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2894 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 159

quando as forjas do mal arrastaram o Mundo para o bloqueio diplomático e económico da Espanha, destinado a estrangulá-la o a puni-la por ter lutado pela sua liberdade e pela liberdade da Europa, este país não receou ver-se isolado, com a Argentina, mantendo o seu embaixador e desafrontando da injúria e da ingratidão a grande e nobre Espanha.
Quando as náquinas de guerra rondavam sinistramente as fronteiras a Espanha e de Portugal de aquém e de além-mar, ameaçando uma neutralidade que era simultaneamente direito e dever, até porque a ninguém prejudicava e a todos servia. Portugal e Espanha uniram-se fraternalmente, decididamente, para defenderem a sua segurança e a sua paz, não egoísticamente, mas em proveito de todo?. E a noite, que descera sobre a Europa, foi detida nos Pirenéus.
Do lado de lá não se apagou a luz da humanidade. Este canto do planeta transformou-se num oásis de paz, defendido dos ciclones de violência, fogo e sangue. Serviu de refúgio aos foragidos e perseguidos, a todos, sem curar de convicções políticas ou religiosas.
Quando a Perra era planeta beligerante, açougue de gerações de juventude e cemitério de nações e de civilizações, aqui mantinha-se fidelidade aos valores da vida e construía-se o futuro no trabalho. E, chegado o momento de poder contribuir, com riscos embora, para acelerar o advento da paz e reduzir o número de vítimas a sacrificar, facultou-se a actualização das bases dos Açores.
Sr. Presidente: Com o cessar das hostilidades não acabava o terror. O império de todas as Rússias constituía um pesadelo para todos os povos livres, e muito particularmente pira os da Europa Ocidental. E foi aqui, à beira do Atlântico português, que se lançou, tão modesta como lucidamente, a ideia da N. A. T. O., mais tarde apostolizada por Churchill, apoiada pela América e concretizada peles povos livres mais directamente ameaçados numa das horas mais negras da angústia europeia.
No momento em que a cobardia de uns, a deslealdade de outros e a cumplicidade de terceiros fizeram ou consentiram no escândalo do assalto a Goa ... um espinho se cravou no coração dos Portugueses. Goa é hoje uma base antiocidental, ... mas continua no coração de todos e, muito especialmente, no daquele que foi, em quarenta anos, o primeiro resistente e o primeiro combatente. «A questão de Goa não acabou, começou agora», declarou então. Defendeu a Pátria, não por ter pegado em armas, nem só por ser possibilitado a reorganização das forças armadas de turra, mar e ar, nem apenas por ter ordenado «... para Angola, depressa e em força», quando a Nação parecia titubear de atordoada com o golpe inimigo. Mas por ter consagrado à Nação, e totalmente, a vida inteira. E o amor a Pátria, como lembrava Ribeiro Sanches, no século XVIII, «não consiste em perder a vida por ela, atacando um corsário ou subindo por uma brecha; a glória que redunda «lestas acções recompensa bem o perigo; este amor consiste em ser útil e em aumentar por todos os meios a sua conservação e a sua grandeza: ama a sua pátria aquele que, podendo comprar um vestido de pano da Inglaterra o manda fazer de pano da Covilhã».
Sr. Presidente: Faz bem recordar estas palavras quando alguns tentam reduzir a Pátria a uma abstracção ou pieguice, fantasia ou capricho ... e ousam sentá-la no banco dos réus, como responsável pelas guerras, sugerindo-se até o extermínio das pátrias para acabar com as guerras de extermínio. As guerras, porém, não nascem das fronteiras, mas no coração e no cérebro dos homens. Quando estes confundem direito com egoísmo, justiça com força, moral com situação verdade com ideologia e ideologia com divindade, a paz convertesse num impossível.
Quando as ingratidões e as ambições e os imperialismos ideológicos e económicos, etiquetados de humanitarismo, desencadearam a violência em nossa casa, a voz de um homem falou pela humanidade, um português pelos Portugueses. E poucas vezes um homem teve mais razão a seu lado. E nunca um português interpretou mais autenticamente os sentimentos dos seus concidadãos. E a juventude tomou posições nas fronteiras e encetou o combate pela defesa de vidas, segurança, trabalho e liberdade de todos os cidadãos de todas as províncias. E com a serenidade e firmeza, decisão e dignidade, que o mundo se vai habituando a respeitar e admirar, como glória de Portugal e serviço da humanidade! E tão solícito foi quem a convocou, em defendê-la do inútil sacrifício da intervenção na Segunda Guerra Mundial, como decidido em chamá-la às armas, entregando-lhe a honra e o futuro da comunidade.
Sr. Presidente: Não foram menos admiráveis as mães portuguesas. Tão grande foi a sua gratidão ao vigilante e indefeso defensor da paz, com a sua generosidade ... na oferta do sacrifício, sangue e vida dos filhos ao futuro do País. Há muito tínhamos ouvido, todos, que «a educação deve integrar a juventude no amor da Pátria, da disciplina, dos exercícios vigorosos que a preparem e disponham para uma actividade fecunda, e para tudo quanto possa exigir dela a honra e o interesse nacional».
Este longínquo e quase profético apelo não caiu no vácuo. Foi ele, aliás, oportunamente repetido, quase à maneira de uma pedagogia: «O sistema educativo tem de ser dominado pelos princípios do dever moral, da liberdade civil e da fraternidade humana.» E assim se cumpriu um programa, na fidelidade a uma directiva nacional: «Marcar no Mundo uma posição, sem afrontar ninguém.»
Sempre que c fizemos, defendemo-nos e servimos a civilização. Sempre que abdicámos, entregámo-nos à discrição dos outros, só em proveito das forças do mal ou dos inimigos da nossa paz e prosperidade. Estou a pensar na Guerra dos Cem Anos e no Cisma do Ocidente, numa Europa dividida política e religiosamente, num continente degradado e numa Igreja achincalhada, numa Europa e numa Igreja cercadas económica, política, religiosa e militarmente. Portugal não se deixou enredar nestas quezílias continentais, que só podiam conduzir à catástrofe. Fiel à fé, a si mesmo e à Europa, salta a Ceuta e circunda a África, fazendo passar a Europa de sitiada a sitiante. E o fatalismo muçulmano não cilindrou as jovens nacionalidades europeias, onde fermentava a civilização moderna.
Penso ainda no século XVI, quando as nações da Europa eram teatros sangrentos de intermináveis e devastadoras guerras civis e religiosas, quando a Igreja ficou reduzida quase só a Portugal, Espanha e Itália numa Europa eufòricamente reformista. Nas duas Penínsulas - Itálica e Ibérica - se defendeu a doutrina e, com ela, a paz. E nelas se firmou a Igreja para recuperar a sua catolicidade de direito e de facto, geográfica e humana, reconquistando posições na Europa e expandindo-se nos outros continentes.
Também a história da Europa e do Mundo, nos últimos quarenta anos, recebeu algo de Portugal e não se projectou no tempo sem a assinatura do povo português e a sombra do grande timoneiro da Nação. E quando as nações europeias retiravam, entregando os Africanos a um dos mais lancinantes dramas da História, vítimas de uma impreparação e de ambições e de invasões, Portugal olhou só para a sua consciência e a sua responsabilidade ... e ficou, desacompanhado e hostilizado. Mais que para defender o seu direito e populações, para servir a Europa e a civilização.