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10 DE MARÇO DE 1967 1473

Deste vasto conjunto de estudos e consequentes realizações, avulta, em primeiro plano, a produção de energia, por ser considerada, até agora, a razão básica do planeamento do Tejo e até porque já se encontra, ou executada, ou projectada, ou, ao menos, estudada.
Neste domínio, a política seguida até há pouco não terá sido a mais acertada dispersão por várias concessões que disputavam entre si os nervos aproveitamentos, dimensão inadequada das empresas para realizar alguns dos aproveitamentos já aceites construção de represas nem sempre situadas nos locais mais propícios a um plano global do rio.
Recentemente parece ter-se mudado o rumo. Pelo menos, legislou-se nesse sentido. Esperemos agora que os projectos se concluam, sem mais delongas, e que as obras necessárias se iniciem logo que possível.
Estudos já feitos permitem avaliar em 3 a 3,5 milhares de milhões de kilowatts-hora a produção anual das represas já constituídas ou a construir no Zêzere - Castelo do Bode, Bouçã, Cabul, Santa Luzia, Bogas e Valhelhas, no Tejo nacional-Almourol, Belver e Fratel, no Tejo internacional - Chaparral e Foz do Erges; no Ocreza - Pracame e Alvito. Presentemente, a produção atinge cerca de 35 por cento da possibilidade enunciada, concluindo-se daí que estamos longe de esgotar as reservas nacionais de energia hidráulica.
Pareceria até profundamente errada a construção acelerada de centrais térmicas, só razões de força maior as não justificassem de algum modo.
Se os múltiplos aproveitamentos do rio acima apontados implicam estudos certamente morosos, não restam, todavia, dúvidas quanto à urgência que há em ultimar tais estudos, sobretudo no quo se refere aos aproveitamentos hidroeléctricos, insuficientemente definidos, e em iniciar a construção das represas já projectadas, como a do Fratel e a de Alvito a primeira, pela modicidade do investimento e pelo consequente custo favorável da energia produzida, a segunda, pela sua capacidade de armazenamento, para acorrer ao abastecimento dos anos de baixa pluviosidade, e ainda pelos benefícios que traria à região em que se situa e, como adiante se verá, a largas áreas do Alto Alentejo.
Carece de estudo imediato a barragem de Almourol, que, como a de Fratel, produzirá apreciável quantidade de energia e implica um investimento moderado.
Mas a construção de todo o sistema hidroeléctrico trará efeitos quase imprevisíveis.
Na verdade, pela década de 1930-1940 pensava-se e escrevia-se no País com alguma descrença no possível aproveitamento das águas dos nossos nos para fins diferentes da produção de energia e, em poucos casos, de rega. Hoje aceita-se que as represas podem levar à navegação fluvial, se forem construídas com tal previsão e se o tráfego de mercadorias o justificar.
Quando o parecer das contas públicas de 1943 sugeriu, entretanto, um ordenamento do Douro e do Tejo, que converteria as respectivas correntes em fontes de electricidade e veículos de navegação fluvial, houve espantos, admirações, e houve até acesas discussões Menos de 25 anos volvidos, aceita-se como necessário e urgente tornar o Douro via navegável, porque em Moncorvo há dezenas ou centenas de milhões de toneladas de minério de ferro para escoar. O que parecia profético em 1943 passou no nosso tempo a dogma indiscutido de desenvolvimento regional.
Algo semelhante vai passar-se com o Tejo, como veremos.
Com efeito, na margem direita do no, no triângulo que este forma com o Zêzere e ainda na margem direita do mesmo Zêzere medrou uma floresta de pinheiro-bravo (Pinnus pinastor), que anda já pelos 150 000 ha e que, por via espontânea ou artificial, ultrapassará os 200 000 ha em poucos anos. Por sua vez, a florestação na margem esquerda do Tejo também se desenvolve em bom ritmo, podendo estimar-se que mais uns 100 000 ha se juntarão, em poucos anos, àquela área. Restam ainda, só na Beira Baixa, uns 200 000 ha de terrenos que não oferecem outra possibilidade de exploração que não seja a floresta. Tudo somado, dará uma produção anual de madeira de cerca de 2 milhões de esteres!
São números fabulosos, para o meio o até para o País, que haverá que transportar, quer em bruto, quer transformados!
Também na margem esquerda do Tejo, nos subúrbios de Nisa, acaba de ser detectado um dos mais importantes jazigos nacionais de urânio. Apontam-se ainda, na zona, outras possibilidades de explorações mineiras, nomeadamente nas proximidades de Segura.
Madeiras e outros produtos das florestas, minérios em bruto ou concentrados, produtos agrícolas das actuais culturas e de novos regadios, criarão tal densidade de tráfego que não há sistema de comunicações entre os actuais, por mais remendos que se lhe deite, que ofereça garantias do escoamento
Acrescem às mercadorias apontadas as produções dos complexos industriais já existentes ou em vias do desenvolvimento, que, em muitos casos, vivem atrofiados pela garganta dos preços dos transportes e das suas deficiências.
É ainda convicção seguia de muitos que certos granitos da Beira Baixa se encaminhariam para exportação ou para consumo da região de Lisboa, se os fretes o permitissem.
Há, assim, tal como o Douro, necessidade imediata de se estudar a possibilidade de fazer cucular barcos no Tejo entre Vila Velha de Ródão e Lisboa.
Do ângulo prático, a navegabilidade do rio no troço Arrepiado-Vila Velha de Ródão, embora careça de estudos definitivos, parece fácil de estabelecer, e, construídas as barragens de Fratel e Almourol, nem sequer envolve dispêndios de maior. Já no troço Muge-Arrepiado ou Vila Franca-Arrepiado, onde se justificaria imediatamente a circulação de barcos, a questão parece implicar investimentos de certa importância.
Outro aspecto a considerar num aproveitamento global do grande rio e dos seus afluentes será o da rega.
A Cova da Beira aguarda há muitos anos a execução do seu plano de rega, que abrangeria cerca de 10 000 há. A terra é rica e a sua laboriosa população saberia tirar das suas pequenas courelas, com abundância de água e alguns ensinamentos agrários, as melhores frutas do País e produtos hortícolas de incomparável qualidade. Em nenhuma outra zona do País o regadio será tão bem aceite ou levará a resultados sócio-económicos tão imediatos! E traria o condão de reduzir às suas verdadeiras dimensões o mito falsamente dourado da emigração.
Das barragens do Ocreza ou do Tejo hão-de regar-se vastas regiões das planícies de Castelo Branco e do Alto Alentejo e das lezírias do Ribatejo, cujas áreas o ilustre relator computa em 100 000 há! É uma área quase fantástica, quando comparada com quanto se tem realizado1 São dados que ainda pedem análise e obras que requerem estudo, mas são números carregados de esperança!
Da regularização do Tejo e do seu aproveitamento para os fins expostos, resultará um surto de desenvolvimento industrial inesperado e de uma importância incalculável.
Já agora, com comunicações difíceis, é nas margens do Tejo e na sua bacia que se nos apresentam alguns