11 DE DEZEMBRO DE 1970 1115
sau, com a impressão de que iríamos percorrer uma parcela do nosso território que dificilmente poderia ser defendida, atendendo à sua pequena área e à vizinhança de nações inimigas, fortemente empenhadas em fazer dali desaparecer a presença de Portugal. Pois bem, saímos da Guiné com ideias absolutamente contrárias às da nossa chegada, com a certeza, pela política que estamos seguindo, de que acabaremos vencedores da luta que as potências estrangeiras ali tão traiçoeiramente nos impõem. À par da valiosíssima actuação social e militar das nossas forças armadas, a que adiante aludiremos, assiste-se a um completa renovação de alguns importantes conceitos, de fundo e de forma, no sentido de melhorar substancialmente as estruturas existentes e de, como ainda há menos de um mês afirmou o governador Spinola, intensificar a elevação cultural das massas portuguesas africanas e a sua progressiva integração nos diversos escalões da gestão dos negócios públicos.
Como por mais de uma vez foi afirmado, o verdadeiro conceito de guerra sofreu importantes alterações a partir do desfecho da segunda conflagração mundial. A guerra clássica, onde predominavam os potencialidades militares e económicas, apoiadas na diplomacia e na propaganda, passou para um plano secundário depois que as nações do Leste introduziram na luta dois inovados e importantíssimos elementos: a insurreição revolucionaria na frente interna dos países a atacar e a difusão, nas suas massas, de novas e teoricamente atraentes ideologias. Criou-se, deste modo, um outro tipo de guerra, para cuja estratégia são absolutamente ineficientes os métodos e as técnicas clássicas. Esta nova guerra revolucionária, só pode ser especificamente combatida com novas tácticas, abandonando os processos tradicionais e utilizando armas semelhantes às do inimigo, isto é, como dizem os modernos estrategistas, opondo à revolução uma eficaz contra-revolução, combatendo os ideias com ideias e os factos com factos: Ora, é precisamente esta concepção de luta que se está a aplicar na Guiné Portuguesa.
Como tão claramente tem exposto em seus variados discursos o governador António de Spinola, o problema desta nossa província africana processa-se no complexo de três linhas de acção: a guerra política, a revolução social os conflitos tribais, a primeira apoiando-se, indubitavelmente, nas duas últimas. Como bem se compreende, para combater eficientemente a revolução social e as lutas tribais suo por completo ineficazes os métodos da guerra clássica, e, daí, o terem de se utilizar novos processos, quer de ataque, quer de defesa. Pretende-se, assim, como programa o general Spinola:
Conquistar a adesão das massas à nossa política de justiça social, incutindo-lhes confiança na nossa capacidade para as governarmos e satisfazermos as suas legítimas aspirações e anseios de promoção;
Promover a justiça social e a igualdade dos cidadãos perante a lei, ao mesmo tempo que se reforça a responsabilidade e o prestígio dos chefes tradicionais;
Criar e realizar, em ritmo acelerado, projectos sócio-económicos que garantam a necessária credibilidade na nossa política e que ultrapassem os planos semelhantes dos países vizinhos.
Esta política tem sido efectivada com um manifesto sucesso e com grande receptividade por parte das populações autóctones. Por um lado, os países inimigos limítrofes da Guiné Portuguesa lutam com falta de preparação política, de elites e de estruturas fundamentais indispensáveis ao progresso, e de tal maneira, que as condições de vida dos seus habitantes pioraram em relação ao tempo em que não tinham ainda adquirido aquilo a que chamam "independência". Por outro lado, os nossos guinéus, bastante realistas, vêem melhorar gradual e rapidamente a satisfação das suas necessidades, preferindo, deste modo, um clima de paz, de segurança e de desenvolvimento ao de guerra subversiva, com as habituais condições de terror, instabilidade, violência e marasmo ou retrocesso dos requisitos básicos de natureza económica e social.
Temos ainda que o P. A. I. G. C. na sua propaganda declara querer uma Guiné melhor, com o aumento do bem-estar, a construção de escolas, hospitais e estradas, o abastecimento de águas, a instalação de redes de esgotos, afirma, em suma, lutar por uma melhoria geral das condições de vida das populações. Mas esses ideais não são apanágio somente do P. A. I. G. C., pois os Portugueses fazem igualmente deles a sua bandeira. Acontece, porém, que o P. A. I. G. C. proclama o desejo de realizar todos esses benefícios, ao passo que o Governo Português não só manifesta essas mesmas aspirações, como realmente as executa. Não é, assim, de estranhar que os portugueses nativos da Guiné escolham com alvoroço a nossa administração e seja em número progressivo os que regressam ao solo pátrio, e que dele se haviam afastado iludidos pelas falsas e enganadoras promessas dos dirigentes terroristas.
Comparando a verdade com a mentira, as realizações com as promessas, as realidades com as fantasias, não se sentem os Guinéus embaraçados com a opção a tomar. Daqui resulta ter o P. A. I. G. C. cada vez menos adeptos e sentir já dificuldades em recrutar gente da Guiné que pegue nos suas armas para nos combater. Acontece mesmo que, perante a contínua diminuição do seu prestígio frente às gentes que dizem ser-lhe afectas, crê-se obrigado a fazer qualquer coisa de palpável, tentando iludir, ainda que passageiramente, a indiscutível quebra da sua influência. E é essa, seguramente, a razão por que procede a flagelações das localidades portuguesas próximas da fronteira, assaltando e roubando populações civis e bombardeando-as a partir de bases situadas em território inimigo.
Acrescentarei, a propósito, que, como regra geral, os habitantes das aldeias e tabancas senegalesas e da República da Guiné não pactuam com os terroristas, fazendo-lhes mesmo, por vezes, a vida bem difícil. E mais: estes vizinhos recorrem às nossas autoridades, que muito consideram, quando necessitam de resolver quaisquer dos seus múltiplos problemas, e vêm diariamente ao nosso território vender os seus produtos e comprar outros que faltam nas suas terras. Nós próprios tivemos oportunidade de assistir, quando chegámos a Sare Bacar, a mais de seis dezenas de nativos do Senegal, recorrendo aos serviços de assistência do nosso posto médico. Seguindo, assim, as antigas tradições portuguesas, continuamos a humanamente ajudar todos aqueles que precisam de auxílio, sem cuidar de saber se são amigos ou inimigos e independentemente de raças ou de religiões. Honra seja feita à nossa política altruísta, que tão vilipendiada tem sido nos últimos anos!
A obra sócio-económica que se tem vindo a realizar na Guiné, e que está na base do nosso futuro em África, pode considerar-se verdadeiramente notável. Por toda a parte assistimos a um movimento intenso de progresso, que só os que querem ser cegos não vêem. Passamos em revista, rapidamente, algumas dos realizações até agora efectuadas ou presentemente em curso: constroem-se ou já se concluíram novos e higiénicos aldeamentos e bairros económicos; elevam-se pontes - as mais recentes sobre os rios Cacheu e Colufi - e lançaram-se esplêndidas estradas