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3286 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 183

A rainha D. Amélia criou o Instituto Ultramarino a favor das famílias dos funcionários militares e civis que tenham trabalhado no ultramar. Os recursos desta instituição estão muito aquém das necessidades. Poderia ser alargado o seu âmbito e aumentados os recursos financeiros para que possa atender às necessidades vitais das viúvas e f lhos dos que serviram o ultramar.
Sr. Presidente: Sei que não trouxe para cá sugestões inéditas, mas para terminar lembrarei o que disse Joseph Chamberlain, antigo ministro conservador britânico: «Quando a causa é justa, é de se tocar a corneta a tempo; há sempre quem nos siga. O que importa é ter fé e coragem».
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A oradora foi muito cumprimentada.

O Sr. Augusto Simões: - Sr. Presidente: Renovo, com muito afecto, os cumprimentos que a V. Ex.ª dirigi desta tribuna quando há dias a ocupei.
E peço vénia para, dentro da ordem do quotidiano que nos manda ser gratos, daqui endereçar as minhas saudações mais cordiais aos representantes dos órgãos da informação pela forma elevada como estão a desempenhar as suas delicadas funções de levar ao conhecimento público os trabalhos desta Câmara.
Quebrada a sequência lógica da atempada publicação do Diário das Sessões, tão lamentavelmente atrasada, a Nação só tem imediato conhecimento dos problemas que os seus representantes debatem nesta Câmara pelos relatos imprescindíveis e muito valiosos da Imprensa, da Rádio e da Televisão.
Desta sorte, a importância desses relatos, se já era muito grande guando circulava a tempo e horas o referido Diário, agora aumentou extraordinariamente com a sua forçada ausência dos locais a que o mesmo tinha acesso.
Importa assim, Sr. Presidente, destacar a forma conscienciosa e relevante como são dados a conhecer ao País os nossos trabalhos parlamentares.
À natural narração dos pontos havidos como essenciais ou mais expressivos dos depoimentos aqui prestados, acresce agora o comentário gracioso, por vezes tocado de fina ironia, que muito os valoriza, pelo saliente interesse que lhes confere.
Muito gostosamente tributo aos ilustres e esforçados representantes dos órgãos da informação que trabalham nesta Câmara as minhas melhores homenagens e, como beneficiário que tenho sido do seu operoso labor, aqui lhes deixo também o meu mais expressivo agradecimento, a que VV. Ex.ªs, Srs. Deputados, certamente se gostarão de associar.
Sr. Presidente e Srs. Deputados: O aviso prévio que agora se efectiva salda uma grande dívida desta Câmara! Aqui se tem tratado dos grandes problemas nacionais e defendido as suas soluções havidas como mais justas ou mais convenientes.
Empenhámo-nos na discussão da lei militar para, através dos seus mandamentos, traçarmos os grandes rumos da defesa da Pátria e da garantia do seu território.
Aqui se defendeu a pureza da língua pátria com elevado sentido das grandes necessidades da valorização nacional.
Aqui se tem pugnado com frequência pela juventude e pela solução dos seus instantes problemas.
Aqui se têm referido as necessidades mais prementes da grei, integrando-as nos planos das realizações que não podem ser desconsideradas.
Todavia, ainda nesta Câmara não se tinha tratado com o merecido desenvolvimento dos grandes e muitos problemas da velhice.
Essa falta resgatou-a agora o Sr. Deputado Agostinho Cardoso, ao efectivar, com a nobreza que bem caracteriza a sua alma de apóstolo, este aviso prévio em que deixou estereotipadas com a maior clareza as grandes necessidades da imensa legião daqueles cujo amadurecimento na vida os coloca à margem dos valores humanos em que pouco atentam as gerações da gente nova, não obstante o acervo dos problemas que a terceira idade suscita merecer efectivamente uma reflexão muito especial de todos nós.
Bem sintetizou esses problemas o Sr. Deputado autor do aviso prévio nas justas e compreensivas palavras em que, ao traçar os esquemas do seu magnífico trabalho, afirma que é necessário consciencializar o País acerca da problemática da velhice, pois, segundo afirmou, «há que fazê-la viver com paz, segurança e dignidade, que são a antítese da esmola proteccionista; fazê-la viver longe dos seus grandes inimigos - a solidão, a inactividade, a dependência económica e a miséria».
Nestes passos da sua brilhante oração se consubstancia, na verdade, um grande programa que é imperioso cumprir para que aos velhos seja respeitada a gama dos seus irrecusáveis direitos.
Aplaudo sem reservas esse programa, cujo alto interesse se me não afigura necessário encarecer.
Dentro dos seus largos horizontes já aqui se proferiram valiosos depoimentos, que são seguro índice da verdadeira compreensão que os seus autores possuem dos problemas versados.
Acompanho inteiramente as proposições apresentadas, pois não desconheço que todas elas e tudo quanto se possa fazer e na verdade se faça além delas mais não é do que a prática dos mandamentos da caridade cristã.
E, ao contemplar o panorama actual da nossa política de socorro à velhice, ocorre-me, Sr. Presidente, aquela velha lenda que tantas vezes ouvi narrar na minha já distante meninice, quando, nas noites em que o vento álgido da invernia punha gritos alucinados na chaminé da lareira, nos aquecíamos ao braseiro.
Lamentando a situação dos que não podiam reconfortar-se com os calores do lenho incandescente e sofriam as inclemências do frio nos seus tugúrios, contava-se então que entre os povos de certa terra muito longínqua havia o costume de os filhos levarem para a montanha bravia os pais já velhinhos que se lhes tornavam pesados, para ali acabarem os seus dias.
Lá os deixavam à mercê de Deus e das feras, condenados aos horrores da fome e do frio, porque a cerimónia do despejo se efectuava sempre no pino do Inverno.
Acrescentava então a narrativa que, um dia, também um poderoso senhor dessa terra de gente cruel se resolveu a levar à montanha o próprio pai, que, não obstante ter sido igualmente poderoso, fora gravemente injuriado por natural decrepitude.
Todavia, movido por alguma piedade, o filho, ao despedir-se do pai que abandonava, deixou-lhe nas mãos uma manta para lhe servir de resguardo.
Agradeceu o pai essa magnanimidade, tão pouco praticada para com aqueles que a idade transformara em seres inúteis destinados à montanha, e, partindo ao meio a manta, entregou ao filho uma metade, pedindo-lhe que a guardasse para se agasalhar quando, mais tarde, o seu