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1604 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 86

não são legíveis por analfabetos ou por crianças, apesar do sinal sonoro, que não é ouvido pelos surdos ou por aqueles que o não são quando outros ruídos maiores se sobrepõem, apesar dos conselhos e advertências dos aterrados pais aos filhos desobedientes ou, por tributo à idade, irrequietos, descuidados e desatentos.
Os humanos clamores de uma cidade indignada têm forçosamente de encontrar eco entre as entidades responsáveis pela sua solução, já que será por certo a cidade de Viana do Castelo a terra portuguesa em que estes acidentes mortais se têm registado com mais frequência e em maior número.
Atente-se a que, a desafiar a vida dos respectivos utentes, estes são em larga percentagem crianças de uma escola primária e do liceu nacional, que pelo menos quatro vezes por dia têm de atravessar tão perigosas ratoeiras.
Não admira, pois, que reine a ansiedade, o medo, o terror, a inquietação e o permanente sobressalto no coração de tantas mães que, na cidade ou fora dela, temem pela vida dos seus filhos e me rogam e pedem uma palavra de esperança neste areópago político, na esperança também de que ela encontre eco, compreensão e, finalmente, solução, junto das entidades oficiais.
Sabemos que está prevista desde há muito a construção de duas passagens subterrâneas, mas o tempo corre e continuamos sem saber de quem é a culpa de tudo o que se tem passado e a quem ficam vinculadas as responsabilidades de tantas mortes sucessivas.
Temos de compreender que, em última análise, os milhares de escudos que hoje seriam investidos com as obras necessárias são migalhas quando comparados com o que a ratoeira já custou, está custando e continuará a custar em vidas humanas.
O sangue que tem corrido n'«A Guilhotina» constitui já nuvem negra e pesada a ensombrar e a entristecer essa formosa parcela do Alto Minho, síntese da beleza do Mundo, de horizontes largos e alegres, dessa província-jardim que estonteia e deslumbra.
Acabe-se com a indiferença perante o monstro que passa e esmaga, que não ouve e esmaga, que não vê e esmaga, indiferente às súplicas, aos gritos, à dor e às lágrimas, como que se houvera só esse monstro que, repito, passa e esmaga, caminha e esmaga.
Num dia de desastre, de mais um, as badaladas nos campanários têm um som de peso desconforme e parece que todos ali estão à espera da morte!
Sem humorismo, descabido em coisas sérias, antes com palavras que requerem uma pausa, um silêncio, uma meditação, peço encarecidamente que no ano em que se comemora em Portugal a passagem do centenário da abolição da pena de morte - a Universidade de Coimbra para o efeito pediu já a colaboração do Governo -, peço encarecidamente, repito, que se acabe com a «guilhotina» que ainda funciona em Viana do Castelo.
Pedem-nos as mulheres do Minho, essas mulheres resignadas e heróicas na sua coragem silenciosa, essas mães de vidas humildes, mas que sonham, lutam e sofrem, frementes de amor e ansiedade, essas grandes sacrificadas que continuam, sem protestos, a ser vitimas de erros milenários, essas grandes obreiras da vida a quem não vencem nem as fadigas, nem os esforços, nem os obstáculos, essas mulheres a quem a vida pesa brutalmente, suportando inconcebíveis trabalhos, rigores e angústias, mas sempre risonhas e felizes, a cantar e a sonhar amores, essas heróicas mulheres minhotas que se multiplicam em filhos que de bom grado oferecem à Pátria para defesa da sua integridade, mas que se revoltam, que se escandalizam, que se recusam a aceitar a usurpação do poder de Deus a morte antecipada dos seus filhos nas famigeradas passagens de nível.

Vozes: - Muito bem muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Martins Lima: - Sr Presidente: «Lê café fait la loi», diz Valahu no seu recente livro Angola clé de l'Afague.
No realidade, o café tem sido para Angola a mola real do seu progresso e valioso sustentáculo da economia não só provincial, mas ainda nacional.
Graças aos proventos colhidos da sua cultura e comércio, foi possível atrair e disseminar pelo interior da província grande número de povoadores, que constituíram outros tantos heróis e mártires na altura dos terríveis acontecimentos de há seis anos. Não foi sem uma ponta de emoção, Sr Presidente, que escutei as palavras de V. Exa. quando, no passado dia 15, exprimiu tão convictos e patrióticos votos, que reflectiam, aliás, o sentir unânime desta Câmara.
Sr. Presidente. Sinto-me tentado a dizer que o café tem sido para Angola como que uma «galinha de ovos de ouro».
Permitiu que Luanda, além de muitas outras cidades e localidades, experimentasse considerável desenvolvimento.
Constitui ainda a principal origem do espectacular investimento que tem vindo a registar a construção civil naquela cidade, a qual não parece dispor ainda das estruturas que o progresso requer. Abundam as construções clandestinas, dada a inexistência de um plano de urbanização e outros meios à altura de uma grande cidade como Luanda já hoje é.
Tem dominado de forma notória o comércio interno, para o qual as perspectivas de má colheita ou o declínio de preços causam sempre muitas apreensões. De facto, é vulgar ouvir dizer-se em momentos de crise prolongada «Isto está mau, o café baixou!». E são os vinhos, os tecidos, os automóveis, os aparelhos electrodomésticos, as construções, os transportes, etc, enfim, todo um mundo de comerciantes e industriais que vê pairar nuvens sombrias sobre os seus ramos de actividade.
O seu lugar cimeiro na tabela dos valores de exportação tem assegurado a Angola saldo positivo na sua balança comercial.
As receitas do Estado, provindo, quer do imposto sobre explorações, quer dos direitos e taxas de comercialização e exportação do café, constituem verba que não andarei longe da verdade afirmando será das maiores, ou talvez mesmo a maior.
Graças a Deus, o café tem dado para tudo!
Mercê da colaboração da quase totalidade dos países produtores e consumidores, através da Organização Internacional do Café, tem sido possível manter os preços em nível compensador. Tal facto, aliado à circunstância de o café ser a principal fonte de divisas da grande maioria dos países produtores, conduziu a cafeicultura mundial a crise de superprodução.
Os riscos de ruptura da colaboração internacional e as preocupações ao nível nacional são evidentes. Há precisamente um ano referi na tribuna este assunto a propósito do parecer sobre as Contas Gerais do Estado de 1964, realçando a necessidade urgente de política acertada de diversificação.
O Instituto do Café de Angola, ciente daquelas responsabilidades, encetou estudo tendente à criação de um