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2 DE FEVEREIRO DE 1968 2349

bermos o seu conforto, o seu exemplo, o seu estímulo ao serviço de Cristo e da sua igreja.

E o Prof. Ramos Lopes, no plano puro da vida científica, acrescentou:

Se no sector da cardiologia clínica e científica João Porto procurou ser homem do seu tempo, no sector da cardiologia social procurou e conseguiu ser homem do futuro.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Pois, Sr. Presidente, é a esse espírito de homem bom e generoso, de mestre e homem de ciência, de figura exemplar de médico e de católico, como dele disse o Prof. Toscano Rico, é a esse nosso companheiro de credo, nosso colega de trabalho nesta Câmara, meu comprovinciano dos mais ilustres e que tanto honrou e serviu e engrandeceu a sua pátria pequena, o seu Alto Alentejo, é a esse enternecido e inesquecível amigo que eu rendo esta homenagem de sentido respeito e gratidão.
E porque juntei dois homens grandes do Alentejo que alguma coisa de si mesmo deram à Universidade de Coimbra e dela, como discípulos e como mestres, tudo receberam, consinta V. Ex.ª, Sr. Presidente, que esta .homenagem nossa, desta Câmara, vá também directamente apontada à própria Universidade - o que havia de ser grato aos espíritos de Mendes dos Remédios e de João Porto -, essa Universidade aqui tão largamente representada em mestres e em alunos, como ali ao lado na Câmara Corporativa, essa Universidade que nos deu V. Ex.ª para nos presidir com a distinção com que o faz, como já nos havia dado outro grande mestre, o meu sempre lembrado e chorado amigo Prof. José Alberto dos Reis, como nos deu um aluno que ali se formou, o Dr. Albino dos Reis, que com tanta dignidade presidiu, em várias legislaturas, aos trabalhos desta casa, como nos deu como leader um homem do nível e da craveira mental do nosso leader Soares da Fonseca, essa Universidade, Sr. Presidente.
Eu ouso expor claramente todo o meu pensamento ... Anda aí, no pobre mercado das chãs políticas, um livro triste e feio - não encontro termos, nem mais feios, nem mais tristes -, livro que pretende denegrir um homem que já se elevou acima de todas as contingências e não hesita, para isso, em achincalhar e degradar uma instituição, precisamente a Universidade de Coimbra, dizendo ser opinião do comum das gentes terem lá sido educadas gerações não no sentido do progressismo justicialista - oh! a passiva complacência das palavras retumbantes! -, mas, sim, no sentido da retrogradação espiritual da . grei! O comum das gentes a pensar isto tudo.! É confrangedor, Sr. Presidente, e aqui estou eu, que não fui aluno dessa Universidade, a lembrar dois nomes sagrados na minha admiração e no meu respeito, que foram de certeza elementos de justiça e de progresso da grei e puderam sê-lo, chegando ao fim das suas carreiras sem rancores na vida e sem ódios no peito.
Nem a todos é dado viver assim caminhando para o fim; e se hoje aqui evoquei com sentida lembrança e singela saudade dois homens que partiram primeiro, fi-lo na certeza de que lhes bastou para servir a grei seguir apenas pelos nobres caminhos da inteligência, do trabalho e do saber, com um grande pedaço de amor no coração e na alma um profundo sentido de generosidade e de beleza.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

Ordem do dia

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Vaz Pires para efectivação do seu aviso prévio sobre o ensino liceal a cargo do Estado.

O Sr. Vaz Pires: - Sr. Presidente: Quando em 1938 concluí a minha licenciatura com destino ao magistério secundário, era o ensino liceal uma actividade respeitável, a todos os títulos prestigiada e desejada por homens e mulheres. Havia muitos mais candidatos a este grau de ensino do que os que a actividade docente requeria, e pôr isso se havia determinado que a admissão ao respectivo estágio pedagógico ficasse subordinada ao preenchimento das vagas que superiormente fossem estabelecidas em cada ano e para cada grupo e que essa admissão se fizesse através do chamado exame de admissão ao estágio, para, através dele, mais facilmente se impedir que o número de professores diplomados viesse a exceder em muito as necessidades docentes e para se poder fazer a selecção dos mais aptos como convinha.
Na verdade, como já dissemos em comunicação anterior, desejava-se ser professor do liceu, desejava-se sinceramente pertencer a uma classe que gozava de prestígio evidente em toda a parte e com inteira justiça, pela importância inegável da sua actividade para a vida do País e para a valorização espiritual dos Portugueses, pela cultura especial de que dispunha e até porque o professorado liceal foi, muitas vezes, «viveiro» ao serviço do ensino superior, fornecendo-lhe elementos que, tendo honrado de modo singular o ensino secundário, vieram a ser figuras de primeira plana no ensino universitário. Assim sucedeu - para só citar nomes que a minha memória reteve - com Leonardo Coimbra, Agostinho de Campos, Hernâni Cidade, Damião Peres, Costa Pimpão e outros, que a Universidade convidou para as suas cátedras pela sua cultura, pelo- seu real valor e pelo prestígio que haviam alcançado durante o exercício do magistério liceal.
Desejava-se, na verdade, ser professor do liceu, como o prova a circunstância, aqui também já referida anteriormente, de em 1938 se terem apresentado a exame de admissão ao estágio nada menos de 37 candidatos só no 3.º grupo, número que contrasta flagrantemente com os 3 candidatos do 1965 ou com as 4 senhoras admitidas em 1967.
Nestas duas últimas décadas temos vindo a assistir a duas grandes realidades que, na sua evolução, se acompanham em contraste aflitivo, assustador: uma a todos os títulos desejável - o aumento verdadeiramente extraordinário da população escolar dos liceus, que parece não caber em parte nenhuma, prova irrefutável da consciência da necessidade de se educar e instruir; a outra verdadeiramente dramática, preocupante, ameaçadora até de toda a obra educativa - a diminuição vertiginosa do número de candidatos ao magistério liceal e a consequente redução do número de professores diplomados e a inevitável entrega da actividade docente dos liceus nas mãos de pessoas sem a habilitação legal para o exercício de tal tarefa e tantas vezes sem preparação científica ou pedagógica que as recomende para função de tão decisiva importância. Através de campanhas nacionais em boa hora levadas a cabo, ensinámos o povo a sentir a necessidade de se educar e instruir, para agora cairmos na embaraçosa situação de não lhe fornecermos professores que o ensinem.