O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 62 1082

milhões de católicos, num total de 2 biliões de almas -, facto que terá a sua explicação na circunstância de que só a partir do século XVI é que a Ásia, praticamente, entrou nas preocupações dos missionários católicos, especialmente portugueses e espanhóis. Pois é para essa Ásia, metade do Mundo, terra imensa de, mistérios e de sombras, pujante de Vida, prenhe de promessas, que se volta nestes dias a cristandade inteira e com ela toda a Humanidade.

Na palavra de um dos seus mais eminentes filhos, o cardeal Paulo Yu Pin, arcebispo de Taipé, está reservado à Igreja, na Ásia dos tempos de hoje, o papel de ser mãe e mestra da grande maioria dos pobres e dos menos privilegiados ainda em grande parte vítimas de um passivismo fatalista, da ignorância, da miséria, da corrupção e abuso do poder de oligarquias políticas, dos flagelos da guerra e da fome que, endemicamente, dizimam e martirizam milhões, talvez, de seres humanos.

E neste contexto histórico - religioso, social e político -, feito de um passado conhecido, de realidades de hoje e de um futuro cheio de incógnitas que a Humanidade inteira e de um modo especial a cristandade há-de situar e medir o significado desta peregrinação do Papa a terras do Oriente. De facto, a importância desta viagem reflecte, e nesta perspectiva deve ser entendida, preocupações pastorais que transcendem os motivos religiosos, colegial e ecuménico que directamente a motivaram.

O Papa não foi à Ásia simplesmente para se encontrar com as conferências episcopais da Ásia oriental, em Manila; e da Austrália e Oceânia, em Sidney - mesmo considerando a oportunidade que se lhe oferecia de um encontro, em espírito ecuménico, com protestantes e ortodoxos, budistas e muçulmanos. Já isso era muito, mas não foi tudo.

A guerra que ainda hoje dilacera pedaços da Ásia; a situação dos 3 milhões de católicos da China continental; os graves problemas sociais do chamado "Terceiro Mundo", que inclui vastas regiões da Ásia - foram também com certeza razões de força na motivação desta longa viagem do pontífice. A etapa de Hong-Kong onde o Papa celebrou, num grande estádio da cidade, uma missa por intenção de todos os povos chineses, é bem significativa; como é prova evidente da atenção que lhe merecem os problemas dos países subdesenvolvidos o facto de ter aceitado presidir na Universidade Católica de Manila a uma reunião de bispos cujo objectivo foi "o estudo do papel que a Igreja pode desempenhar no desenvolvimento económico e social das regiões deserdadas da Ásia". A visita ao bairro pobre de Tondo insere-se, logicamente, nesta mesma linha das preocupações do pontífice.

Sim, é certo: "O problema de promover os direitos de Deus e do homem, que hoje se impõe ao trabalho missionário, não pode ser formulado em termos de dilema", conforme dizia o cardeal-secretário do Estado, interpretando o pensamento de Paulo VI, na carta que escreveu ao Prof. Giuseppe Lazzati, por ocasião da XI Semana de Estudos Missionários, promovida pela Universidade Católica de Milão. E acrescentava: "O progresso material, civil e intelectual não pode ser obtido separadamente do progresso religioso e moral.

A civilização autêntica abarca todo o homem, e, quando algum aspecto humano não é considerado devidamente, está condenada ao declínio."

Sr. Presidente: Se esta viagem do pontífice romano pode ser vivida, e está a sê-lo, com particular emoção por todos os povos do Mundo, especiais razões assistem à Nação Portuguesa para rejubilar com ela, pois nela relembram os portugueses "feitos com que senhorearam pedaços da Ásia tão ricos e tão vastos", que na era de Quinhentos chegaram a formar um "luzido império", na linguagem expressiva do erudito historiador Manuel de Faria e Sousa.

Na ânsia de difundir a Fé e o Império, portugueses de gema, no tempo das Descobertas, pela Ásia imensa semearam luzeiros sem conta de civilização e de fé: na Arábia, na Pérsia e na índia; em Ceilão e na península de Malaca; em Samatra; no arquipélago malaio, nas Molucas e na China.

E por essas paragens e terras do Oriente em que tantos dos nossos se encheram de glória e merecimento aos olhos de Deus e da Pátria, é por aí que peregrina hoje o Papa Paulo VI, esquecido de si mesmo, do peso dos seus 78 anos, indiferente a riscos e perigos tão evidentes que já fizeram prova, alheio a fadigas e canseiras dê uma viagem tão longa e cheia de cuidados.

Apraz-nos recordar nesta hora páginas maravilhosas de uma história ímpar, tal foi aquela que souberam escrever os Portugueses em tenras do Oriente desde que em 1498 apontaram a Calecut.

E com santo orgulho que podemos dizer ao Munido que fomos dos primeiros a desbravar os caminhos de glória que envolvem em triunfo esta viagem do Papa.

Sr. Presidente: Por todos estes motivos, pela, peregrinação do pontífice em si mesma digna de todo o louvor e pêlos sentimentos e lembranças que ela desperta na alma desta velha e nobre mação missionaria, não podia calar a minha voz.

Pena é que o seu fraco brilho não tenha correspondido à nobreza dos valores que quis exaltar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. João Duarte de Oliveira: - Sr. Presidente: Iniciaram-se hoje em Coimbra as comemorações do Orfeão Académico.

Foi em 1880 que João Arroio, músico distinto e que depois veio a ser Ministro da Instrução, mobilizando boas vontades e relegando as desavenças políticas da época para segundo plano, o fundou.

E assim o mais antigo organismo estudantil e o primeiro grupo coral português.

Desde aquela data até hoje tem sido uma realidade viva e esplendorosa de arte e de tradições.

Norteado por ideais artísticos e académicos, tem-se mantido, desde sempre, impermeável a infiltrações da política e alheio a pressões estranhas aos seus específicos fins.

A sua arte e as directrizes altruísticas, que o levam a estar presente com frequência em espectáculos de benemerência, conquistaram-lhe distinções que são o reconhecimento dos seus méritos académicos, artísticos, culturais e beneficientes.

E comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada; comendador da Ordem da Instrução Pública; grande-oficial da Ordem de Benemerência; oficial da Ordem do Império, além de sócio e membro de inúmeras instituições Artísticas e benemerentes nacionais e estrangeiras.

O Orfeão Académico de Coimbra tem levado o nome de Portugal a Europa, Ásia, África e Américas. Foi o primeiro organismo académico a visitar o ultramar.

Em todos estes continentes - lembro particularmente as suas últimas actuações nos Estados Unidos da América e no Japão - ele item sido um digno embaixador de Portugal.