O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

27 DE FEVEREIRO DE 1969 3283

respeito pelo passado? Como se poderá esquecê-lo no presente e no futuro, que têm aí a origem comum?
As preocupações com os jovens, embora necessárias e justificadas, vieram com uma tal virulência que pecaram por certos excessos. Esqueceu-se que a célula da sociedade é a família e que é nesta que se formam ou se devem formar os jovens. É também nesta que a pessoa de idade deve ter o seu lugar, manter a sua dignidade e sentir-se respeitada.
Desacertadamente, isolam-se os jovens como uma comunidade à parte, dão-se lares e escolas com o maior conforto, oferecem-se-lhes bolsas de estudo, proporcionam-se-lhes viagens por várias partes do mundo e procura-se pôr-lhes ao alcance toda uma gama de distracções e prazeres sem que lhes seja exigido qualquer esforço. Pede-se-lhes sòmente que estudem e que tenham êxito nos exames.
Com problemas comuns, com os mesmos choques e emoções próprias da idade, os jovens não encontram, só no seu meio, um ambiente favorável à obtenção de uma resposta às suas ansiedades. Daí, se muitos sentem que só têm direitos, a maioria desses jovens não se contenta com esse somatório de comodidades e regalias que se lhes pretende dar. Eles procuram preencher o vazio que lhes fica no espírito. Se não se lhes proporcionarem meios para que o preencham de forma sã e válida, se não sentirem estabilidade e afecto na vida familiar, se não estiverem ligados pelo fio da tradição, desnortear-se-ão e irão procurar outra forma de o preencher, nem sempre a mais desejada.
Nos nossos dias, em que pai e mãe se vêem na necessidade de sair de casa em busca de rendimentos para a manutenção da família cujas necessidades são crescentes, quem poderá negar o enorme valor da companhia e dos cuidados dos avós pelos netos, da dedicação dos tios pelos seus sobrinhos e de uma verdadeira harmonia familiar?
Se pais e filhos tantas vezes se opõem, querendo os primeiros usar a sua autoridade, embora razoável, muitas vezes incompreendida, e os últimos reivindicando o seu direito de «independência» e «liberdade», quantas vezes os primeiros fraquejam pelo ambiente que os cerca para que não sejam apodados de «botas-de-elástico»! Nessas alturas é inegável o poder estabilizador dos velhos da família, que, não tendo responsabilidades na educação, procuram com amor e carinho acalmar uns e outros. Porém, devido à exiguidade de espaço nas casas dos meios urbanos e à debilidade económica de uma grande parte de pessoas idosas, dá-se o afastamento destas do seio da família.
Sr. Presidente: Gostava dê poder dizer muito do que sinto em poucas palavras.
A dignificação do velho e a sua integração na sociedade são aspectos que estão a ser estudados em grande número de países de todas as latitudes.
Distintos oradores desta Câmara, com o peso do seu prestígio e dos seus conhecimentos, fizeram sugestões concretas para que seja estruturada uma política de velhice no nosso país. Peço desculpa de aqui vir destoar no meio de tão autorizadas opiniões que me precederam. (Não apoiados). Mas cada um dá o que pode, e eu não pretendo mais do que pedir a atenção para alguns aspectos que me parecem pertinentes, dentro da simplicidade das minhas considerações.
A dívida que contraímos com as gerações hoje envelhecidas pelo peso dos anos fez-me tomar coragem para intervir neste debate; salientarei, principalmente, para além do aspecto sanitário, largamente debatido por oradores especializados, outros que também afligem as pessoas da terceira idade. O primeiro desses aspectos, que atinge a maior parte desse sector da população, é sem dúvida o económico. Se ninguém aceita a velhice de ânimo leve, é bem mais triste ser velho e pobre. É certo que em todas as idades é possível encontrar uma alegria no viver, mas não é menos certo que é necessário que existam estruturas para que seja encontrada essa possibilidade.
Portugal é um país católico; levou pelo mundo fora a mensagem de amor e fraternidade humana. Essa mensagem teve um tal efeito nos povos a que ficou ligado que as lutas tribais, os problemas de castas e dissidências religiosas, tradicionais de alguns povos do mundo português, foram ultrapassados pela mensagem ensinada por Cristo.
Temos seculares instituições de caridade. As misericórdias, as confrarias, são brilhantes e nobres exemplos. Sulcando mares, abriram as suas portas até ao Oriente. São instituições com avultados meios, mas o volume de solicitações de ajudas materiais e morais mostra bem que o País carece de outras e de mais amplos institutos de assistência à família.
Vimos acalentando, de longa data, o culto da pobreza. Desde os bancos da escola, incutimos no espírito dos que queremos formar uma verdadeira ternura pelos pedintes, o amor pela dádiva da esmola, como que querendo cultivar o espírito de generosidade. Mas não incutimos nos nossos próprios espíritos que humilhamos a quem tem de estender a mão à caridade.
Repete-se com frequência que Portugal é um país pobre. Se não é vergonhoso ser pobre, não é certamente motivo de orgulho insistir em sê-lo.
Um país como o nosso, com 24 milhões de habitantes disseminados pelo continente e extensos territórios ultramarinos, generosamente dotados pela natureza de potencialidades incalculáveis, não tem o direito de chamar-se pobre.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Criemos espíritos ambiciosos nas realizações, estudantes, dirigentes e trabalhadores ambiciosos. Cultivemos essa sã ambição de ter mais para poder repartir melhor.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Na Antiguidade o destino dos povos era traçado pelo valor dos homens. A evolução dos tempos fê-lo repousar, igualmente, no desenvolvimento económico; na preparação, na iniciativa e coragem individual, na faculdade de trabalho e na capacidade colectiva de produzir.
Ainda há poucos dias disse S. Ex.ª o Presidente do Conselho, no seu último contacto com o povo português:

Há que promover o progresso de uma nação desejosa de recuperar atrasos, fomentar a riqueza melhorando a distribuição de rendimentos, valorizando cada vez mais os homens.

E mais adiante disse:

Para que todos os portugueses possam ter melhores condições de vida é preciso que a Nação seja mais rica, produzindo mais bens. Só se reparte o que há.

Os países que, reconhecendo a necessidade de solucionar o problema da terceira idade de forma mais adequada, sentem que, além de um dever de justiça, esse problema representa um encargo para o sector activo da população