O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

27 DE FEVEREIRO DE 1969 3281

viu as gentes e as coisas, sabe falar dos trilhos que pisou e dos ambientes a que votou a sua directa atenção. Mas, além do mar e da história - do mar e do passado que nos envolvem no conjunto -, só possuía a vontade indomável de aprender e de relatar nesta tribuna os trabalhos e as canseiras do meu raciocínio.
Talvez me tivesse julgado um dom-quixote na esgrima com os moinhos ou um pimpão enfunado tentando ventos desproporcionados. Mas o tempo - que também julga e dá sentenças insusceptíveis de recurso - demonstrou que fui laborioso e certo e que trouxe no meu transporte carradas de razão.
Nos veios do meu sobressalto corriam verdades profundas e nos longes da minha visão desenhavam-se panoramas sérios. O ultramar - o nosso ultramar - era e continua a ser a grande nau para os trasbordos indispensáveis, pois eu figurava também os Açores e até o Portugal do continente como naus, cada qual de seu tamanho, mas fazendo todas parte da mesma formação, apostada em permanecer no mundo, sem necessidade alguma de desembarcar nas alheias partes da Terra as gentes que fossem aumentando incomportàvelmente nesta ou naquela unidade.
Sabia que tínhamos de dar destino aos excedentes demográficos que nos assoberbavam, mas não desejava nem queria que esses excedentes se encaminhassem para quaisquer destinos que não fossem os nossos. Não desejava, não queria - e temia - a pulverização e a alienação do nosso sangue, e nisso empenhava a minha qualidade de português, temperada com o sal das ondas, que me chegou ao berço logo que nasci. E não queria, firmemente, que a população envelhecesse, que se fossem os adultos na idade óptima para o trabalho e ficassem os idosos e os jovens a pesar nas percentagens averiguadas sobre o cômputo demográfico de todo o território português.
Ansiedade, imaginação, sonho - mas ansiedade natural, imaginação legítima, sonho capaz de gerar realidades.
Confessei então, e volto a confessar, que a obra de povoamento, designadamente nas nossas províncias de além-mar, é obra que se pode apressar, mas não é obra que se realize como a da vara de Moisés, que, ao bater no rochedo do monte Horeb, fez correr a água que a todo o povo matou a sede. É, sobretudo, uma obra de tempo e de perseverança, com a ajuda de Deus e dos homens.
Estive depois em Angola e em Moçambique. E vi, mormente em Angola, como a vida está crescendo na terra imensa: em parte generosa, por requerer menos trabalho; em parte esquiva, por exigir mais esforço. Mas terra sempre possível, continuada e sedutoramente forte nos chamamentos que nos faz. E se fosse impossível?
Recordo este passo do meu aviso prévio do ano de 1952:

Somos um povo capaz de renovar aquele êxtase de força e de coragem que por um século - como observou um grande espírito - «fez do impossível possível e da inverosimilhança realidade».

Porventura não tivemos também no Brasil pioneiros e bandeirantes que esgotaram a taça do sofrimento, superando-a com as avançadas que fizeram?
O ilustre autor do aviso prévio em apreço não podia deixar de reconhecer que a baixa da natalidade e o fenómeno emigratório são terríveis fautores do envelhecimento da população.
Tiro algumas palavras das palavras que proferiu:

É a diminuição da natalidade - projectando-se a breve trecho na diminuição do número de adultos - e a emigração, sobretudo quando atinge o subgrupo mais jovem dos adultos (20 a 40), que contribuem para o aumento da percentagem da gente idosa na demografia de um país e, portanto, para o envelhecimento da sua população.

Ora eu devo esclarecer - para que falsamente não se explorem falsas minas - que não sou contrário, em absoluto, à emigração, pois admito-a, e só a pretendi e pretendo ajuizadamente regulamentada e combatida pelo desenvolvimento acentuado do progresso económico em todo o espaço português.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Graças a Deus, temos almas e possuímos terras, e só precisamos de promover, de cada vez com mais apurada força e mais apurado sentido, o alastramento do fogo das almas.
Assim contribuiremos para que a população só envelheça no mínimo e cresça no máximo.
Outro ponto é o da gratidão por tudo quanto está feito a favor dos problemas da velhice. Foi muito? Foi pouco? Foi alguma coisa. E começar no deserto é diferente de intensificar na cidade. Tivemos e temos iniciativas sublimes, com obras à vista, umas melhores, outras piores, mas obras que são marcos na estrada.
Não estou dizendo isto por dizer. Estou olhando para a juventude e a apartar dela os que se dizem partidários de um futuro sem passado e, quem sabe?, de um futuro sem eles próprios, e pretendem juntar os homens no mundo da igualdade e da liberdade absolutas. Não sei já quando e onde disse que a igualdade plena era um zero recheado de gente. E agora, a propósito da liberdade, direi que a liberdade incontida é o forno crematório das liberdades possíveis, e mesmo das liberdades impossíveis, faulhando a anarquia até ao caos, que é a explosão do nada.
Julgam poder resolver tudo estes jovens danosos - mas nunca resolvem o que nós podemos resolver para os salvar.
Parecendo que não, servem-se também de símbolos. Mas os seus símbolos são a bandeira vermelha e a bandeira negra ... No entanto, da bandeira vermelha só pode escorrer sangue e da bandeira negra escuridão - as trevas molhadas em sangue.
O ilustre autor deste aviso prévio sobre os problemas da velhice também roçou com o dedo autorizado por esta chaga aberta:

Do fundo dos séculos - disse ele - ao dealbar da sociedade industrial, os anciãos foram respeitados, utilizada a sua experiência e sabedoria para a direcção ou o conselho dos agrupamentos humanos. O liberalismo foi contemporâneo da queda vertical deste prestígio; o velho passou a ser, para muitos, um inútil fardo humano.

E, se é certo que por toda a parte - como acrescenta o Sr. Deputado Agostinho Cardoso - as comunidades se preocupam hoje com a promoção social dos idosos e com a reparação daquele erro, os tais jovens de que falo tomam os velhos como espantalhos ridículos. Não querem saber da sua experiência proveitosa nem da sua presença moderadora. Nem da sua conquistada autoridade, nem do seu provado valor, nem da sua temperada acção. Os velhos sabem a passado e o passado, para esses inquietos demolidores, é sempre o inimigo de amanhã. Mas os velhos, os velhos não são para deitar fora. Cito argumentos poderosos