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16 DE MARÇO DE 1967 1471

Se o Timor nada ou quase nada produzisse, podei m pôr-se a pergunta donde vem então a receita para alimentar o funcionalismo público e locupletar o comércio local - 98 por cento chinês -, que movimenta a importação e exportação e cujo índice de prosperidade é dado pela sua própria fácil proliferação em toda a província? Nem se poderão invocar os investimentos dos planos de fomento, a menos que se afirmem iludidos os propósitos reais dos mesmos planos por unia errada e abusiva aplicação deles. Afinal, quem mais tem lucrado com tudo isto tem sido a pequena comunidade chinesa, que, não ultrapassando 7000 indivíduos, alcançou, todavia, ter na mão praticamente todo o comércio de Timor e o explora com tal habilidade que, exportando o mínimo, se esforça por obter maiores quotas possíveis na exportação, realizando deste modo dois lucros um no comércio externo, outro no comércio interno O primeiro lucro aufere-o através dos descontos de que beneficia nos mercados de origem e no valor fictício das mercadorias a importar, pelas quais obtém mais cambiais autorizados, que saem, mas não voltam a entrar senão no valor mínimo ou médio dos artigos importados O segundo lucro é conseguido através das vendas a retalho, sobretudo no interior da ilha, onde o artigo é vendido por preços muito mais elevados que os da origem e pelo sistema de permuta com produtos agrícolas do nativo, que naturalmente sofre as consequências do barateamento dos seus produtos, se o chinês logra iludir a vigilância das autoridades. E é assim que se mantém uma constante transfusão de cambais para mercados asiáticos, sobretudo, que vai amenizando a débil economia de Timor. Um pormenor elucidativo da natural habilidade do comerciante chinês e da eficiência do seu jogo é o facto de, na província, serem quase só chineses os proprietários de boas moradias, excepção feita das casas do Estado e de uma ou outra vivenda de europeu, ou misto, ou nativo já muito evoluído.
A nota mais curiosa de todo este jogo é que bastantes destes chineses começaram do zero, por assim dizer, com créditos do Estado ou do Banco Nacional Ultramarino. Hoje, parte deles, conseguiu realizar já um capital importante, mas colocado em Singapura ou Hong-Kong, e possivelmente no Japão e na China, continental e insular. E tão felizes têm sido neste negócio de exportação de capitais para o estrangeiro que um ou outro talvez já nem receie um infortúnio em território português, visto que qualquer medida repressiva das nossas autoridades só viria a retardar e reduza as possibilidades de recuperar valores figurados em créditos contraídos pelo chinês.
O que acabo de expor a VV. Exas., meus senhores, prende-se ìntimamente com a questão do espaço económico português Quando em Timor se anunciaram e se executaram as medidas que o integram, esboçou-se no comércio chinês uma resistência passiva que, dado o condicionalismo criado, facilmente se compreendo. É que, além do mais, a política de integração económica do espaço português implica, para o chinês de Timor, a reorganização lenta de um sistema bastante complexo de relações comerciais e até de relações de amizade.
Independentemente, porém, da reacção chinesa, o sistema não deixa de envolver certos riscos e inconvenientes, atenta a enorme distância que separa Timor dos restantes territórios nacionais, com excepção de Macau, distância infinitamente superior à que existe entre aquela província e os mercados estrangeiros de Singapura, Hong-Kong, etc. Será de se manter tal política, apesar de tudo?
Sr. Presidente e Srs. Deputados: Entre as várias medidas adoptadas pelo Governo de Timor para debelar a situação deficitária em que se encontra a província parece merecerem lugar cimeiro as que fomentam a sua produção agrícola, uma vez que a agricultura é a sua principal fonte de riqueza.
Sobranceiro ao território do Norte da Austrália, que tudo recebe dos estados de Queensland o Naew South Walls pràticamente, Timor encontra-se em situação privilegiada para lá colocar muitos dos seus produtos agrícolas e florestais. Mais de uma entidade responsável daquele país manifestou já a mesma opinião Conjugando esta oportunidade com as possibilidades que nos proporciona agora o turismo, quase todo constituído de australianos, não é improvável que se descubra aí talvez a maior garantia de cambiais estrangeiros e o meio mais eficaz para vencer os males que provocam o estado deficitário da economia de Timor.
Sr. Presidente e Srs. Deputados: Entre os produtos vegetais da terra timorense, quero apenas ocupar-me agora do seu famoso sândalo, que foi, até praticamente meados do século XIX, a sua principal ou única fonte de riqueza. Devo, no entanto, prevenir VV Exas. de que não sou nem botânico, nem engenheiro agrónomo, nem especializado em silvicultura. Vou-me socorrer por isso, do excelente trabalho do Eng.º Rui Cinatti Vaz Monteiro Gomes, Esboço Histórico do Sândalo no Timor Português.
O sândalo de Timor é o Santalum álbum, considerado, já em 1727, o melhor e o mais avantajado do Mundo («the best and the largest in the world), por Alexander Hamilton, em A New Acount Of The Last Indies. A imagem timorense do Santalum álbum está hoje cientificamente dada como certo por Skottsberg, in Geographical Distribution of the Sandal Wood and Its Significance.
A abundância do sândalo branco ou citrino na ilha de Timor consta de textos históricos do século XVII, sobretudo Frei Luís de Sonsa diz, na Historia de S. Domingos.
O sândalo é um género de árvores que criam os montes daquela ilha em não menos abundância que o mato ordinário das nossas terras.

E o seu valor comercial?
O mesmo Frei Luís de Sousa diz, ainda, a este respeito
Era o interesse mui grosso [...] E acontecia, andando o tempo, juntarem-se tantos navios de várias partes em Timor, que era forçoso tardar em muito em fazer a sua carga.

Por sua vez, Frei Lucas de Santa Catarina afirmava ser «este pau a droga mais sequestrada de todo o Oriente». E Frei Miguel Rangel na sua Relação das Christandades e Ilhas de Solor, fala em lucros da ordem de 200 por cento com a exportação do sândalo de Soloi e Timor para a China. E mais de uma vez Macau se valeu do sândalo de Timor como a única moeda para a sua subsistência. Refere o já citado Frei Lucas de Santa Catarina que, em ocasião extremamente aflitiva para a população de Macau, bastou o carregamento de dois navios do precioso pau para habilitar a cidade a manter-se Já no século XIX temos este testemunho do governador Afonso de Castro.

Pode mesmo dizer-se que foi o comércio do sândalo que atraiu a Timor toda a navegação.

Quanto aos preços actuais a preciosa essência não deixou ainda de exercer fonte atracção comercial. Ainda em Setembro do ano passado vi no nosso e, chave de 0é-Cusse, 21t de sândalo ao preço de 10 contos por tonelada. Só que hoje, mercê de infinitas circunstâncias adversas não temos do precioso pau, nem muito, nem pouco. O que aparece é de contrabando praticado na fronteira com a parte indonésia da ilha. O que diria Frei Luís de Sousa,