elementos essenciais da famosa instituição eram o dom-prior e os cónegos, com a sua igreja, o seminário-liceu, o arquivo e o tesouro. Já estavam encerradas há muito desde as visitas dos arcebispos D. José e D. Gaspar de Bragança e a atitude do arcebispo Freitas Honorato, as velhas querelas entre a Colegiada e o Arcebispado de Braga. A Colegiada, remodelada de acordo com a evolução dos tempos, expropriada de seus numerosos bens e fraca da atenção real só pensava em cantar a glória de Deus, continuar a ser foco de irradiação cristã, e manter uma tradição das mais belas e prestigiosas de Portugal.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Aias nos os Vimaranenses e muitas pessoas ilustres e cultas de todo o País andávamos tristes por não se ouvir em Santa Maria de Guimarães os cónegos fazerem coro. E podíamos pensar até que os católicos andavam mais distraídos sobre este problema da Colegiada de Guimarães do que o próprio Estado, que, no que lhe respeita já fez parte notabilíssima do seu restauro.
Porque, Sr. Presidente a Colegiada e o seu espírito existem e estão em pleno período de renovação. É esta a altura de o proclamar e de melhor contar o que está feito e definir o que é de urgência fazer.
Vai começar ainda este ano o restauro da Igreja de Senhora da Oliveira. E devo dizer, para ser justo,