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5 DE DEZEMBRO DE 1970 1075

O caso afigura-se-me tanto mais grave quanto em algumas empresas, como a Congel, o Estado investiu muitos milhares de contos. Temos esperanças de que dentro em breve, com a entrada, já verificada, de conceituados técnicos, para a sua administração, a Congel possa sair do inexplicável e inadmissível marasmo em que tem vivido.

Os estaleiros navais de Cabo Verde, a instalar na ilha de S. Vicente, são uma aspiração que merece um estudo cuidadoso e pormenorizado. Pelas ideias e orientações gerais que nos explanaram fiquei com a impressão de que poderia tratar-se de um empreendimento de vulto que teria manifesto interesse, não só para a economia do arquipélago, como para a da própria Nação.

Li, aliás, nos jornais de há meia dúzia de dias a agradável notícia de que os estudos se iam iniciar desde já, facto com que todos nos devemos congratular.

O Sr. Salazar Leite: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Salazar Leite: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: A minha primeira ideia é exprimir como Deputado de Cabo Vende o meu profundo agradecimento, que, estou certo, o meu colega Dr. Bento Levy comigo compartilha, pelo que nos foi dado ouvir da parte do Sr. Deputado Cancella de Abreu.

E sempre agradável verificar que há alguém que nos ajuda na luta que todos temos, aqui, de ter e manter para procurar elevar, tanto quanto possível, o nível de vida em territórios onde, infelizmente, ele ainda mão atingiu aquilo que todos nós aspiramos.

O que acaba de dizer sobre Cabo Verde, sobre as suas dificuldades, sobre o ingrato clima sob o ponto de vista hídrico, que aí assim verificamos, é realmente algo que dificulta extraordinariamente o desenvolvimento dessas populações.

Não fosse o seu espírito de compreensão, não fosse o seu profundo sentimento de patriotismo e de amor a berra onde nasceram, natural era que tivessem já quase que desistido de mais lutar contra o ambiente desfavorável que lhes foi dado.

Felizmente que é nesse mesmo ambiento que nós vamos encontrar os elementos necessários que permitirão a essas populações sair, talvez, do marasmo em que têm vivido, caminharem no sentido de uma maior prosperidade, aproveitando aquilo que até há pouco tempo nem mesmo se ligara importância ao ambiento em que viviam

Refiro-me às admiráveis condições climatéricas para a possibilidade de instalação de um turismo que deve estar seguramente orientado no sentido de -permitam-me a expressão- uma venda de saúde aos turistas que procuram aqueles lugares.

Também como ilhéus têm de olhar com mais atenção para o mar que os cerca e encontrar nesse mar, como muito bem disse o Dr. Cancella de Abreu, os elementos necessários para o desenvolvimento rápido da população. Felizmente, compartilho com ele a esperança de que a Congel, nas mãos de técnicos competentes, possa vir a dar os frutos que todos nós desejamos.

Mas o que me levou, sobretudo, a pedir autorização ao Sr. Dr. Cancella de Abreu para esta interferência foi a citação que acaba de fazer dos estaleiros navais de Cabo Verde.

A. situação dessas ilhas no meio do Atlântico, ilhas que seguramente podem constituir-se sobre diversos aspectos, sobretudo sobre o aspecto político e militar. Algo de muita importância no conjunto da nossa posição no Mundo merece ser acarinhado e temos a noção nítida de que o desenvolvimento de estaleiros nessas ilhas poderá ser um grande auxílio para o fomento de Cabo Verde.

Estão extraordinariamente bem localizadas no cruzamento das rotas que ligam as Américas à África e à Europa e têm as condições óptimas para que nelas possam vir a ser instalados grandes estaleiros, de que temos já, felizmente, alguma experiência.

Mas eu não quero esquecer, neste momento, e isto é uma homenagem que presto a um homem que sempre admirei, os homens da Armada, não quero esquecer-me o que a força naval de Cabo Verde tem já feito num pequeno estaleiro que ocupavam em boa hora e que têm desenvolvido tanto quanto possível, conseguindo que ele sirva amplamente às necessidades de cabotagem, mas podendo aspirar-se, se não for contrariada a sua tendência de desenvolvimento, a que ela possa vir a representar um factor importante nas comunicações marítimas de Cabo Verde.

E esse pedido que aqui deixo, que o facto de olharmos para um grande estaleiro com capacidade internacional, volto a pedir licença para empregar esta expressão, não ponha de parte a ideia do auxílio que há a prestar ao pequeno estaleiro que em boa hora o Comando Naval de Cabo Vende tomou sob a sua couta.

O Orador: - Muito obrigado, Sr. Deputado Salazar Leite, pela importante achega que quis trazer a esta minha intervenção. E absolutamente justa a referência que V. Ex.ª quis fazer aos estaleiros de Cabo Verde da parte da Marinha, tanto mais que, sendo de primeiríssima importância, o trabalho que executam, o que fazem, por aquilo que nos foi dado observar, quase, chamemos-lhe assim, em regime artesanal.

O Sr. Roboredo e Silva: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Roboredo e Silva: - É consolador ouvir um ilustre Deputado, ou melhor, dois ilustres Deputados desta Camará, que, aliás, são ambos médicos, falar da posição estratégica excepcional de Cabo Verde no Atlântico e, consequentemente, ligar essa posição àquilo que significam as actividades marítimas ou navais em que o arquipélago deve embrenhar-se a fundo. Por consequência, parte daquilo que eu poderia dizer já foi dito, mas eu desejaria reforçar com o seguinte: na primeira sessão legislativa, numa das minhas intervenções, se bem me lembro, salientei que, para o futuro da economia de Cabo Verde, considerava como ponto fundamental o desenvolvimento do Porto Grande de S. Vicente, de Cabo Verde.

Este porto, justamente pela excepcional posição geográfica do arquipélago, a cavalo nas linhas de navegação entre a Europa e a América do Sul, e muito próximo das linhas de navegação que se dirigem à África ocidental e à África do Sul, era de tal maneira valioso que tudo quanto se fizesse para o desenvolver e para lhe dar meios não só no campo das reparações navais, como, e acima de tudo, para fazer dele um grande porto petroleiro de reabastecimento de navios, era fundamental. E continuo convencido de que na nossa política de petróleo -.se é que temos realmente uma verdadeira política nacional de petróleo, isto é, que abranja a metrópole e o ultramar - S. Vicente de Cabo Verde seria das posições magnificas para instalar uma refinaria.

Vozes: - Muito bem!