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15 DE DEZEMBRO DE 1967 2139

Tudo isto, e muito mais, como, por exemplo, a temperatura excepcional das águas e a abundância e variedade de peixes, tudo isto, ia a dizer, torna este arquipélago um apetecido e cobiçado centro de turismo.
E diga-se de passagem que, sobretudo mercê do papel relevante das diversas Casas de Portugal e da T. A. P., elas começam, enfim, a ser descobertas para o quadro internacional do turismo. E é verem-se agências de viagens francesas, inglesas, alemãs e norte-americanas altamente interessadas em incluir os Açores nos seus esquemas de viagens.
E é ver-se o aparecimento, quase simultâneo, de depoimentos singularmente valiosos - por insuspeitos - e elogiosos na grande imprensa internacional, como sejam os desses colossos de-tiragem que são o Sunday Express e o Sunday Times, pelas penas dos respectivos enviados especiais, De Fries e Elisabeth Nichols -dois especialistas em questões de turismo -, em que aquele fala da explosão para a indústria turística, dentro desta década, das ilhas dos Açores, que considera as mais belas do Mundo. Por outro lado, escritores como Albert T. Sertevens (Le Periple des Iles Atlantides) e Yves Gandon escrevem livros sobre os Açores enaltecendo toda a sua beleza e todos os seus valores humanos e folclóricos, apreciando, até, o primeiro a Praia da Vitória como a mais bela praia do arquipélago.
Como se vê, uma unanimidade de opiniões acerca das potencialidades turísticas daquelas ilhas, que há que explorar.
Mas, além de tudo o que foi dito, e que só por si eram condições mais que suficientes para atrair o turista, há, sobretudo, uma outra, que só a Madeira e os Açores podem dar, se bem que com mais vantagem para aquela, e que é o turismo de Inverno. Por muito curioso que pareça - pois aqui, no continente, as ilhas açorianas a esse respeito gozam de má fama, à qual não é estranha a rádio e a TV, quando propalam que nos Açores, ao norte ou ao sul - note-se, ao norte ou ao sul- está centrada mais uma depressão. E digo note-se porque na grande maioria dos casos é mesmo ao norte ou ao sul, mas raras vezes se situa nas próprias ilhas. O que leva toda a gente a cometer o erro de dizer que o mau tempo vem dos Açores! Não há dúvida, e para sermos verdadeiros, a pluviosidade é bastante elevada, e o grau de humidade também. Mas há uma coisa que o turista procura sobretudo: é fugir ao frio, esse frio que normalmente avassala toda a Europa e América. Por aqui andamos todos a tiritar e nas ilhas está-se a 18º. E não se diga que é um acaso.
Nos Açores não há grandes amplitudes térmicas: o termómetro oscila entre os 12º e os 25º. Daqui a amenidade da sua temperatura, um convite sem reservas para aqueles que andam metidos nos 0º aos 10º negativos. É este mais um ponto a ter em consideração e que também muito pesa a favor do turismo ilhéu.
Ora, como consequência de todos estes factores conjugados, e que acabei de enumerar, isto é, as nossas excepcionais condições naturais e o conhecimento que delas se vai tendo no Mundo através, sobretudo, da grande imprensa, começam a aparecer grandes empresas, umas constituídas apenas com capital estrangeiro, outras com capital português e estrangeiro, que estão vivamente interessadas na utilização de complexos turísticos, quer no Faial, quer na Terceira - na Praia da Vitória, quer em S. Miguel - na Praia do Pópulo. Os terrenos do Pópulo já se encontram vendidos para esse fim, e quanto à Praia da Vitória há já um estudo prévio cuja construção, avaliada em cerca de 100 000 contos, se estende por uma área costeira de 20 ha.
Começa assim, Sr. Presidente, o turismo a despertar nos Açores. E, uma vez lançadas as infra-estruturas, há que planear e estruturar. Planear, sim, mas não asfixiar iniciativas como estas, pois a asfixia, neste caso, é a morte. O Governo terá, através dos respectivos departamentos, que ajudar, que estimular por todos os meios, para assim, e sem demoras, se passar aos factos concretos. O contrário será cair no marasmo e na indiferença em que temos vivido até aqui, e com sérias consequências para a depauperada economia daquelas ilhas.
Falei há pouco nas infra-estruturas, sabido que em turismo elas são sobretudo, além dos complexos hoteleiros, as comunicações, as quais, como é do conhecimento desta Câmara, têm sido objecto de várias intervenções da minha parte. Quanto às comunicações marítimas, cuja nítida melhoria se verificou, principalmente, ao longo de todo este ano, e com a qual já me congratulei, tenho apenas um pequeno apelo a fazer a quem de direito. E que se mantenha simplesmente o itinerário actual, isto é, que se mantenha o Funchal a servir plenamente as três capitais de distrito em todos os meses, e não como parece querer-se programar. Aqui fica o apelo, ciente de que encontrará a melhor compreensão, para o que se nos afigura da maior justiça.
E, se as comunicações marítimas se encontram em sensível melhoria - factor imprescindível no desenvolvimento turístico -, há, todavia, que dizer alguma coisa acerca da estrutura aeronáutica do arquipélago.
Não há dúvida de que estamos finalmente a caminhar a passos largos no desenvolvimento da rede de aeródromos nas diversas ilhas. Santa Maria e Terceira já possuem dois aeroportos bons em qualquer parte do Mundo; em S. Miguel está-se construindo o da Nordela. O do Faial acaba de ser adjudicado. E. nas Flores trabalha-se afanosamente no aeroporto. Na Graciosa deram-se os primeiros passos com a escolha do lugar e respectivo levantamento topográfico. E já agora falta apenas S. Jorge, sabido que o Pico vai beneficiar muito directamente do que se está construindo no Faial. Uma vez que, praticamente, todas as ilhas vão possuir aeroportos, justo será estudar-se o caso de S. Jorge, pois ela é indispensável ao contexto turístico açoriano. Além disso, há também um factor de ordem humana a ter em conta: é que nas ilhas mais pequenas do arquipélago é dificílimo provê-las com os necessários requisitos cirúrgicos. O mar, e muitas vezes a distância, não deixa que se salvem muitas vidas, o que não sucederia se fossem transportadas para aquelas, mais bem apetrechadas cirurgicamente, como sejam S. Miguel ou Terceira. Só o avião lhes poderá valer, e até, nesse aspecto, a construção de um pequeno campo em S. Jorge se justifica e se impõe.
Mas, além de tudo isto e da necessidade de se planear, quanto antes, o uso dos dois aeroportos mais importantes, como sejam Lajes e Santa Maria, há também um assunto de magna importância para o descobrimento turístico açoriano e para o qual queria chamar a atenção do Governo. Refiro-me aos voos chaarters, cuja importância será desnecessário realçar, tanto mais que no novo Plano de Fomento a eles se faz referência. Aí reconhece-se o papel de promoção de novos centros e correntes de tráfego que têm desempenhado os voos de fretamento e que nada se fará, a médio prazo, para coarctar a contribuição que têm assegurado ao crescimento das indústrias turísticas metropolitanas. Por aqui se deduz que esta espécie de voos é de real importância para o desenvolvimento turístico. Há, pois, que liberalizar, e não restringir, e adoptar uma política que lhes permita desempenhar o papel preponderante que têm no crescimento turístico do País,