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10 DE JANEIRO DE 1969 2913

Na verdade, que mais belo investimento de recursos o que mais promissora sementeira de esperanças do que essa de pôr todo o português a falar português?

Um pequeno apontamento diz-me que a população está receptiva a uma palavra de recrutamento de vontades. Consiste ele, na maneira como as forças vivas de Moçambique espontaneamente têm concorrido, com a doação de bolsas em grande número, para alunos da jovem Universidade moçambicana.

Não tenho a menor dúvida de que, amanhã, doariam escolas, transportem, material escolar e subvenções de toda a ordem, a reforçar as dotações orçamentais que, num supremo esforço, a Administração pudesse afectar a tão aliciante finalidade.

E, já que falei na Universidade de Moçambique, aproveito para dizer que, em meu entender, poderia ela, num o dinamismo da sua pouca idade, encabeçar essa jornada de reaportuguesamento. Não lhe falta capacidade, nem fé, nem prestigio. Não lhe falta, sequer, a orientação de reitores prestigiosos, dinâmicos e empreendedores. Dispõe, sobretudo, de, uma mocidade escolar pletórica de reservas de generosidade, entusiasmo e preparação cultural, que, quando postas ao servido de uma causa, fortemente contribuiriam para lhe assegurar o êxito.

De algum mudo responderiam assim as jovens instituições universitárias ultramarinas à critica que lhes foi dirigida por representarem como que a cúpula de um edifício sem bases. Como se sabe, houve quem visse no dispêndio da instalação de estruturas de ensino superior no ultramar um desvio de verbas, que mais justamente teriam sido afectadas à alfabetização das massas.

O argumento tem aparência sedutora, mas carece de realidade. Para mim tive sempre que exactamente as elites de todas as raças, saídas dos bancos das Universidades serão, por um lado, o paradigma de todos os que anseiam pela obtenção de graus académicos e, por outro, os promotores de valorização social e humana das populações obreiras da sua terra, e ainda hoje, difícil de calcular, em toda a sua extensão, o significativo papel dessas elites no panorama do futuro. Mas sem dúvida que delas se ouvirá falar em termos encomiásticos das estruturas que as tornaram possíveis.

Papel de extraordinário relevo poderia ser também o desempenhado pelas forças militares. Julgo já estar programado o ensino da língua portuguesa aos soldados macuas e suas famílias, com a incorporação militar de Agosto de 1969.

E não vejo mais duradouro antídoto para uma guerra subversiva do que uma ampla ofensiva contra o isolamento das massas humanas usadas como matéria-prima da subversão. Da comunhão de ideias, dos contactos humanos necessários à, difusão da língua portuguesa, resultaria, estou certo, uma situação pouco propícia à germinação das sementes do antiportuguesismo militante. Nessa medida, o contributo das forças armadas poderia ser considerado mais do que actividade paramilitar.

Mobilizável se me afigura também esse exército de boas vontades, nem sempre inteiramente bem orientadas e aproveitadas, que é o Movimento Nacional Feminino. Não só as senhoras que o constituem, mas todas as senhoras que disponham de longas horas de inocupado lazer, poderiam desempenhar tareias de incalculável valor.

Não basta formar o carácter das crianças, é necessário, também, moralizar a mulher, preparando mães que possam e saibam insuflar nos filhos os primeiros rudimentos da lei moral. A mulher, em relação ao homem de Moçambique, está muitíssimo atrasada, e pouco ou nada se tem feito no sentido de a promover. É velho e aplicável em todos os lugares da Terra o conceito de grande profundidade de ser a mão que embala o berço a que governa o Mundo; e, na verdade, é a mãe quem modela as primeiras formas, e fundamentais, da alma do filho.

A importância dessa "mão", a capacidade educadora dessa, "mão", é, portanto, basilar; mas há que educá-la primeiro, para que ela pensa, por sua vez, "governar o Mundo" - com acerto!

Ora o que geralmente as missões ensinam à mulher africana resume-se a simples trabalhos de agulha e tarefas rudimentares do lar. Sem dúvida que muito útil, tal ensino, mas convenhamos em que não bastante para formar a nova e consciente mentalidade do Africano chamado a compartilhar da civilização.

E não é tudo: se se elevar social e culturalmente o homem, deixando a mulher na penumbra, eles distanciar-se-ão um do outro com risco de desinteligência, desprezo do homem à mulher, e daí a impossibilidade de formação de sãs e autênticas famílias-células da sociedade Indispensável, pois, promover, paralelamente ao homem, a elevação da mulher africana.

Pelo que respeita à divulgação da nossa língua, é a mãe - se a souber! - a mais apta, natural e carinhosa transmissora dela, e ainda a sua mais económica e eficiente difusora. Então, às gratas recordações da infância, ao terno amor filial, se juntará, inesquecível, perdurável, o idioma em que se pronunciaram as primeiras palavras, se exprimiram os primeiros desejos e pensamentos.

Ninguém me oporá, certamente, a falta de preparação docente da quase totalidade dos nosso jovens, dos nossos soldados, das senhoras a que acabo de aludir. Pois está visto que quem pensar num programa, maciço de difusão de uma língua há-de por força raciocinar em termos de extrema elementaridade. Lições tipo de grande simplicidade, sem prejuízo de serem concebidas na preocupação de difundir conceitos elementares do higiene, convivência, e domínio da natureza, teriam sido cientificamente prepararias e postas à disposição de todos. A projecção fílmica, e a sua magia, a música e a sua irresistível atracção ao desporto, constituirão aliados preciosos no plano da colaboração activa dos instrumentos de todas as idades.

O que não posso é conceber que se oponham as imperfeições do que pode fazer-se, quando, como é evidente, estaremos construindo a partir de zero: uma aprendizagem, ainda que grosseira, da língua portuguesa por parte de quem a não distingue da chinesa representará, ainda assim, um valor inestimável. Sempre o óptimo foi inimigo do bom, e o bom, inimigo do sofrível. Não raras vezes temos deixado de construir por desejarmos construir perfeitamente!

Tenho a exacta noção de que não fui longo no contributo construtivo para a solução do problema de que me ocupei. Em parte, quis respeitar as minhas próprias limitações, e em parte, as vozes autorizadas que achariam petulante a invasão, por mim, dos seus domínios.

Tanto quanto pretendi foi o diagnóstico de um mal que tem sido tolerado como se fosse irremediável. Procurei propositadamente ser chocante, no visível empenho de acordar vontades adormecidas.

O Sr. Veiga de Macedo: - E por isso só merece o nosso apreço e consideração.

O Orador: - Não obstante, não desconheço que o problema posto constitui preocupação dominante de pelo menos alguns dos mais responsáveis gestores da vida nacional. Se o não soubera, já teria ficado a sabê-lo após a leitura das conclusões do último Congresso das Comunidades, onde a comunhão de língua foi considerada uma vez mais, a fonte da perene fraternidade que liga
aderíamos se?1