O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

7 DE FEVEREIRO DE 1969 3123

vezes, se não reconhece um mínimo de preparação literária, acresce uma notória falta de informação acerca dos mínimos, problemas locais, dos, problemas do dia-a-dia, agravados por um azedume resultante de conveniências de grupo, pouco ou muito legítimas, que normalmente se não parecem enquadrar nos interesses de ordem geral.
As palavras que aqui deixo em prol da imprensa regional são apenas movidas pelo interesse e carinho que ela me desperta, desde aqueles verdes anos em que me vi envolvido nos seus meandros, definitivamente marcado pelo cheiro característico da impressão ainda húmida, e por reconhecer a importância enorme que ela desempenha adentro da nossa imprensa única via de comunicação de grande sector da população. E o curioso é que, apegar de se ler na sua totalidade,. tenha por linha dela se desdenha publicamente, em tom de mofa,. sem se lhe ligar muita importância o que não corresponde à realidade íntima de se lhe conceder um grau de infalibilidade que talvez seja um tanto ou quanto exagerado.
Pois torna-se necessário chamar essa imprensa ao efectivo preenchimento do grande, papel educativo que tem a desempenhar na consciencialização de uma população regional cada vez mais em contacto com o mundo que a cerca, numa interdependência, colectiva de que tem uma noção mais aberta em cada hora que passa. Torna-se necessário auxiliá-la, protegendo-a e dando-lhe meios que lhe permitam resolver o angustiante problema financeiro com que se debate, proporcionar-lhe uma informação aberta e minuciosa chamar a colaborar nela homens intelectualmente válidos, numa conjugação de esforços que possibilite a descoberta da linguagem acessível e correntia que a deve caracterizar em contacto com um público leitor que, na sua grande maioria, desperta para uma nova compreensão da vida colectiva.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Outro assunto de interesse me parece útil abordar: o da dobragem dos filmes.
Há já anos muito recuados que a solução foi apresentada como processo eficaz para, dada a elevada percentagem de analfabetismo que então registávamos, expandir o nosso limitado mercado cinematográfico. Por esse caminho seguiu a nossa vizinha Espanha, tendo alcançado, note-se uma perfeição técnica do sistema que é de encarecer.
Suponho que a solução não está certa e que, praticamente, nada venha a melhorar, já que o problema da nossa indústria e comércio de filmes revela males profundos, de falta de qualidade, de deficiente colocação dos produtos, dado o número exíguo de salas, de uma perfeita organização industrial e financeira, de carência artística, de encargos fiscais e de fruiu a ordem que a asfixiam e não possibilitam um produto a preço acessível e popular, tudo agravado pela concorrência que a televisão lhe parece estabelecer ao fornecer ao espectador outra comodidade e psendocasas de espectáculo por todos os cantas e esquinas.
Aliás basta reparar que o sistema vigente da legenda resulta frutuoso, vindo a sobrecarregar o filme em meia dúzia de contos numa película de fundo normal, custo que resultará bastante modesto em comparação com o da dobragem sem número de cópias suficiente para uma correcta exploração. A primeira vista, a sua adopção parece até economicamente inviável.
A minha oposição, no entanto, funda-se mais em razões de ordem artística, que me parecem convincentes e fundamentais.
Um primeiro perigo logo se adivinha. O reduzido grupo de vozes de actores de que dispomos, vinha criar uma saturação a breve prazo, com o inconveniente de o espectador identificar insensivelmente o cómico actor A a emprestar a voz por sistema, aos, actores B, C, D, E, e F, provocando um cansaço exaustivo.
E há vozes insubstituíveis. Recordo aqui o mito Greta Garbo, no mundo de mitos que é o cinema, quando começou a falar nos seus filmes e a emprestar à sua figura enigmática e estranha aquele metal de voz que a caracterizava plenamente. Como não compreendo que se possa substituir com vantagem a voz de um Laurence olivier ou de Jean Gabin.
Um actor é um todo na amálgama dos seus elementos e processos. Amputar-lhe a voz própria, o seu volume, a sua intencionalidade, as suas cambiantes, equivale, bem vistas as coisas, a diminui-lo 50 por cento na sua valia artística, falsificando o espectáculo e tirando-lhe grande parte da sim riqueza.
O actual sistema de legendagem oferece os seus inconvenientes, de que aponto a distracção que provoca no espectador, desviando-o da pureza da imagem, veículo próprio e absorvente da arte cinematográfica. Mas parece-me um mal bem menor do que a dobragem. O que há que cuidar, sim, é da qualidade das legendas, da exigência literária que deve recair sobre o tradutor, do seu perfeito domínio das duas línguas em causa.
E deixo um aberto o problema da televisão, já que esta utiliza material filmado em grande quantidade. E o reconheço o cansaço que a leitura da* legendas provoca num écran de tão pequenas dimensões. E reconheço, ai de nós, que a televisão não se tem ocupado grandemente de problemas de ordem artística.
Sr. Presidente: Estas as sugestões que me pareceu aconselhável trazer a este plenário com a necessidade, que reconheço, de se criar um organismo estatal de coordenação e estudo que se debruce demoradamente sobre os mil e um problemas, que a defesa da língua levanta, para paulatinamente se lhes dar solução.
E só me dói não ter sido suficiente o tempo disponível para amadurecer mentalmente tudo aquilo que vai em esquema, ao sabor da inspiração do momento.
Mas a minha presença impunha-se pelo interesse indesmentível que vejo no tema e por aquilo que devo a muitas horas de convívio com António Vieira e Camilo Castelo Bronco.
E, já agora, o mea culpa, ao confessar-me publicamente um leitor assíduo de Eça de Queirós. Aquele Eça que à boca cheia, tem sido acusado de atentar contra a pureza da língua, mas que lhe deu uma plasticidade que nunca ela tinha experimentado. E, ademais Srs. Deputados, tudo se desculpa compreende e agradece a um homem de talento como ele.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vou encerrar a sessão.
Amanhã haverá sessão, à hora regimental, para conclusão do debate do aviso prévio sobre a defesa da língua portuguesa.
Se a Comissão do Legislação e Redacção tiver concluído o estudo da proposta de lei sobre o estabelecimento de normas, tendentes a imprimir maior celeridade à justiça penal, o que averiguarei amanhã, marcarei para or-