7 DE FEVEREIRO DE 1969 3115
rante largos anos, o chefe do Gabinete de Estudos e Obras de Correcção Torrencial da Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas.
Um e outro dos ilustres falecidos ligaram-se, pela sua formação profissional, pela sua categoria técnica e pela força das circunstâncias, à Madeira. E porque desses contactos a fruticultura e a silvicultura locais muito beneficiaram, justo imperioso é que um filho do arquipélago deva, também, aqui, relembrar a memória dos que o honraram, serviram e valorizaram com o seu trabalho dedicado e proficiente.
Vieira Natividade visitou a Madeira, pela primeira vez, em 1945, a convite da Junta Nacional das Trutas, a fim de proceder ao estudo das possibilidades frutícolas do arquipélago. Nessa sua primeira visita foi acompanhado pelo engenheiro agrónomo Teixeira de Sousa, ao tempo Vice-presidente daquele organismo, o que prestou au ilustre investigador da agronomia portuguesa a mais activa o estreita colaboração.
Da estada de Vieira Natividade na Madeira resultou o magnifico trabalho Fomento da Fruticultura nu Madeira, que a Junta Nacional das Frutas e o Grémio dos Exportadores de Frutas e Produtos Hortícolas da Ilha da Madeira editaram em 1947. Trabalho que honra o técnico que o escreveu e é indiscutivelmente uma das, melhores obras da sua vastíssima e muito considerada produção cientifica.
Em 1952, Vieira Natividade voltou a deslocar-se à ilha em companhia do professor António Sousa da Câmara c a convite da Comissão Executiva da Junta Geral do Distrito, então presidida pelo engenheiro Teixeira de Sousa, cem n objectivo de estabelecer um plano do trabalhos de pamologia a realizar localmente através dos serviços competentes daquele corpo administrativo. Desta segunda visita resultou - além de um maior impulso e de melhoria na orientação dos trabalhos da fruticultura insular- a necessidade de se integrar nos serviços agrícolas regionais uma estacão experimental, para o que a Junta Geral adquiriu a Quinta do Bom Sucesso, mais tarde destinada, também, em aproveitamento complementar, ao núcleo-sede do Jardim Botânico da Madeira, o qual só foi instituído em 1960.
Um ano depois de regressar ao continente, em Junho de 1953, Vieira Natividade proferia na Associação Industrial Portuense, a comité do Centro Madeirense do Porto, uma conferência, a que deu o feliz e sugestivo título de "Madeira - A Epopeia Rural", que a Junta Geral do Funchal depois editou, e que constitui, embora em prosa, o mais belo hino de louvor à ilha e, sobretudo, ao trabalho humano que, nela, o Madeirense tem incorporado ao longo dos tempos.
Se, como técnico, tenho, em primeiro lugar, o dever de realçar o que de francamente positivo ficou para o progresso da fruticultura regional das presenças de Vieira Natividade na ilha e dos estudos subsequentes que realizou como madeirense, não posso deixar de manifestar-me, agradecido, pela forma, pela exuberância, pela beleza, com que o grande escritor exteriorizou nas suas obras e nas suas palavras o inexcedível amor, o extraordinário poder de compreensão, a maior simpatia para com a ilha, "que moureja profundamente para ter mais terra e para que dessa terra venha a brotar mais pão".
As directrizes que Vieira Natividade estabeleceu para a valorização da flora frutícola local e para uma maior rentabilidade da exploração do pomar na Madeira, se não foram, por dificuldades de ordem material e de pessoal técnico disponível, integralmente cumpridas, serviram, no entanto, em alto grau, de base para o desenvolvimento da experimentação e do fomento que os organismos; competentes locais têm levado a cabo desenvolvimento que tem sido
acompanhado progressivamente de indiscutível entusiasmo e interesse pelos agricultores mais esclarecidos. A maior intensificação cultural na exploração frutícola, a contínua expansão da superfície ocupada por pomares, especialmente de fruteiras dos climas temperados, a cautelosa escolha e divulgação das melhores e mais produtivas variedades para a região, a mais extensa rede de assistência fitossanitária, devem-se, sem dúvida, ao apoio directo dos serviços locais à lavoura: mas temos de reconhecer no plano de Vieira Natividade, elaborado no seu trabalho de fundo Fomento da Fruticultura na Madeira, em 1947, a razão primeira do progresso verificado neste campo. Progresso que ele próprio antevia e que considerava dependente, sobretudo de valor da assistência técnica prestada ao agricultor, a qual deveria ser obrigatoriamente efectiva, séria, interessada oportuna, realista.
Longamente meditou Natividade nos problemas que condicionam a actividade agrícola na Madeira, onde "cada palmo de terra foi fecundado pelo suor do agricultor, dignificado pelo seu sofrimento, abençoado pela sua coragem e pela sua fé". Para a Madeira - ali em cujo cenário majestoso "se ergueu [. . .J um dos mais extraordinários edifícios agrícolas no Mundo" -, escreveu Natividade das mais belas páginas da prosa portuguesa. Saibamos nós madeirenses extrair das suas meditações e dos seus trabalhos todos os ensinamentos neles contidos, e que as breves, horas que connosco viveu perdurem para todo o sempre, com a aceitação consciente dos rumos que soube traçar e com o reconhecimento perene à extrema sensibilidade da sua alma,. através da qual pôde compreender, acima de tudo e de todos, a epopeia grandiosa do trabalhador da Madeira e avaliar, em toda a sua dimensão, o "extraordinário esforço humano empregado na conquista da terra".
O engenheiro Mário Galo, homem público e íntegro que todos nós pudemos apreciar de perto, o industrial consciente e evoluído que sempre conhecemos, o técnico esclarecido e eficiente que à silvicultura portuguesa tanto deu, deixou, também, em projectos e obras, em planos e realizações, o seu nome ligado ao meu distrito.
Jamais podemos esquecer o carinho e amor com que sempre nos falava da Madeira e do Porto Santo, dos seus problemas e condicionalismos e também de todas as suas potencialidades.
Mas o arquipélago madeirense deve-lhe muito mais do que simples reconhecimento pela amizade que lhe dedicava ou pela crença que tinha no seu futuro.
Mário Galo foi, efectivamente, o grande impulsionador dos trabalhos de correcção torrencial que os serviços florestais têm vindo a realizar há mais de dezasseis anos na pequena ilha de Porto Santo, onde a, erosão não só tem delapidado o solo agrícola, como também arrastado para o mar, ou para o leito dos riachos, a terra das encostas e dos caminhos. Com a sua grande experiência e valia técnica. Mário Galo. que havia conquistado lugar de realce na hidráulica florestal, mercê dos trabalhos levados a cabo nas bacias hidrográficas do Lis e do Ceira, assinou os projectos de correcção torrencial de mais de vinte ribeiros em Porto Santo, fazendo construir, em muitos casos, as suas eficientíssimas barragens de lajes escoradas, que tão bem nos tem impressionado, do ponto de vista técnico e económico.
Na ilha da Madeira, Mário Galo foi também - entre vários trabalhos que realizou - o autor do projecto do Posto Aquícola do Ribeiro Frio, obra que tantos admiradores granjeou pela valia técnica da sua concepção e pelo seu incontestável interesse turístico.
Recordo-o já com saudade. Mas tenho a certeza de que os continuadores da obra de Mário Galo hão-de fazer por