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9 DE JANEIRO DE 1969 2895

Sr. Presidente: Não há homens perfeitos nem obras acabadas numa sociedade em evolução acelerada. Do facto teve o grande timoneiro noção muito clara. Numa das suas últimas declarações, lamentava-se de não ter podido fazer mais, apesar de recordista mundial da continuidade governativa. Como os estadistas do Mundo inteiro sentem o peso da sua dramática limitação para construir a paz e resolver os problemas que a ela conduzem. Mas, todos o sabemos, não há quadros sem algumas sombras, simplesmente o artista, que só descobre as sombras não vê o seu quadro. E os que viram o jovem estadista subir, pela primeira vez. os degraus das escadas do Terreiro do Paço nunca sonharam com tanto e, muito menos, com o «milagre português» dos últimos sinos, preparado nos primeiros e seguintes.
Foi ele quem disse que só Deus sabe quem é grande. Mas Portugal sabe (e nem o Mundo já hoje o duvida) que serviu devotadamente a comunidade nacional e a internacional; que não pregou ódios; que não ateou incêndios, mas se esforçou por apagá-los; nunca pacificista, amou a paz como poucos; nunca demagogo, protestou contra o regresso à selva e respeitou a pessoa humana; isolado para estudar e presente para decidir; incansável no trabalho, os humildes ou vítimas de erros ou de injustiças sempre viram relê um discreto, mas eficaz protector e amigo.
Não se atribuiu o monopólio do amor e do serviço da Pátria. Nem reivindicou o êxito para a sua pessoa, nem mesmo para as equipas governamentais, mas para as estruturas, por cuja falta de adequação às realidades explicava o fracasso de tentativas anteriores, lúcidas, generosas e decididas. Nunca perdeu tempo com duelos de retórica em assembleias nacionais ou internacionais, onde a paixão se sobrepõe à razão. Nunca se exibiu nos palcos tumultuosos da cena política mundial, nunca se afastou muito das fronteiras do País, mas teve sempre os olhos bem abertos sobre o Mundo.
Sr. Presidente: Não faço encómio, mas história. Não esboço sequer um retrato, apenas fixo um apontamento para as linhas de um perfil, deixando o pensador, o prosador e o humanista e não pondo os olhos na pessoa, mas na obra e acção. Não deverei, porém, omitir um traço. Evoco as suas palavras de 1919, quando ameaçado pelos ventos da incompreensão e afrontado nas suas convicções: «Do Seminário nada- digo. Há pessoas que desconhecem que pode haver na alma dos outros coisas inolvidáveis e sagradas que se escondem cuidadosamente dos tolos e maus, porque não podem compreendê-las, nem são capazes de senti-las.»
E sublinhava: «Pobre, filho de pobres, devo àquela casa grande parte da minha educação ...: e, ainda que houvesse perdido a fé em que lá me educaram, não esqueceria nunca aqueles bons padres, a quem devo, além do mais, a minha formarão e disciplina intelectual.» Não esconderei que haverá muita generosidade nestas palavras. Mas elas honram quem as escreveu e espelham nobreza de sentimentos. E com elas sentem-se honrados os que passaram pela mesmo escola, embora sem o seu talent de bien faire. E recordam-nos os serviços dos seminários ao País, ajudando a preparar homens para vários sectores da vida nacional, pois é sabido que nem 10 por cento dos alunos atingem o sacerdócio. E. neste momento, não seria legítimo esquecer as diligências recentes para que o título de entrega do Seminário de Viseu se convertesse de precário em definitivo. Foi esta uma das últimas e nobres intervenções do Presidente Salazar, aliás para se cumprir uma também nobre deliberação da Câmara. Como diocesano, cumpre-me reconhecer e agradecer.
Sr. Presidente: Todos conhecemos a disponibilidade do Presidente Salazar para servir a República. Pensou em todos, mais que nele próprio: «enquanto houver um lar sem tecto ou sem pão, a revolução continua». A melhor homenagem que lhe pode ser prestada, com o aplauso de todos os portugueses, é continuar, intensificar e acelerar os esforços para acabar com lares sem tecto e sem pão. Mas nem se faz mister anotar que não seria possível realizar este sonho de todos os portugueses se todos os portugueses não se dessem as mãos, cada vez mais, sob a égide da Pátria e a orientação do novo Presidente do Conselho.
Que o lugar não ficou vácuo. A um professor sucede outro professor. A um realizador, outro realizador eficaz e dinâmico. A um grande português, outro grande português. Esta colaboração será ainda homenagem, motivo de satisfação e recompensa para o Presidente Salazar. A sucessão ocorreu, como esperei sempre e sem duvidar, à altura do povo português, em elevado nível de civismo e sob o superior critério do Chefe do Estado, figura veneranda, que prestou mais este grande serviço à Nação e há muito e cada vez mais está no coração das gentes lusíadas.
Quanto ao timoneiro destes quarenta anos, Portugal e o Mundo não o perderam. Não partirá, ficará. Entre nós, na Europa e na História.- Deus o guarde e conserve em saúde e alegria, como a Pátria o contempla em gratidão e glória.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Abranches Soveral: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Entre as novidades deste intervalo parlamentar uma há que pelo seu interesse verdadeiramente nacional merece ser costa em destacado relevo.
Refiro-me ao despacho de S. Ex.ª o Sr. Ministro das Comunicações de 2 do corrente mês, que cometeu à TAP o encargo de completar, enfim, uma rede de transportes aéreos de dimensão verdadeiramente nacional.
Há muito tempo que as circunstâncias impunham o ligação aérea, regular e permanente, das regiões do interior metropolitano com a capital, como há já anos vem acontecendo com os restantes territórios nacionais.
Não se compreendia nem se aceitava, nesta era de ultra-sons, que um habitante da Beira ou de qualquer das províncias do Nordeste, utilizando os meios de transporte públicos postos à sua disposição, demorasse mais a percorrer as escassas centenas de quilómetros a que fica Lisboa do que ou portugueses de Luanda e até de Lourenço Marques gastam a transpor os milhares de quilómetros que os separam da capital comum.
Nem se podia conceber, num regime de nacionalismo esclarecido e operante, que qualquer regionalismo absorvente ou inveja descabida minimizasse a mais pobre ou a mais remota parcela do território nacional.

O Sr. Pontífice de Sousa: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Pontífice de Sousa: - Queria felicitar V. Ex.ª pela oportunidade da intervenção, que põe em relevo a ligação por via aérea de algumas regiões do interior do País à capital metropolitana, necessidade que se vem sentindo cada dia com mais premência.
Todavia, de forma alguma pode considerar-se completada essa ligação enquanto não for concretamente abrangida pelos transportes aéreos a ligação a Lisboa, e eventualmente a outras cidades, de importantes centros do interior do País cujos condicionalismos económicos e só-