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2392 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 132

Outra conclusão me atrevo também a tirar: o desconhecimento da psicologia dos alunos constitui uma causa grave da crise denunciada no aviso prévio.
Há que prestar a devida homenagem à dedicação e ao espírito de sacrifício de tantos educadores dos nossos filhos, perante circunstâncias pouco propícias a um trabalho útil e compensador. Compensador, sim, não no sentido material de uma remuneração justa e da expectativa de uma ascensão na vida que dê também a eles, aos professores, a possibilidade de terem filhos e de os verem criados ei educados. Antes me refiro às alegrias que devem sentir quando se vêem respeitados pelos alunos e compreendidos pelos pais.
Mas esses não se limitam a repetir nas aulas a lição bem ou mal estudada em casa, sem interesse que não seja o de exercer uma função pública com o menor esforço, indiferentes ao aproveitamento dos seus alunos, chamando a si, para justificar os resultados do magistério, os mais bem dotados e lançando implacàvelmente no limbo ao fundo da aula aqueles que não forem capazes de os entenderem. Que tem feito a Inspecção do Ensino Liceal para corrigir estas distracções?
Não concebo que a classificação dos alunos se faça, como acontece tantas vezes, por um único exercício escrito no período, sem que ao aluno se dêem outras probabilidades de mostrar o aproveitamento, pois que acontece a muitos, em turmas numerosas, não chegarem a ter qualquer contacto oral com o professor.
Não estará aqui outra causa grave da crise assinalada no aviso prévio?
As épocas de exames são novo calvário para os alunos, para as famílias e para os professores.
Discutem-se muito, sobretudo nessas ocasiões, os méritos ou os deméritos, as vantagens ou os inconvenientes, do sistema de provas, se escritas, se orais, se escritas a orais.
Não me quero meter na apreciação da questão, até para não ser muito longo. Ela dava pano para mangas, perdõe-se-me a expressão. Mas adiro à opinião, aqui formulada pelo ilustre Deputado avisante, de que às provas orais só deveriam ser chamados os alunos que obtivessem uma determinada classificação nas provas escritas, um 12, por exemplo, como se alvitrou, ou um 10, como me parece suficiente.
As provas escritas fazem-se hoje sobre pontos na generalidade aceitáveis, quer quanto ao cuidado na sua elaboração, dentro dos programas e sem aquilo a que se costumava chamar «rasteiras», mas com as necessárias exigências de selecção.
No passado ano lectivo as habituais reclamações e protestos diminuíram de intensidade e violência, apesar das elevadas percentagens de reprovações.
Só conheço um caso de erro grave, e, esse, que, perturbou de certa maneira os examinandos. Um dos pontos de desenho do 2.º ciclo exigia medidas que não cabiam no papel destinado aos alunos;... Acontece!
Todavia, insisto, o número de reprovações nas provas escritas foi avultado.
Não teria contribuído paru isso um critério demasiado exigente nas classificações e o pouco tempo concedido para algumas provas?
Uma revista de Lisboa, que me merece crédito, publicou num dos seus últimos números os resultados das provas escritas dos exames do 2.º ciclo feitos em quatro dos liceus da capital. Verificaram-se os seguintes resultados, que dispensam comentários: em Ciências Naturais prestaram provas 318 alunos e reprovaram 145; em Matemática, 276, e reprovaram 121, em Inglês, 486, e reprovaram 183, e em Português, 366, e reprovaram 134.
O que, se passou nesses liceus foi comum, na generalidade, ao resto do País. Afirma-se que na Matemática do 3.º ciclo foram eliminados, nas provas escritas, 80 por cento dos examinandos!
O Ministério da Educação Nacional tornou públicas as recomendações feitas sobre a conduta dos professores nos exames em relação aos alunos. Só há que agradecer e louvar a providência, que, aliás, estou certo, só respeitava a um número limitado de professores.
Mas teria ela sido cumprida? Estou habilitado a responder que não; pelo menos não produziu em relação a todos os professores visados os indispensáveis resultados. Houve casos graves que a Inspecção e os reitores devem ter apurado e corrigido.
Por outro lado, a forma como se organizaram no ano lectivo anterior as provas orais em alguns liceus merece o meu protesto mais veemente pela desumanidade e falta de respeito pelos mais elementares direitos dos examinandos.
No liceu de que V. Ex.ª, Sr. Deputado Vaz Pires, é prestigioso reitor, dias antes de se iniciarem as provas orais já todos os examinandos sabiam os dias o as horas a que deveriam prestar provas de cada disciplina. Noutros liceus, todavia, nos exames do 2.º ciclo chamavam-se com antecedência de poucas horas, para cada dia de provas, dez ou doze alunos, que tinham de comparecer às 8 horas e 30 minutos da manhã, sob pena de serem considerados em falta, mesmo que, porventura, só entrassem a exame da parte da tarde. E, a acrescer, não sabiam sequer os alunos quais as provas que iriam prestar. Era segredo do respectivo júri... segredo revelado apenas quando o presidente do júri os chamava a sentarem-se na cadeira do pretório, por vezes banco de réus...
O tormento de serem obrigados a permanecer um dia inteiro à espera da hora incerta da chamada e na ignorância da disciplina a que teriam de responder causou, como é de supor, efeitos psíquicos ofensivos do ambiente de tranquilidade que compete aos reitores do liceus criar à volta de actos de tão importantes consequências como são os exames.
E, como este, outros casos, que revelam uma disparidade de critérios a que a Inspecção do Ensino Liceal se mostra indiferente.
Apenas mais um apontamento sobre exames. Não sei se haverá vantagens no regime de anonimato das provas escritas.
Por princípio custa-me a admitir que para dar independência de julgamento aos professores encarregados de classificar as provas se haja recorrido a um sistema que apenas os liberta do incómodo das chamadas «recomendações». Faz-me lembrar os magistrados que chegam de novo às comarcas para onde. foram nomeados e levam aquilo que julgam ser a prova da sua independência: não ter relações seja com quem for, fora do tribunal.
Há quem ache o sistema defeituoso. Desde que as provas são julgadas não apenas por um único professor dotado, portanto, do mesmo critério de apreciação em relação a todas elas, o relativo dessa apreciação apenas poderia ser influenciado pelo estado psíquico do julgador, porventura variável em função, por exemplo, do próprio estado do tempo.
Mas como são chamados muitos professores a fazer a apreciação e o julgamento das provas, por vezes mais do que em cada liceu, claro que o seu critério, embora baseado em tipos determinados pela Inspecção, resulta