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23 DE MARÇO DE 1967 1607

tural. Poder-se-á anotar que a mesma criação correspondeu a velha aspiração das províncias de Angola e de Moçambique e da cidade do Porto. Mas é também de anotar que essa aspiração veio a ocupar posição paralela à das intenções do Governo, e daí a pronta solução que mereceu cada qual dos problemas.
Falece-me autoridade para dizer aqui as palavras de louvor que são devidas aos reitores e ao corpo docente dos Estudos Gerais Universitários de Angola e de Moçambique pela acção notabilíssima ali empreendida e logo coroada de êxito. Porém, nada me impede, como português, de exprimir-lhes gratidão pois que essa lhes é devida, e sobeja da parte de todos os portugueses. Consinta-se, no entanto e para além desse testemunho de reconhecimento, que eu profira, desta tubuna, algumas outras palavras essas ditadas pela situação actual da Faculdade de Letras do Porto.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Aquando da criação desta escola de ensino superior, apenas lhe foram atribuídos as quadros do estudos que habilitam à licenciatura em Historia e em Filosofia. Vai agora a caminho do seu termo o ano lectivo em que terminam o seu curso os primeiros alunos que nela se matricularam. Isto corresponde a dizer-se que daqui a meses, depois de satisfazerem a exigência legal da apresentação e defesa de uma dissertação, ficarão licenciados em História e em Filosofia aqueles que foram os primeiros alunos da Faculdade de Letras do Porto.
Após esses, ano u ano, outros se inscreveram na mesma Faculdade. A média é de cerca de um centena, em cada ano de novos candidatos à licenciatura em História e do cerca de meia centena dos que aspiram à licenciatura em Filosofia. Logo este número bem exprime quanto se impunha a criação da Faculdade provando também que agiam de acordo com os altos interesses do País, sempre em obediência ao pensamento e vontade do Sr. Presidente do Concelho os Profs. Leite Pinto e Manuel Lopes de Almeida quando lhes esteve confiada a pasta da Educação Nacional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... e ainda o ilustre e dedicado director-geral do Ensino Superior e das Belas-Artes, a quem o País é devedor dos mais assinalados serviços.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É esse número elevado de alunos que se inscrevem na Faculdade de Letras do Porto será ainda compensação das mais gratas para as (...) de todos aqueles que tanto lutaram pela sua criação, devendo citar-se, ao menos os nomes dos Profs. Amândio Tavares e Luís de Pina e do antigo Deputado Dr. Urgel Horta.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Todavia, o que é justificação, neste caso, e assim a, elevada frequência da Faculdade de Letras do Porto apresenta-se também como sério motivo para uma reflexão. É que nem um instante podemos vivei alheados de outras realidades que se nos impõem e que tocam de peito com essa mesma frequência.
Carecido de professores diplomados e habilitados para o ensino médio, poderá o Pais, na especialidade da História e da Filosofia, vir a recrutar, nos anos mais próximos, todos, aqueles que concluírem as respectivas licenciaturas nas três Faculdades de Letras do País. Decorridos, porém, alguns anos e não obstante o alargamento de quadros - esse a impor-se dia a dia e numa permanente adaptação as, exigências da multiplicação do numero dos alunos dos liceus e escolas técnicas, quer oficiais, quer particulares - decorridos alguns anos, já não será apenas na fundão docente que virão a ser investidos todos os licenciados em História e em Filosofia. Espera-nos então é certo, e como hoje acontece, qualquer outra função, melhor ou pior remunerada que a de professor ou a de documentalista, se para tanto se afirmam aptos - e essa remunerada muito acima da média geral a que andamos, habituados -, ou então, a de bibliotecário-arquivista, que, exigindo-lhes muito embora e após a licenciatura um curso de especialização, não virá a proporcionar-lhes rendimento superior ao de funcionários apenas habilitados com o 2.º ciclo liceal.
Esta é a primeira das realidades que devemos ter presentes sempre que se imponha reflectir para descortinar um rumo. Todavia, e prosseguindo a reflexão, não conseguimos desembaraçar-nos destra outra realidade que se ergue diante de nos qual seja a da falta de docentes do ensino médio para outras especialidades. E então se desdobra oferecendo-se à nossa meditação o quadro sombrio oferecido por muitas escolas nas quais o ensino de determinadas disciplinas - e assim o Português, o Francês e a Geografia por exemplo - está confiado posto que a titulo eventual a indivíduos que só agora frequentam a Universidade ou que nem sequer nela ingressaram ainda.
São em número de muitas dezenas, passante de centena e meia, por exemplo as vagas de professores do grupo de Filologia Românica. Aumentado o número de escolas - e dia a dia se impõe a criação de novas, devendo-se também atender a que não vem longe o funcionamento do ciclo preparatório unificado - o número de vagas virá também a subir (...) a curto prazo, das duas e meia a três centenas. Onde, como, recrutar professores diplomados e habilitados para o preenchimento dessas vagas. Onde, como, se as Faculdades Coimbra e de Lisboa não conseguem licenciar em cada ano, ao menos a décima parte de novos professores de que o País carece só Deus sabendo a quantos sacrifícios andam sujeitos os seus docentes quando empenhados nessa missão?
Relega-se por vezes, e não sem algum fundamento que falham as vocações para a careira de professores do ensino secundário naquela medida em que não lhes serve de estímulo uma remuneração insuficiente. Mas temos para nos que não é essa a cansa, principal da carência verificada e, com ela, do elevado número de vagas acusado pelos quadros das escolas do ensino médio, que aumenta de ano para ano.
O que importa não é apenas remunerar suficientemente os professores do ensino secundário mas sim quanto possível facilitar a sua preparação. E se há um imperativo de natureza económica a impor-se, devemos nós procurá-lo desde logo no condicionalismo da preparação escolar dos candidatos a docentes.
Não hão-de faltar a muitos jovens nem vocação, nem forte desejo de virem a dedicar-se ao ensino segundo a ingrata carreira de professores do ensino médio. Muitos deles, por natural inclinação, desejariam estudar as disciplinas incluídas nas licenciaturas dos grupos das Filo-