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21 DE FEVEREIRO DE 1969 3225

Peço licença para recordar aqui uma afirmação do Dr. Howard Curtis, proferida numa conferência realizada na Universidade de Coimbra há menos de quatro anos:

A morte e os impostos são coisas que o homem, desde o começo da civilização, tem vindo a aceitar como inevitáveis.

Mas, se compreende o porquê dos impostos, não atina com o mistério do envelhecimento e da morte.
Há dias, nesta mesma Assembleia e a propósito deste aviso prévio, um ilustre deputado perguntava-me, não sem alguma preocupação - embora a sua juventude transparecesse exuberantemente -, quando é que começava a terceira idade de que tanto se falava nesse dia. Fácil era a resposta: não tem arranque fixo, pois varia de indivíduo para indivíduo. Nesta mesma Casa fácil é topar com os de mais de 70 que ostentam uma admirável «juventude» ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... e lá fora, a cada passo, cruzamos com «velhos» que ainda há pouco dobraram o meio século! ...
O envelhecimento - esse processo degenerativo que quebranta as forças e o entusiasmo, que altera a morfologia, que origina polipatologia crónica, que cria deficiências sensoriais, intelectuais, físicas, etc., que leva a uma probabilidade de morte cada vez mais alta à medida que passam os anos - não tem idade definida para o seu início. No sentido biológico, poderemos dizer que ele não começa ao mesmo tempo em todos os órgãos, nem na mesma idade em todos os indivíduos. Há uma cronologia biológica do envelhecimento. Alguns elementos iniciam já a sua evolução na infância, como o timo; outros só mais tarde. O processo é complexo, envolvendo destruições, sobrecargas e proliferações e resultando de uma série de microfenómenos que culminam, por um lado, na invasão do tecido-conjuntivo, inerte e sem valor funcional e, por outro, na redução do número e do volume das células nobres dos parênquimas, células diferenciadas, massa metabòlicamente activa.
Como essas alterações podem começar cedo, por volta dos 50 anos, bom é que também cedo comece o combate contra as doenças da velhice. E como a evolução para uma sociedade de tipo industrial faz avultar a importância do problema, como geralmente se reconhece, impõe-se-nos o dever de estudar as soluções mais convenientes, de harmonia com uma concepção humana e equilibrada da vida, para quantos vêem chegar o declínio das suas aptidões, do rendimento do seu trabalho e de todas as consequências que daí derivam.
Se é certo que a longevidade potencial entre os humanos depende, em primeiro lugar, de factores genéticos, não é menos verdade que ela é fortemente influenciada pelas condições de vida. Há um código genético com que nasce cada um; mas, ao lado dele, temos de contar com os factores nutricionais, patológicos e socio-económicos, que interferem com os genéticos para a limitação da duração da vida. E esses factores ecológicos são também tão importantes como os genéticos no envelhecimento diferencial dos homens, na determinação da idade em que se acentuam as consequências dos tais microfenómenos a que há pouco me referi.
Não há a mínima dúvida de que a esperança de vida ao nascer e a longevidade média da população estão fortemente influenciadas pelos progressos científicos e técnicos, pela protecção médico-social dos indivíduos, pela educação sanitária, pelo conhecimento das doenças e suas causas, pelos meios terapêuticos que se lhe oferecem, pelos progressos da higiene e pelas demais condições de vida. Por isso mesmo esses valores são muito diferentes nos países em via de equipamento técnico e naqueles que têm nível de vida elevado. A Suécia tem o record da longevidade média. Está averiguado que o factor mais importante para o aumento da longevidade média é 8 redução da taxa da mortalidade infantil.
A ciência médica, segundo o Dr. Curtis, tem adicionado muitos anos ao tempo provável de vida da gente mais nova, mas tem feito muito pouco pelas pessoas mais velhas. Quer isto dizer que o homem moderno tem mais possibilidades de viver até avançada idade; mas, se o consegue, será tão decrépito como o era um homem da mesma idade um século atrás. Nem todos estão de acordo com este modo de ver, pois que são evidentes não só os progressos da gerontologia - ciência da senescência e dos processos de envelhecimento - como também os da geriatria - a medicina das pessoas idosas.
Sr. Presidente: Louvei já o ilustre deputado avisante, acentuei a importância e a oportunidade deste aviso prévio, manifesto-me de acordo com as suas linhas gerais, mas entendo que ele devia também encarar uns outros aspectos - os da infância e os da juventude. Quer isto dizer que, além do futuro das nossas pessoas idosas, devia também considerar os velhos do futuro.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Na solução dos problemas da assistência às pessoas idosas há que marcar um lugar para a formação de todos os elementos da infância e da adolescência, bem como para os adultos jovens.
A preparação de todos estes elementos para actividades produtoras futuras é investimento seguro de capital, embora este conceito seja diferente daquele que preside a esses investimentos do mundo moderno.
A preservação do capital humano não tem sido devidamente considerada nos planos de desenvolvimento, não só aqui como em muitos outros países. Parece que em nenhum deles os políticos e os economistas se convenceram da influência do progresso social no progresso económico. Nesta época de cálculos, de taxas e de índices, também se fizeram os cálculos do valor do capital humano:

O custo da formação desde o nascimento até à idade de 15 anos é igual a cinco anos de rendimento de trabalho do adulto;
A morte de um indivíduo com menos de 15 anos é, sob o ponto de vista económico, uma perda da sociedade; mas se a morte se observa aos 40 anos, a sociedade já foi recompensada; se ela se verifica aos 65, há benefício que será duplo do que se observou com o falecimento aos 40 anos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por isso mesmo, deve considerar-se prioritária a formação do capital humano, bem como a luta contra o desperdício das capacidades de cada qual, principalmente nos países de medíocre nível económico.
Para se ver a importância da taxa de mortalidade e da sua evolução, peço licença para recordar os recentes estudos americanos, relatados por André Piatier e referidos por Étienne Berthet:

Se a taxa da mortalidade verificada em 1940 se tivesse mantido, o rendimento nacional americano teria sido diminuído de 1400 milhões de dólares;