8 DE MARÇO DE 1967 1375
que, se ele não foi iniciado até agora, isso se deve apenas ao facto de até há poucos anos não se poder, por necessidade do serviço religioso da cidade, começar a fazer esta obra sem acabar as da Igreja de S. Domingos. Mas o restauro da Igreja da Oliveira tem de ser profundo e consciencioso. Profundo, porque esta igreja tem assinalado valor como obra de arte e porque não há nenhuma outra em Portugal que tenha, maior significado histórico e religioso, consciencioso, porque, ligada tão de perto a história de Portugal, mas nos ficaria a todos se o instauro não fosse feito com saber profundo, muito carinho, grande atenção e a maior largueza.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Não há porém, receio do contrário. As obras levadas a efeito pelos Monumentos Nacionais, desde Leça do Bailio à Sé de Braga e nos próprios monumentos de Guimarães, são disso uma garantia.
Eu falei apenas no restauro da igreja, porque o restauro dos outros edifícios e partes da Colegiada já vai muito adiantado e constitui grande honra dos governos que o foram executando. Assim, o claustro e a parte anexa e, nesta, a preciosa Sala do Capitulo, foram instaurados entre 1928 e 1935, as residências dos dons-priores estão agora no fim do restauro, e prosseguem também as obras, que atingirão o seu fim pròximamente, da instalação do novo priorado e anexos, já dentro dos modernos moldes de acção pastoral.
No claustro e no antigo palácio medieval encontra-se instalado o Museu de Alberto Sampaio, que é, afinal, o Tesouro de Santa Maria de Guimarães, acrescido de preciosidades que se lhe foram juntando.
Ali se vêem o maravilhoso altar de Aljubarrota, a custódia e o cálice manuelinos, de prata domada, a grande cruz processional e tantas outras obras de arte e de fé. Algumas se perderam através dos séculos, como disse, mas as que ainda, existiam em 1926 lá estão juntas, detido à iniciativa de Alfredo Guimarães, à ajuda que lhe deram várias pessoas ilustres da cidade e à visão clara dos Doutores Alfredo Magalhães e Gustavo Cordeiro Ramos, como Ministros da Instrução Pública. Logo que se encontre forma de homenagear de novo em Guimarães o seu filho ilustríssimo que é o historiador Alberto Sampaio, o Museu deverá passar a ter o nome do seu principal núcleo artístico e a chamar-se simplesmente «Tesouro de Santa Maria de Guimarães».
Mas a grande obra do conjunto da Colegiada - alargamento do Museu com o restauro dos palácios dos dons-priores - e as suas novas e praticas instalações devem-se sobretudo ao espírito esclarecido e empreendedor do actual Ministro das Obras Públicas, Sr Eng.º Eduardo de Arantes e Oliveira, e à vontade de ferro do novo dom-prior, Mons. António de Araújo Costa.
Os piedosos arquivos da Colegiada estão actualmente dispersos em três sítios. Uma parte continua em Guimarães e encontra-se a bom recato, porque o Ministro Cordeiro Ramos criou, a pedido do Dr. Alfredo Pimenta, apoiado por ilustres conterrâneos nossos, o arquivo municipal de Guimarães, a que depois foi dado o seu nome, onde ficou parte importante dos documentos, outra, constituída por um lote de mais do 4000 documentos, trouxe-a Augusto Soromenho para a Torre do Tombo, em 1863, um terceiro grupo está actualmente na biblioteca da Universidade de Coimbra.
Urge dar cumprimento ao decreto que criou o arquivo municipal e arranjar em Guimarães, com urgência, uma instalação condigna para o arquivo. Já em tempos se tinha escolhido o Palácio dos Navarros.
Descoberta outra forma de homenagem a Alfredo Pimenta, que indiscutivelmente a merece, o arquivo deverá, voltar a chamar-se, pura e simplesmente, «Arquivo da Colegiada de Guimarães».
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Que falta ainda?
Em primeiro lugar, que o Sr. D. Francisco Maria da Silva, venerando arcebispo-primaz, o ilustre prelado que com tanta visão acaba de nomear o dom-prior, não pare na sua obra e nomear o mais depressa possível as restantes dignidades e cónegos para que a Colegiada volte a funcionar que, numa igreja restaurada como deve ser, os cónegos possam de novo fazer coro, que o Museu sirva activamente para educar os homens, para lhes aprimorar o gosto estético e para lhes dar uma vida menos interesseira e de maior apreço pelas coisas belas do Mundo, que o arquivo se preste a aumentar a cultura e a fazer a história - a dos primeiros tempos de Portugal não pode ser feita sem a sua ajuda, que a Colegiada seja, como já é, um grande centro de apostolado, e o tenha a ser também de cultura e ensino, através de actividades várias, e designadamente da criação do seminário-liceu, que as jóias de Santa Maria de Guimarães, o altar de Aljubarrota e o pelote de D. João I sirvam, em primeiro lugar, o culto de Nossa Senhora da Oliveira e tomem parte nas suas festas, como é tradição o seu destino, e que não se negue este seu uso essencial para se autorizarem repetidas viagens por exclusivas razões artísticas, que em Guimarães se dê mais relevo à festa tradicional de Aljubarrota e se façam de novo peregrinações a Nossa Senhora da Oliveira, defendendo-se assim o seu culto, que se organize, finalmente, em Guimarães um grande congresso de estudo sobre os assuntos de tão importante instituição, em que se tratem, entre outros, os seguintes temas o culto de Santa Maria de Guimarães na Idade Média, a origem do Mosteiro de Santa Maria e a sua transformação em colegiada a devoção a Nossa Senhora, sob as invocações de Santa Maria de Guimarães e de Nossa Senhora da Oliveira, abrangendo o tempo dos Descobrimentos a história das origens e actividades sociais, culturais e religiosas da Confraria de Nossa Senhora da Oliveira a história do Cabido de Guimarães, com inventário dos documentos da Colegiada.
Falta, enfim, compilar sistemàticamente a bibliografia sobre a Colegiada, estudar as suas altas figuras, editar o Livro Vermelho, estudar os Esterlóquios do Dr. Francisco Guimarães, representações teatrais de carácter religioso, do século XVI, que chegaram a ser exibidas na índia e ainda hoje o são em Trás-os-Montes, estudar a acção da Colegiada no ensino a evolução arquitectónica da igreja e anexos, publicar o catálogo do Museu de Alberto Sampaio e reeditar o Livro dos Milagres de Nossa Senhora da Oliveira, editado em 1953 pelo Dr. Mário Martins.
Sr. Presidente: Vou acabar, mas antes desejava agradecer daqui, públicamente, ao Sr. Arcebispo de Braga a altura a que guindou a sua actuação de pastor ao estudar as tradições glórias e valor da Colegiada de Guimarães e a solene resolução que depois tomou. E um acto de que jamais nos esqueceremos.
Quero também mostrar o maior reconhecimento, que nunca foi expresso em público, que eu saiba, ao Sr. Prof. Doutor Gustavo Cordeiro Ramos, e renová-lo ao Sr. Eng.º Eduardo de Arantes e Oliveira cuja actuação lhe dá bem merecidamente direito ao título de benfeitor da Colegiada de Guimarães.
Repito por último, o apelo para que se intensifique o culto de Nossa Senhora da Oliveira. Envolvidos em guerra