3312 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 185
quivos e bibliotecas, manancial de riqueza e deleite espiritual; com as suas magníficas praias; com o seu atraente e variado folclore e artesanato; com as suas romarias e festejos tradicionais, revestidos de acentuado ineditismo; com as suas feiras movimentadas e cheias de colorido, onde perduram velhos costumes das nossas gentes; com o panorama deslumbrante das nossas terras, onde se situam alguns santuários do mais elevado significado religioso e até histórico; com a afabilidade e a alegria do seu povo e as suas ementas tipicamente nortenhas; dispõe de atractivos mais do que suficientes para despertar e permitir a estada, mais ou menos prolongada, de turistas nacionais e estrangeiros e proporcionar imagens a perdurarem longamente no espírito de todos aqueles que por lá passarem.
No que respeita propriamente ao distrito de Braga, existem já estudos elaborados pelas entidades responsáveis sobre as suas possibilidades turísticas, estando também a equipa de estudo e promoção de desenvolvimento comunitário do distrito de Braga empenhada nesses estudos, com vista a definir-se proficuamente um palno de desenvolvimento regional. Os trabalhos prosseguem com aquele interesse e entusiasmo que são apanágio dos que se dedicam verdadeiramente ao progresso das suas terras, e a que não tem faltado :t colaboração de quem superintende neste sector à escala nacional.
Desta forma, as minhas considerações surgem de certo modo simplificadas, a exigirem apenas uma chamada de atenção para certos problemas cujas resoluções me parecem inadiáveis, importando colocar em primeiro plano nos motivos de interesse prioritário.
Sem me prender demasiado com o ordenamento dos assuntos, pois cada qual tem, como veremos, o seu lugar próprio, sem que uns surjam em detrimento de outros, dada a relevância que qualquer deles atinge na política económico-social da região, decidi orientar as minhas considerações fazendo desde já o comentário relativo às exigências da ligação mais rápida entre as cidades do Porto e Braga. A estrada nacional n.º 14, a servir povoações e vilas, das quais sobressai Vila Nova de Famalicão, cujo progresso comercial e industrial a colocam em plano de grande relevo, encontra-se diariamente submetida a um tráfego que supomos inultrapassável em qualquer outra região. O seu piso irregular salva uma ou outra rectificação relativamente pequena, a sinuosidade do traçado da maior parte do percurso, apresentando-se em alguns pontos excessivamente estreitos, rodeada de casas dispostas junto à faixa de rodagem numa extensão de muitos quilómetros, para lá dos desastres que tem provocado, a muitos mais, infelizmente, dará origem, além de constituir um trajecto, no decorrer da maior parte do dia, a proporcionar excelente prova de perícia. O estudo do novo traçado está, tanto quanto nos foi possível averiguar, concluído, faltando apenas incluí-la num futuro plano de obras. A sua importância é de tal magnitude que se impõe encarar sem demora tão sério problema, pelo que daqui lanço um vibrante apelo ao ilustre Ministro das Obras Públicas, Sr. Engenheiro Rui Sanches, a cujas altas qualidades de inteligência, de visão clara dos problemas e de extraordinário dinamismo eu presto a mais respeitosa homenagem.
Uma vez em Braga, e passando de relance às necessidades mais pi ementes do distrito, de acordo com os objectivos que inspiram esta intervenção, logo ressalta como pólo turístico carecido de desenvolvimento o Geres, estância termal de renome que, apesar de tudo e graças a empreendimentos de iniciativa particular, começa a apresentar-nos instalações hoteleiras que, pelo gosto requintado de que se revestem, aliado a uma sobriedade que encanta, muito vem valorizar um dos pontos de extraordinário interesse da região. A serra constitui um quadro admirável de imponência paisagística que lhe confere condições excepcionais de beleza, para além de oferecer motivos de atracção aos entusiastas do montanhismo e da prática da caça. Os rios e as extensas albufeiras que se situam junto à estância termal permitem desenvolver ainda a pesca, os desportos aquáticos, etc.
Com tão fortes atractivos, parece fora de dúvida que se torna indispensável cuidar das infra-estruturas que permitam, dentro do máximo de rentabilidade, o aproveitamento total da incomparável dádiva com que a natureza nos dotou. Nesse sentido, e em boa hora, iniciou a Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, devidamente apoiada pelas autarquias locais, os estudos necessários para que no mais curto espaço de tempo se possa inaugurar o primeiro parque nacional português, e que se denominará "Parque Nacional do Geres", a abranger regiões serranas junto à fronteira, numa área aproximada de 50 000 ha - na sua quase totalidade formada por terrenos submetidos ao regime florestal -, incluídas nos distritos de Viana, Braga e Vila Real, nas serras de Peneda, Amarela e Geres. A esses estudos se tem devotado com a maior dedicação e entusiasmo um técnico distinto a que me cumpre prestar um sincero agradecimento - o Sr. Engenheiro Silvicultor José Lagrifa Mendes.
Ora, Portugal metropolitano é o único país na Europa que ainda não possui um parque nacional enquadrado dentro das novas concepções internacionais, o que deixará de acontecer com a criação do futuro Parque Nacional do Geres, a cujos estudos não tem faltado a colaboração de vários organismos internacionais, como a União Internacional para a Conservação da Natureza, a Liga para a Protecção da Natureza e o Fundo Internacional para a Vida Selvagem, no louvável intuito da salvaguarda dos espaços territoriais ainda susceptíveis de fornecerem ar puro, água cristalina, vida selvagem na sua integridade, espaços abertos ao traumatizado homem dos nossos tempos.
A conservação da natureza nos seus variados e múltiplos aspectos é incontestavelmente uma necessidade imperiosa, não como idealismo platónico dos cientistas que a esse tipo de investigação se dedicam, mas como meio de persuasão e como valor contemplativo daquilo que vai rareando na fúria destruidora muito em voga nos tempos que decorrem.
O Parque Nacional do Geres abrangerá vários tipos de reservas. Desde aqueles que servirão de refúgio da fauna e albergue da flora mais característica das nossas montanhas, onde o turista só terá acesso a pé ou a cavalo, até às reservas envolventes, digamos assim, com possibilidades para práticas desportivas, inclusive a caça e a pesca, mas obedecendo a certos condicionalismos que serão regulamentados para a salvaguarda das espécies do alto interesse turístico, devidamente assegurados pelas grandes reservas de caça e pesca onde se realizarão periodicamente os repovoamentos indispensáveis.
Mas tudo se processará, segundo as informações de que disponho, de modo a salvaguardar, por um lado, as actividades pastoris tradicionais, que continuarão a exercer-se, embora regulamentadas, como aliás já hoje acontece; e, por outro lado, a permitir que a população serrana, quer enquadrada na área do Parque Nacional, quer a situada nas vizinhanças, possa ter abertas perspectivas materiais a permitirem uma promoção que dificilmente ou até nunca atingiriam.
Ao caçador, ao pescador, ao simples turista, pois, não faltarão habitações serranas onde possam pernoitar e saborear uma ementa tipicamente nortenha, ao mesmo