2138 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 113
O Orador: - Muito obrigado, Sr. Deputado Castro Fernandes, pelas suas palavras. Como direi à frente, tenho evitado, tanto quanto possível, fazer citações de nomes, e procurarei continuar a não os citar, porque tenho razões para isso. Mas agradeço a interferência que V. Ex.ª acaba de ter, porque são palavras de justiça para com os homens que se têm sacrificado pela Nação.
E agora que me seja permitido focar, em especial, o que tem sido feito no arquipélago de Cabo Verde. A primeira missão médica realizou-se de 1930 a 1932 e pôde estudar a demografia e as condições sanitárias do arquipélago; o admirável relatório então publicado é ainda hoje fonte de ensinamentos para todos os que aí trabalham. Em 1946 nova missão se deslocou a Cabo Verde, realizando trabalhos sobre hematologia, protozoologia, helmintologia e entomologia, trabalhos que levaram em 1948 à erradicação do Anopheles gambiae e do Acdes aegyti, agentes transmissores do paludismo e da febre-amarela, da ilha do Sal. Em 1955 é criada a Missão Permanente de Estudo e Combate de Endemias de Cabo Verde, e o seu chefe, actualmente na chefia dos Serviços de Saúde da província, inicia os trabalhos que levam à erradicação do agente transmissor do paludismo na ilha de S. Vicente e, virtualmente, das ilhas de Maio e Boa Vista e Santiago. Se referir que é o paludismo a doença de foro tropical que mais vítimas faz em vastas zonas da África e da Ásia, se nos lembrarmos da importância que para a navegação aérea tem a impossibilidade de transmissão do paludismo, o que também se verifica, como é evidente, na navegação marítima, podemos avaliar do interesse internacional que advém da erradicação dos agentes transmissores a que me referi, das ilhas do Sal e de S. Vicente.
E não se julgue que foi tarefa fácil esta! Foi o resultado de um trabalho inteligente e persistente, que honra quem o concebeu, organizou e realizou.
Se quiser sair deste aspecto tão importante do problema de saúde, para referir outras realizações, cito o controle dos doentes de lepra e seus comunicantes, que levará à eliminação desta doença no arquipélago, a vacinação anti-variólica, que atinge já 80 por cento da população, e a campanha agora iniciada, talvez a mais importante actualmente, que tende a combater a tuberculose e que chamará a atenção para problemas Intimamente ligados, como o da habitação e o da alimentação.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Citamos estas realizações porque consideramos os esforços despendidos pelos seus responsáveis para além daqueles que se impõem a todos os médicos portugueses conscientes da sua posição no conjunto nacional, mas nunca no enunciado anterior citei um nome; fi-lo expressamente, não só porque estou certo de que qualquer médico consciente faria o mesmo do que aqueles que o fizeram, mercê da posição que ocupavam ou ocupam, como também porque creio que em todos os que trabalharam ou trabalham para o ultramar se encontra o mesmo espírito, espírito que nada mais é do que o reflexo das qualidades positivas que possuem todos os elementos de uma classe tão nobre e, infelizmente, por vezes, tão mal compreendida, classe que se deve dignificar, não para procurar louvores, mas para que se mantenha o reconhecimento público dá sua utilidade, com inteira responsabilidade da sua actuação. Se falo expressamente no médico do ultramar, faço-o porque é nesse sector que tenho ligada a minha actuação; sempre no decurso do meu modesto trabalho tive no espírito um exemplo: o de um médico que sacrificou a totalidade da sua vida profissional no cumprimento de um dever, o dever de um «médico do mato», o que equivale a dizer de um homem que, no seu campo de acção, como qualquer português, se dedicou aos povos que, perante a História e perante a Moral, nos obrigámos a defender e fazer progredir.
E é este espírito que sempre animará, espero, a actuação dos que trabalham no ultramar, para bem merecerem da nossa heróica mocidade que aí se sacrifica na certeza de que Portugal só será Portugal pelo conjunto de todas as suas parcelas.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Valadão dos Santos: - Sr. Presidente: Muito se tem falado, se tem escrito e discutido acerca do problema do turismo nas suas múltiplas implicações na vida de um país. E se não há dúvida de que, no que nos diz respeito, nem toda a espécie de turismo nos interessa, é uma verdade incontestável que, não obstante todos aqueles contras que lhe reconhecemos, ele é de grande benefício para a Nação. A substancial soma de divisas que arrasta consigo, a par do desenvolvimento económico e regional que provoca, são vantagens materiais de tal monta que não as podemos menosprezar. Daí a atenção que o assunto tem merecido ao Governo, e continuará a merecer, estamos disso certos.
Na metrópole, os pólos de atracção turística têm sido, além da capital, o Algarve e a Madeira. E isto por um conjunto de circunstâncias às quais não são estranhos nem a situação geográfica, nem o clima, e em que o sol e o mar têm papel deveras preponderante. O afluxo de turistas a estas regiões já começa a processar-se de tal ordem que há que descobrir novos centros de atracção, se não quisermos estagnar. E como prova desta expansão basta referir-se que no período de 1961 a 1966 se passou, nas receitas provenientes do turismo, de 890 000 contos para 7 476 000 contos, o que já nos leva a poder afirmar que o País está a atingir neste campo aquela posição tão ardentemente desejada.
Ora, no que diz respeito a turismo, os Açores acalentam legítimas aspirações e ambições. E aspirações, porque têm, graças a Deus, de sobejo, aquilo que o turista procura: as belezas naturais, a amenidade do clima, a excepcional temperatura das suas águas, a lhaneza das suas gentes e, sobretudo, a quietude e o repouso tão procurado e ambicionado neste mundo febrilmente agitado dos nossos dias.
São nove ilhas de sortilégio, em que todas se completam e em que o turista, ao passar de uma à outra, descobre sempre diferenças e motivos de interesse, tão necessários a quem hoje busca a novidade.
Desde Santa Maria, por onde Colombo passou, até ao ineditismo dessa ilha singular que é o Corvo, em todas elas há muito que descobrir, que ver e admirar. É S. Miguel, com a beleza das suas lagoas e com as deslumbrantes caldeiras -únicas no Mundo- e um verde proliferando por toda a parte: ela chama-se, e com razão, a «Ilha Verde». É a Terceira, talvez a mais típica, e com um passado histórico tão cheio de interesse, e dotada com a mais bela praia das ilhas - a Praia da Vitória, ali à ilharga desse grande aeroporto que são as Lajes. E a Graciosa, com uma caldeira que só por si constitui motivo de atracção. E que dizer a esse conjunto ímpar que é S. Jorge, Pico e Faial, em que nós não sabemos que admirar mais: se as escarpas e fajãs da primeira, se a imponência e majestade da segunda, ou se as vistas excepcionais do Faial, em que o vulcão dos Capelinhos fez notícia e ainda é, hoje, motivo de enorme curiosidade. E, finalmente, que dizer dessa ilha plena de beleza que é a das Flores, o ponto mais ocidental da Europa.