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1600 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 86

o ideal de Deus e, depois, o ideal da Pátria foram, para Frei Diogo, toda a sua vida, numa irradiação candente de amor, bondade e fé, a que nem sequer faltaram os calvários com que os desígnios da Providência ou as injustiças dos homens sublimam as vocações fortes - aquelas que nunca desistem de se realizarem plenamente, em acção e em serviço, em luz e calor, por maiores que sejam os obstáculos a vencer e mais pesados os sacrifícios a suportar

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Conheci de perto Frei Diogo Crespo, num dos períodos mais operosos da sua existência Pude então admirar nele excelsas qualidades e virtudes que, por si, eram a melhor pregação da mensagem redentora que se empenhava em transmitir aos outros.
Intimorato e intemerato, a coragem e a pureza de intenções, irmanadas com a simpatia e a generosidade de um espírito de eleição, imprimiam à sua acção apostólica autenticidade e penetração extraordinárias acção multí-moda que se exercia, por toda a parte e por todos os meios, num afã prodigioso, só atenuado ou interrompido pela doença cruel que, há dias, acabou por o ferir de morte.
No púlpito e no confessionário, na imprensa e na vida social, nos meios intelectuais ou junto do povo, através do livro, do convívio, do diálogo, tudo fazia para disseminar a Verdade revelada. Sua alma «aberta e alegre», como ele próprio a definira, um dia, ao lançar-se em novo empreendimento, buscava ansiosamente, fosse onde fosse, sem respeitos humanos, nem temores, quantos careciam de uma palavra orientadora, de um reconforto moral, de um sentido de solução para dramas e problemas de consciência.
Frei Diogo ensaiou entre nós um novo estilo de evangelização, e bem pode, por isso, considerar-se precursor dos métodos que, embora já sabiamente preconizados por Pio XII, só mais tarde haveriam de receber plena consagração

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Entendia e sentia que a Igreja deveria estar presente, na medida do possível, em todas as actividades humanas e devia afeiçoar as suas técnicas de difusão religiosa às necessidades e exigências dos tempos modernos Por isso o - víamos, dinâmico e dinamizador, coração em fogo com revérberos por sobre a sua pobre estamenha franciscana, a levar a boa nova aos ambientes mundanos e à rua, aos recintos desportivos e às assembleias de jovens, ao cinema e ao teatro, sem que fossem tocados - antes pelo contrário - o seu prestígio, o da Igreja e o da Ordem a que pertencia, embora alguns não compreendessem e até criticassem o padre que, correndo riscos e afrontando perigos, não hesitava em aparecer onde a sua presença pudesse constituir fonte de meditação e de renovação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Era, pois, bem fundada a exclamação do Dr. Serras e Silva, a quem a causa da educação nacional deve os mais relevantes serviços...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... ao referir-se a Frei Diogo nestes termos tão impressivos «Eis um padre que veio vinte anos mais cedo para ser bem compreendido». No mesmo sentido, Monsenhor Moreira das Neves pôde defini-lo, com ática justeza, «uma alma do século XIX que sabe viver a tempo o século XX, de tal maneira o calor do misticismo medieval lhe penetra as raízes do ser e anima a sua vocação no meio das exigências de acção da nossa época».
Esta forma inédita de fazer apostolado teve materialização vitoriosa nas páginas da Flama, uma das nossas melhores revistas de actualidades, na qual Frei Diogo, como redactor principal e, depois, como director, deixou impressas as marcas da sua personalidade inconfundível e do seu temperamento de lutador.
Atento aos aspectos multiformes da vida cultural, artística e desportiva e aos acontecimentos nacionais e externos, tinha o condão de os fazer chegar ao grande público com a interpretação mais conforme à verdade e a crítica mais adequada à defesa dos valores morais e espirituais Encheu a revista de artigos, notas e comentários, versando os mais variados temas, sob pseudónimos diversos, como os de José Silvestre, Padre X, Didacus, Santos Ferreira e João do Alentejo.

O Sr. Soares da Fonseca: - Verdadeiramente, nesse tempo a Flama era Flama!

O Orador: - E hoje também é.

O Sr António Santos da Cunha: - Muito bem!

O Orador: - Estava então a ganhar raízes e a expandir-se o movimento de educação popular que visava sobretudo a extinção do analfabetismo. Pois Fiei Diogo Crespo e, com ele, João Pereira da Rosa, em O Século, e Joaquim Manso, no Diário de Lisboa - como me apraz juntar nesta mesma homenagem de respeitosa e indelével gratidão e admiração estes três grandes nomes da vida portuguesa contemporânea -, pois Frei Diogo Crespo - dizia eu -, nas colunas da Flama e no seu constante peregrinar através de Portugal, muito concorreu para sacudir a opinião pública e criar um estado de espírito propício ao êxito de campanha tão decisiva para o progresso cultural e económico do País.
Se outras razões não houvera - que as há, e bem imperativas -, bastaria esta para me sentir obrigado a evocar na Assembleia Nacional a figura de Frei Diogo.
Nascido, a 5 de Outubro de 1903, em Ferreira do Alentejo, passa a sua infância e faz a instrução primária na histórica vila de Alcácer do Sal, terra de sua família, onde o seu espírito predestinado logo se terá deixado fascinar pelo sortilégio das ruínas do velho Convento de Santo António, da Ordem Franciscana, na qual, mais tarde, aos 17 anos, ingressaria, impelido por irrecusável vocação religiosa, após haver frequentado, em Lisboa, o ensino comercial.
Em 1931, canta a primeira missa e, com ela, começa o seu múnus apostólico e docente Prefeito e professor no Colégio das Missões Franciscanas de Montariol, em Braga, aí dirige a revista Alvorada Missionaria, onde se afirma a sua inclinação para o jornalismo e o seu gosto pelas artes gráficas. Entre 1934 e 1936 foi mestre de Filosofia dos seminaristas franciscanos, no Colégio de Santo António, em Tui. A seguir, até 1939, ensinou Exegese e Sociologia no Seminário Diocesano de Vila Real, onde, ao mesmo tempo, pastoreou a paróquia de S. Pedro, com inexcedível zelo apostólico.
A eficiência da sua actuação entre os jovens chamou a atenção das autoridades eclesiásticas, e, por isso, é-lhe indicada, naturalmente, a vinda para Lisboa. Aqui, exercendo, de 1939 a 1942, os cargos de secretário da Pro-