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2140 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 113

política esta, aliás, já seguida noutros centros em que o turismo se encontra em pleno desenvolvimento.
Ora, para os Açores, e no que diz despeito à Terceira, não pedimos nem a construção de um aeroporto, pois já possuímos um, a todos os títulos excelente - o das Lajes -, pedimos sim, e mais uma vez, a sua utilização por aviões comerciais e, de uma maneira especial, fazendo uso dos charters. Estes voos já são utilizados naquele campo pelos Americanos. Porque não outras companhias? Sem autorização para os charters, praticamente nada feito, pois deles depende, principalmente, o interesse do investimento nesses complexos turísticos e, obviamente, o desenvolvimento do turismo naquelas tão portuguesas ilhas do Atlântico.
Aguardo, Sr. Presidente, que estas considerações aqui sumariamente expostas sejam estudadas por parte do Governo com aquele carinho e aquele interesse que os Açores devem merecer na realidade.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Pinto de Mesquita: - Sr. Presidente: Atrevo-me a desviar por alguns minutos a atenção operosa desta Câmara, a braços com a Lei de Meios, demais, logo imbricada no Plano de Fomento. Mas, tal como para estes diplomas, prazos são prazos, e não queria ver esgotar o ano de 1967 sem que nesta Assembleia algo se houvesse dito sobre o decorrente centenário de António Nobre, nascido no Porto em 16 de Agosto de 1867. Como Deputado por aquela cidade e com a aquiescência dos meus colegas de círculo, é o que ora me proponho fazer.
Determinou a Câmara do Porto, atendendo à coincidência da efeméride com o período de férias, abrir o ciclo de homenagens em fins de Novembro. Assim se fez, e promoveu a mesma Câmara, na Casa do Infante, com o apoio da Biblioteca Municipal, bem ordenada e ilustrativa exposição biobibliográfica relativa à pessoa e obra do grande e malogrado poeta.
A abertura desta exposição foi acompanhada por uma sábia e penetrante conferência do Sr. Prof. Costa Pimpão. Outras manifestações culturais sobre o poeta ali se têm vindo sucedendo, de que, sem desprimor, me ocorre destacar a conferência do Sr. Prof. Luís de Pina.
O Município de Matosinhos já se tinha antecipado em equivalentes homenagens com o concurso prestigioso de Hernâni Cidade, Vitorino Nemésio e Gaspar Simões.
De igual sorte, a Câmara de Coimbra, onde se fez ouvir o verbo eloquente do nosso ilustre colega Prof. Lopes de Almeida.
E não será esta também a altura de Lisboa municipal atribuir ao poeta a graça de alguma lembrança comemorativa para além do nome da rua que já tem e de profecia do Beco do Fala Só?
Ao poeta que tão sentidamente cantou Lisboa das Naus Cheias de Glória em oitavas camonianas?
Mas Nobre não é só o poeta que soube valorizar - e de que maneira! - estas e outras terras por onde, na sua vida nómada, o destino e a desdita da sua doença o fez passar. Mas Nobre, em parte decerto pela virtude activa e passiva dessa transumância, tornou-se um grande poeta de sentido nacional, e mal pareceria que nesta Assembleia, precisamente Nacional, se não repercutissem ecos das comemorações, oficiais ou não. É que o seu centenário tem dado largo motivo. Neste particular, a imprensa, quer diária, quer de revistas, sobretudo literárias, tem dado também à obra do poeta bem merecida importância.
De que Nobre haja sido grande poeta, rendidos o reconhecem, mesmo os mais relapsos. Mas o seu timbre dominante de nacional (por trás do velame das crepes, timbre muito mais dominante do que o fúnebre) é que em certos provoca engulhes que se dilatam até às contraditas.
Estas, as contraditas, não se formulam de negação a que em Nobre esse timbre seja nacional de cerne, mas precisamente por esse timbre lhe impregnar a obra, expresso ou subjacente. Assim, é sobretudo visado pelo que, através do influxo da finíssima sensibilidade, tem o condão de, avassaladoramente, transmitir a quem o leia.
De quanto perdure viva a obra deste poeta, basta notar que o Só, publicado em 1892, alcançou já treze edições! E que outro poeta, desde o início do romantismo, se poderá gabar do mesmo?
E esta receptividade do público não obstante o que naquela obra se exterioriza de sobrecarga funérea, tão ao arrepio dos tempos em que, de há longe, vivemos; que estes tempos, desenrolando-se prenhes de sobressaltos e riscos, distraem-nos precisamente do inevitável da morte e amarram-nos, militantes à vida.
Reparadora lei das compensações!
Como exprimir o choque de novidade emocional que a obra de Ante provocou nos da minha geração, ávidos de letras?
Direi algo do que me toca pessoalmente - aliás sob tom familiar, tão do gosto de Nobre.
Ocorreu-me logo a coincidência de eu ter nascido na mesma freguesia de Santo Ildefonso, em que ele viu a luz do dia. Frequentei, infantil banhista, Leça e o seu «Bio Doce», fechado no seu «túnel» arbóreo, tudo hoje sacrificado ao progresso de Leixões e apenas subsistente nas telas dos pintores. Crescendo, também eu por ali «razei» - não digo «rezei» - a «ladainha das velas»; por vezes cheguei até à então remota «Boa Nova», ermida hoje em termos de se ver bem ermada pelas tenazes do despótico petróleo.

Risos.

Passando do marítimo ao rural, as vizinhanças do «Seixo» foram as minhas.
Os lugares e paisagens, os mesmos: Casais, Borba, Regadas, a Tapada de D. Luís, onde tinha sido de uso - mas muito antes dele já - saírem ladrões, nominalmente o Zé do Telhado.
Pelo tocante à paisagem humana, ainda conheci o «rubro e gordo Cabanelas», o «Dr. da Presa Velha», e pratiquei com alguns dos «Srs. Abades de Amarante», com os seus sabidos «sobrinhos» e como tais aceites.
Ora, quando nos meus 15 anos, aluno de Campolide, por 1904, me foi dado comprar, ali em baixo ao Rossio, na já também quase centenária Mónaco, e só, a sua leitura constitui para mim, por de mais assim preparado, compreensível deslumbramento.
Novato pouco depois em Coimbra, tive o ensejo de palpar quanto a minha devoção por Nobre era partilhada pelos incipientes literatos meus condiscípulos: Sardinha, vindo do Alentejo; Veiga Simões, de Arganil; Mereia, de Lisboa; Hipólito, da Cova da Beira, e Alberto Monsaraz, esse, dizíamos brincando, nativo do Sud-Express.
E ainda outros meus mais ou menos contemporâneos: Afonso Duarte, Augusto Casimiro, Mário Beirão, João do Amaral ...
A admiração por Nobre logo fora partilhada por estreito cenáculo dos seus amigos - de que me cumpre recordar Alberto de Oliveira, que nas Palavras Loucas se constituiu teorizante arguto do significado nacional da sua mensagem.