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7 DE FEVEREIRO DE 1969 3119

sabor dos tempos mas talvez possamos morrer com beleza se nas últimas das nossas preocupações de vermos um grito de alarme em favor e louvor daquela causa que é a única de todos nós e é também a única que em nenhuma circunstancia pode ser contra nenhum de nós a língua em que dizemos "Deus" em que dizemos "mãe" em que dizemos "amor" e em que dizemos "Portugal"!

Sr. Presidente venho em camada de forças despendido de ilusões e desprevenido de argumentos novos . Mas nem eles são precisos se sob o aspecto político alguém quiser desentranhar dos DIÁRIOS DAS SESSÕES[...] bleia e das Actas da Câmara Corporativa todo o substancial acervo de ideias e de sentimentos aqui e além aduzidos em salvaguarda da pureza e da beleza e da força criadora do idioma universal e universalizante que é a razão maior da nossa independência e a condição necessária da nossa sobrevivência como "gente grande" num Mundo que já não vê limites à sua ambição nem à sua capacidade de o abarcar no seu todo.

Relembro veja-se aí o debate realizado em 1944 a propósito da ratificação DA Convenção Ortográfica Luso-Brasileira: veja-se a discurso de Março de 19521 aquando de reforma constitucional em que nem o brilho da argumentação nem a qualidade intelectual dos Deputados interventores lograram instituir em matéria primeira do foro dos Portugueses a defesa e a expansão da língua : veja-se grande parte do teor do recente aviso prévio do Deputado Martinho Vaz Pires sobre o ensino liceal em que o problema da língua foi largamente ventilado: veja-se tudo quanto foi trazido e esta Câmara pelo Deputado Manuel Nazaré e pelos nossos ilustres colegas que na tribuna a acompanharam nas aspirações e no exacto sentido das realidades urgentes e necessários: veja-se o que já vai dito com tanto brilho e vivacidade no decorrer deste debate através do qual perpassaram tantos momentos de sadio lirismo e a par disso tantas sugestões úteis e viáveis!

Teimamos em reavivar este memorial da Assembleia para que ela se sinta orgulhosa e honrada por ter andado tais caminhos por ter posto seus anseios num material de trabalho que se não é pão da boca é pão do espírito e se não é aço da charrua com que se temperou a fortaleza de alma da gente portuguesa.

Sr. Presidente: nem sempre se terá subido a esta tribuna com tanta humildade de espírito Tanto desinteresse pessoal tanta emoção por um tema que a muitos se afigura abstracto e vago insusceptível de excitar e apaixonar... até a própria Câmara. Se de tal estivéssemos em absoluto convencidos também nos convenceríamos facilmente de que estávamos aqui de mais de que o nosso espiritualismo se soterrava na onda dos interesses materiais de que negávamos tudo aquilo que dizemos ser ao sermos nos actos e nos factos exactamente contrários à essência do nosso pensamento espiritual histórico social e político.

Falando de Castela Ortega Y Gasstt disse "Castela é uma espada uma política uma fonética novas".

Estar-se-à vendo onde quero chegar com a citação!

Tivemos nós uma espada uma política uma fonética novas e próprias que nos libertaram da supremacia casteliana e onde às vezes a espada se enfraqueceu ou a política tergiversou nunca cedeu a fonética porque ficou sempre no canto da alma e na ponta da língua a palavra ou expressão que determinavam a nossa irredutível vontade de independência.

A espada a política a fonética nós acrescentamos a cruz e Sr. Presidente até aonde fomos de tudo isso lá ficou e lá onde estamos a cruz a espada a política trabalham ao som das mesmas vozes ao entendimento das mesmas expressões à consciência da mesma fonética a luz da mesma língua que para não morrer na poeira da Península foi rolar nas ondas do mar e tornar fluída em todo o contorno do Mundo esta energia e esta saudade de ser português.

Não trago outra tese que não seja a de que a língua é um bem comum. E em consequência de que como tal pertence ao Governo acautelá-la e defendê-la como que defende a menina dos olhos, at papilas oculi como lá diz a divisa da nossa cidade fronteiriça ELVAS.

E pensava eu assim quando ví citadas num livros de Etiemble, estas palavras de um sacerdote e professor do Canadá " a língua é um bem comum e como tal ao Estado compete protegê-la e só o Estado guardião do bem comum pode agir eficazmente ao nível da civilização: a civilização é o suporte da cultura e o estado tem por si a lei e a força ; nós os professores tudo quanto temos é razão e é uma coisa tão pouca... quase só serve para morrer "! E tudo isto se dizia para pedir a criação de um organismo defensor da língua no Canadá francês!
Defender a língua como bem comum defendê-la ao nível da civilização com lei e com força do estado. E no suporte da cultura,. Ninguém na verdade pretende outra coisa e para isso foi que aqui viemos cada um com a sua bagagem de entusiasmo e de conhecimentos e todos convictos de que temos razão mesmo que está só nos sirva para morrer tal como a mim me vem acontecendo desde ha um quarto do século e a esta parte. É aqui respondo ao momento de discordância do ilustre Deputado Peres Claro na sua intervenção de anteontem.

Eu tenho preconizado como sei e posso a criação de um organismo que defenda a pureza ( nunca disse o purismo) da língua pátria. E nunca confundi a defesa da língua com a defesa da cultura pele simples e enorme razão de que a língua é um bem comum nosso bem entendido daqueles todos que falamos português quem quer sejamos e onde quer que estejamos. E esse bem comum só nos temos o integral direito e o insostimável dever de defendê-lo.

Mas a cultura é um bem universal em extensão e em profundidade e hoje de tal modo avassalador que nenhuma forma de expressão pode suficientemente interpretá-la ou traduzi-la.

O que é a cultura? O que é a cultura Portuguesa? Tomada no seu todo integral a noção de cultura ela toma um tal peso no que respeita à sua formulação expressional que o homem como Edward Sapir pode dizer: "parecer-lhe possível que o progresso humano para a universalização da cultura e para a tomada da consciência cada vez maior dos padrões culturais acabe facilitando afinal a eclosão de uma língua internacional que pouco a pouco se substitua em seus lineamentos gerais as múltiplas línguas vigentes entre os homens".

E aqui está precisamente o contrário do que se pretende com o presente aviso prévio.

No caso particular da cultura portuguesa... pois aí tem o ilustre Deputado Peres Claro bem patente exemplo do Instituto de Alta Cultura e veja como esse Instituto mais ou menos pretensioso no seu título vejo a pouco e pouco evolucionismo do sentido humanista que estava no espírito da instituição e na consciência dos instituidores para se tornar num seguimento científico dos tempos modernos á lenta cadência do passo nacional e diga-me lá que influência ela exerceu no plano interno em tudo quanto respeita à pureza à dignificação ao prestígio da