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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 62 1074

se poderá conseguir. A agricultura, salvo algumas poucas excepções, encontra-se ainda no período anterior ao do conhecimento do arado. Mas como se poderão introduzir técnicas modernas na cultura dos campos, sempre dispendiosas, se o futuro das colheitas se baseia na mais do que problemática vontade da Natureza? O mesmo poderemos dizer do saneamento, pois sem água será impossível pensar no abastecimento- das populações e na instalação de uma eficiente rede de esgotos.

A falta de chuva e de água e a sua correspondente influência nas colheitas agrícolas faz pairar sobre o arquipélago o espectro da fome. À mais urgente preocupação é, pois, não deixar morrer os Cabo-Verdianos de inanição, como em tempos- já a alguns aconteceu. Aliás, neste campo, tem sido notável a acção do Governo, fornecendo os necessários abastecimentos aos habitantes daquelas ilhas.

Apesar de dois anos de seca - e parece que, infelizmente, vamos a caminho do terceiro ano -, não se registou em Cabo Verde, e o facto é de realçar, qualquer morte por falta de alimentação. Mas os pesados encargos que traz essa louvável actuação repercutem-se sobremaneira, o que bem se compreende na conjuntura que estamos atravessando, na economia e desenvolvimento do arquipélago, pois têm de desviar-se verbas importantes para a compra de milho, feijão, leite e outros produtos alimentares e fornecimentos de igual modo vitais, verbas essas que de outro modo poderiam utilizar-se em bem necessárias obras de fomento.

Acontece, ainda, que é indispensável dar que fazer às gentes que as crises agrícolas atiram para o desemprego. Observamos, assim, centenas, se não milhares, de homens e mulheres aproveitados em retirar as pedras que aos milhões se encontram nos campos para possíveis futuras culturas, quando esse trabalho poderia ser feito mais rápida e economicamente por meios mecânicos. Mas se as máquinas viessem substituir o homem nesses trabalhos, o que fazer, em que ocupar tantos desempregados? Sem dúvida que muita gente trabalha na construção de estradas, mas a rede de comunicações nas ilhas é já bastante satisfatória e não será necessário tanto pessoal para o que, nesta matéria, há ainda para fazer.

A juntar à falta da água, ao espectro da fome e à ameaça do desemprego, acresce a ausência de uma valida industrialização e o excesso de população, resultante de a um pequeno território se associar um elevado Índice de natalidade. Para que a indústria se instale e progrida é indispensável que existam ou se consigam matérias-primas e é necessário que haja- iniciativas por parte dos Cabo-Verdianos.

Das impressões que colhi na rápida visita de duas semanas a Cabo Verde - impressões que podem não corresponder à realidade- fiquei com a odeia de que talvez no arquipélago se pudesse instalar algumas indústrias rendíveis, mas que falta na sua população, em apreciável escala, o espírito industrial, dado que me pareceu que quase toda a sua tendência vai pana o sector muito menos arriscado do comércio.

Quanto ao excesso de população, que é uma série realidade, a solução é verdadeiramente difícil de alcançar. Poderá encontrasse, em grande parte, DO incremento da emigração, já significativa em direcção à Holanda e aos Estados Unidos da América, ou, talvez, apesar das sérias implicações que certamente traz, muito em particular de natureza moral e religiosa, no emprego dos antigos ou recentes matados de planificação familiar.

Mas certamente que o remédio para o mal que se está a verificar só se conseguirá realizando um esforço imenso para melhor se desenvolverem todas as valiosas

potencialidades desta terra. Então, apesar de muitos, mas com a sua própria e indispensável contribuição, os Cabo-Verdianos encontrarão com que viver, em bom nível nas ilhas onde nasceram. Mas todos têm de ajudar, pois o Governo e a metrópole mão podem, só por si, solucionar este e os outros problemas de Cabo Verde.

Srs. Deputados: Parece, por aquilo que tenho dito, que saímos de Cabo Verde desanimados quanto ao seu presente e inquietos quanto ao seu futuro. Mas convém recordar que toda a medalha tem sempre um reverso, e é sobre este que agora vamos proferir algumas palavras.

Em primeiro lugar irei referir-me, como é natural, ao magno problema da água. Pois bem, visitámos no Mindelo a construção e montagem de um grande dessalini-zador, dos maiores do Mundo, obra notável em vias de acabamento, e cujo custo ascende a algumas dezenas de milhares de contos.

Outro dessalinizador, em Santa Maria, na ilha do Sal, tem as suas instalações quase concluídas. Mas com muito mais interesse do que os dessalinizadores reputo as pesquisas que têm sido feitas no sentido de prospectar as águas que, porventura, existam no subsolo das diversas ilhas. Esses trabalhos, realizados pela Inspecção-Geral de Minas e por uma empresa francesa especializada na matéria, efectuaram-se já nas ilhas de Santiago, Fogo, S. Nicolau e Boa Vista, com perspectivas que podem considerar-se animadoras.

Os estudos e investigações de campo vão prosseguir em ritmo acelerado e oxalá correspondam às esperanças que nelas se depositam, pois penso que só na captação das águas subterrâneas, se elas existirem, como parece, se encontrará solução prática e económica para solucionar o gravíssimo problema das secas de Cabo Verde.

Outro aspecto favorável para o futuro da economia do arquipélago é o que fortemente se desenha quanto ao aproveitamento das possibilidades turísticas de algumas das ilhas. Na verdade, a um clima de estabilidade excepcional vêm juntar-se praias magníficas, mar com águas temperadas e uma população lhana e afável. Por isso, já um grupo ligado a individualidades belgas iniciou as instalações de um importante complexo turístico na ilha do Sal e estão em curso empreendimentos na Boa Vista, com financiamentos alemães, e no Maio, com interesses ligados a relevantes personalidades portuguesas.

De todos os projectos, o que se encontra mais adiantado é, sem dúvida, o da ilha do Sal, onde existem esplêndidas pistas para aterragens dos mais modernos aviões e onde é pena que faltem pequenos pormenores para que o novo edifício do aeroporto se possa classificar como excelente. Mas é preciso não esquecer que para o êxito de qualquer empreendimento turístico é absolutamente necessária a existência das respectivas infra-estruturas. Contamos que este aspecto tenha sido suficientemente equacionado no que respeita ao turismo de Cabo Verde.

No que se refere no aspecto industrial, ainda bastante incipiente, as perspectivas quanto a possibilidades - que não a iniciativas -, afiguram-se-nos prometedoras. Vemos, assim, que poderão ter futuro a industrialização de certos produtos agrícolas, como as conservas de fruta, muito em particular a das excelentes mangas, e o aproveitamento dos produtos do mar, especialmente os peixes e os mariscos.

A pesca, que tem sido vultosa fonte de receita para empresas estrangeiras que trabalham em águas bem vizinhas de Cabo Verde - haja em vista o exemplo dos Japoneses -, não tem dado às empresas nacionais os rendimentos mínimos que seriam para desejar, melhor diríamos, que tinham a absoluta obrigação dê apresentar.