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13 DE DEZEMBRO DE 1967 2069

do último Governo democrático. Era constituída por dois pequenos e velhos cruzadores e alguns antiquados contra-torpedeiros e submarinos, cujas reparações sucessivas e praticamente inúteis pesavam fortemente no orçamento e não lhes asseguravam qualquer valor militar.
Era, pois, evidente o «zero naval», revelador de uma impressionante incapacidade administrativa dos governos e do desprestígio a que estes haviam conduzido a armada nacional - uma verdade que era do conhecimento de toda a gente, principalmente daqueles que serviam a nossa Armada - e, até, como dizíamos, o último Ministro democrático, o comandante Pereira da Silva, chegou a afirmar pùblicamente:

Na verdade, a marinha de guerra portuguesa, como força naval, não existe; é apenas representada por um amontoado de navios velhos.

Após o 28 de Maio, coube ao Ministro Jaime Afreixo a ingrata e difícil missão de iniciar a profunda reforma, que conduziu a nossa marinha a uma posição que deu jus a que voltasse a ser lembrada como suporte da grandeza da Nação nos tempos em que nos lançámos na epopeia das descobertas, que transformou a face do Mundo. Mas a precariedade das finanças públicas não permitiu àquele distinto oficial pôr em prática tudo o que desejava.

Mais tarde, quando se começou a sentir o equilíbrio das finanças e a estabilidade governamental, pôde o Ministro Magalhães Correia executar o primeiro programa de renovação, ao qual foi dado o seu nome e que incluía a construção de 2 cruzadores, 12 contratorpedeiros, 12 avisos, 10 submarinos, 1 transporte de hidroaviões, 1 navio apoio de submarinos e 2 canhoneiras de fiscalização da costa. O custo global atingiu 12 milhões de libras.
Tão ambicioso programa, aliás, inteiramente de acordo com as realidades e necessidades da defesa nacional, foi aprovado pelo Governo, que resolveu dividi-lo em duas partes. E imediatamente se iniciou a execução da primeira, que compreendia a construção de 4 contratorpedeiros, 2 avisos de 1.ª classe, 4 avisos de 2.ª, 2 submersíveis e 1 transporte de aviões. O Ministro seguinte, que era o então capitão-tenente Mesquita Guimarães, preferiu, à construção do transporte de hidroaviões, a de mais 1 contratorpedeiro e 1 submersível.
Sem o recurso a qualquer empréstimo externo - política que haveria de manter-se sempre para prestígio e glória da Administração -, os 14 navios programados foram construídos e entraram ao serviço nos prazos previstos.
Ninguém pode esquecer esse grande dia 1 de Abril de 1933, em que chegou ao Tejo o primeiro navio novo, o aviso Gonçalvo Velho, nem o memorável discurso que o Prof. Oliveira Salazar, já então Presidente do Conselho, proferiu com muito calor e patriotismo:

Este pequeno barco entrou nas águas portuguesas antecipadamente pago, integralmente pago, com dinheiro todo de portugueses. A Armada começou a renovar-se nos mesmos anos em que o País colhe a todo o pão para comer. Os políticos do acaso encontrarão nisto uma simples coincidência; mas eu afirmo que está aí a base fundamental e a razão deste custoso empreendimento. Nós não teríamos ouro para o pagamento imediato da nova esquadra se, pelas campinas, não houvessem lourejado, abundantes, as searas. Para que pudessem sulcar os mares navios portugueses, foi preciso que a charrua sulcasse mais extensamente, e melhor, a terra da Pátria, poupando à Nação largas somas de ouro.

E noutro momento dessa oração:

Não há, senhores oficiais e valentes marinheiros, que esconder a face, mas que erguer altivamente o rosto; é nessa Pátria renascida que vós representais, cercada do prestígio que lhe granjearam o seu esforço próprio e os seus processos do Governo.
E já não me custa agora, a mim, falar na alta estirpe dos marinheiros portugueses, porque sinto fortes os vossos ombros para levar a sua pesada herança.

Meus senhores: Ainda hoje calam bem fundo no coração de muitos marinheiros aquelas palavras pronunciadas há 34 anos pelo Chefe do Governo. Outros portugueses - felizmente poucos - preferiram esquecê-las e tudo têm feito para destruir a unidade nacional que conduziu o País à prosperidade em que se encontra. Nunca, porém, o conseguiram e jamais o conseguirão.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Todos - e até esses também - sabem muito bem que, eliminados os pequenos focos de insurreição, restaurado o equilíbrio orçamental e aumentadas as disponibilidades do Tesouro, através da acção notabilíssima de Salazar, que tantos domínios abarcou, foi possível a reconstrução da armada nacional.
Com a nossa esquadra, acompanhada de uma reorganização de serviços, o País ficou apto a enfrentar «is emergências graves que surgissem. A primeira apareceu, quando o contra-almirante Ortins de Bettencourt geria a pasta da Marinha, com a guerra civil em Espanha.
Só a nossa marinha de guerra, dispondo de um núcleo de unidades de apreciável porte e eficiência, podia recolher, como recolheu, nos portos espanhóis dominados então pelos «vermelhos», os muitos portugueses que ali viviam ou afluíam de outros lugares do território de Espanha. Nem perante essa grave emergência e outra mais grave ainda, que surgiria com a segunda guerra mundial, o Ministro Ortins de Bettencourt se alheou da renovação da Armada, pois logo encomendou mais alguns navios e deu início à transferência do Arsenal da Marinha para o Alfeite. Vencendo uma das maiores dificuldades que a Armada tinha tido até então, esse homem encarou, com muita oportunidade e coragem, a transferência do Arsenal da Marinha para o Alfeite, a instalação da base aérea naval no Montijo e a construção da Estação Naval e da Escola Naval do Alfeite, zona onde se instalaria a nova base de submersíveis, tornando assim possível uma importante reorganização de superstruturas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Instalado o Arsenal na outra margem do Tejo, ali se construíram vários navios, entre os quais o navio hidrográfico D. João de Castro, o primeiro petroleiro português, o Sam Brás, que tão relevantes serviços prestaria durante a guerra. Esse foi um período de vida intensa e dura para a nossa armada. Tendo tomado posse do cargo de Ministro da Marinha em princípios de Setembro de 1944 o então capitão-de-mar-e-guerra Américo Rodrigues Tomás, enfrentou logo e resolveu o problema do restabelecimento da soberania portuguesa em Timor. Isso e muitos outros trabalhos de organização da armadura naval não o impediram de dar mais um largo passo na expansão do poder militar naval.
Estávamos no período de pós-guerra e nessa altura debatiam-se problemas e opiniões sobre a necessidade de a defesa nacional se fazer em tenra e no mar.