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1446 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 71

tumes, a subversão académica alcançou tais proporções que a paz civil chegou a ser afectada, o que não deixou de criar apreensões muito sérias. Foi neste clima que se inseriu a grave crise de Maio de 1969 em Coimbra e, passado algum tempo, a da Cidade Universitária de Lisboa, uma e outra em fase de reatamento e recrudescente.

Explorando o mito da «democratização do ensino», que, segundo o fino espírito de um ilustre homem de letras, mais não visa do que «a dar democraticamente a carta de curso a quem não quiser aristocratizar a sua cultura acima da incultura das massas», os estudantes da contestação aceitam de bom grado as incitações que lhes são feitas pelo partido comunista, que se regozija, embevecido, por aqueles se disporem a fazer o seu jogo e a preparar-lhes a sucessão das cadeiras do Poder.

Os estudantes contestatários tornaram-se assim em elementos de manifestações do mais exaltado niilismo, sendo por eles tudo intencionalmente orientado à demolição da ordem social estabelecida e, por conseguinte, à contestação de todas as leis, tanto no mundo físico como no mundo moral.

No meio de tanta desordem, e dada a actividade desenvolvida pelos estudantes agitadores, não é possível fazer ouvir a voz do bom senso, que defende a ideia de que, de todos os problemas das reformas universitárias, o problema número um, sem o qual não existem reformas que reformem coisa alguma, é o da disciplina e educação social.

À nada dão ouvidos, e para prosseguimento dos seus propósitos de fazer vingar ideologias perversas os estudantes contestatarios contam com a cooperação, mais ou menos camuflada, das forças ocultas. Umas, que se localizam no próprio seio das instituições do ensino: as de alguns mestres, que, perante os actos de indisciplina e vandalismo, os vão suportando, tolerando e, por fim Deus o sabe , até encorajando por se mostrarem mais sedentos da sua popularidade entre os alunos do que das suas responsabili-dades como professores-educadores; e a de alguns alunos que, apáticos e mornos, se deixam comandar pela minoria activista e a ela se não opõem frontalmente com o receio e risco de virem a ser apodados de traidores e fascistas. Outras, escondidas, mais ou menos discretamente, por detrás dos meios de informação ou deformação, aos quais devia incumbir ter uma opinião pública correctamente informada, e não adoptar a posição de, estrategicamente, manhosamente, falsificar a informação e não meter nos cérebros dos jovens ideias corrosivas.

Estas fábricas da informação, que mais parecem da deformação, moldam os factos à sua maneira, desnaturando, amputando e desfigurando a verdade, e dizem-se amantes da liberdade, mas daquela que serve de máscara à tirania ou se confunde com a anarquia ! ...

Habilmente comandados por mentores conscientes de que as revoluções se fazem antes de rebentarem, os estudantes integram-se num estado-maior de subversão geral para porem em movimento toda uma estratégia que engloba alguns mestres a fazerem namoro às massas estudantis, contanto que sejam revolucionárias e comprovadamente democráticas ...

Assim, surgem os actos de clemência do Poder, vitórias concedidas graciosamente aos profissionais contestatarios e que constituem uma bofetada na cara aos elementos universitários mestres e alunos que, aliás, cumprindo o seu dever, se bateram por um clima em que pudessem trabalhar em condições normais, e daí que venha a engrossar o já grande sector da smaioria silenciosa».

Ora, o que é preciso e quanto antes é qua a Universidade recupere a função de scasa de trabalhos» para mestres e alunos, como preconizou o ilustre titular

da Educação Nacional, e de pôr um dique capaz à ideia de que a violência se tornou fonte -de autoridade.

O Sr. Peres Claro: V. Ex.ª dá-me licença?.

O Orador: Faça favor.

O Sr. Peres Claro:Se V. Ex.ª me permitisse, eu queria pegar-lhe nessa citação que aí fez de ser a Universidade uma casa de trabalho, para recordar, simplificando, aquilo que disse quando se generalizou o debate sobre a reforma da Universidade.

Casa de trabalho não é apenas a Universidade. Casa de trabalho é toda a Nação. Só que há parte da Nação que trabalha stotivaimenite e outra porte, que é a escolar, que sã pxiepora pana trabalhar. Ora, é por isso, exactamente, que se pretende que o ensino seja gratuito.

Pretende-se preparar as gerações para ocupar os lugares daqueles que a lei da vida fez afastar desses lugares.

Pois a parte da Noção que trabalha para permitir que os estudantes estudem, para permitir que os estudantes tenham descontos nas refeições, para permitir que os estudantes tenham boas instalações paia trabalhar, essa parte da Nação que trabalha, que paga as suas contribuições para que a educação se faça, snão pode permitir que existam estudantes que mão estudam.

Vozes: Muito bem !

O Sr. Peres Claro: E só tem de dizer àqueles que estão na Universidade, que estão nas escolas secundárias e que mão estuo a epaoveitoo: do esforço que -todos fazemos dando as nossas "Contribuições, dando os nossos dinheiros, os próprios operámos, a quem os estudantes se dizem querer aliar, que contribuem com o seu dinheiro para o Fundo de Desemprego para que se construam os edifícios onde os estudantes possam estudar, só tem de dizer que não pode consentir que existam nos escolas estudantes que não querem trabalhar, como estudantes, e antes subverter a ordem social.

Vozes: Muito bem!

O Orador: Muito obrigado a V. Ex.ª pela valiosa achega que deu a este apontamento.

Disse um dia Péguy que as grandes civilizações não são as que têm brechas, mas aã que têm cidadelas.

Até aqui tem o Poder andado, mais ou menos, ocupado em colmatar brechas, mas o que é certo é que a cidadela da Nação estava a ficar cada vez -móis gretada. Como pai de filhos, que tenho procurado educar no caminho do cumprimento do Dever, do Trabalho e da Honra, e representante de um povo laborioso e bom, amante da paz nos ruas e nos espíritos, congratulo-me vivamente com o grito de sBasta» dado a indisciplina, anarquia e violência estudantil, na nota emanada do Ministério da Educação Nacional.

Praza a Deus que as medidas agora adoptadas ainda cheguem a tempo e que a ordem e a disciplina voltem definitivamente à Universidade Portuguesa e que a autoridade no Estado continue a ser uma certeza.

E que, como um dia já afirmei nesta Casa: «Tenhamos presente que essa autoridade», no dizer de um dos nossos mais vigorosos pensadores políticos de todos os tempos, «só existe quando se exerce. De contrário, fica-nos apenas um conceito que facilmente se dilui.»

Tenho dito.

Vozes: Muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.