1588 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 78
Num caso, um médico escolar tem sob a sua vigilância 5558 alunos, repartidos por vários estabelecimentos. No caso de Guimarães, por exemplo, com três estabelecimentos de ensino secundário e um pouco mais de 4000 alunos, o médico escolar só pode ir a cada escola duas manhas por semana ... Enorme falta fazem as auxiliares de enfermagem e, sobretudo, as visitadoras. O seu quadro actual contém somente 52 visitadoras, número manifestamente irrisório, precisamente numa época em que são mais perturbadoras as influências dos factores sociais no espirito e no coração dos jovens, a acrescentar às condições de vida familiar, em especial nos meios urbanos e rurais.
Sei que vários projectos de reforma do departamento da saúde escolar foram elaborados, embora sem êxito. Oxalá, e quanto mais não fosse como consequência do próximo Congresso Internacional sobre Saúde e Higiene Escolar, a realizar em Lisboa, surja a legislação adequada a hora que passa.
A política do novo ensino secundário, que se dirige para a criação de liceus polivalentes, obriga a que se encare um novo tipo de edifício escolar. O liceu não pode continuar a ser uma mera justaposição de salas de aula, antes deverá ser constituído por espaços e zonas de dimensões variáveis e convertíveis, a fim de possibilitar o trabalho de grandes turmas (auditórios), de pequenos grupos (seminários) ou o estudo individual.
É que caminhamos para uma nova distribuição do trabalho dos professores e dos alunos. Enquanto estes serão agrupados por disciplinas, de acordo com o seu próprio ritmo de trabalho, os professores, em equipa, saberão aproveitar as peculiaridades de cada um - desde o professor de tipo "magistral" ao encarregado dos seminários e trabalhos práticos ou da orientação e acompanhamento do trabalho individual do aluno. Dentro desta mesma linha, os chamados "deveres" para casa passam a ser realizados na escola, integrados no tempo escolar, o que exige, além do professor-orientador, locais onde possam encontrar a documentação de que carecem para a efectivação do mesmo.
Ganha, por isso, relevo o espaço destinado à biblioteca, que passará a ser o centro de documentação dai escola, donde as suas novas dimensões e, simultaneamente, o seu descongestionamento, mediante a criação de outras pequenas bibliotecas (nas salas de cotia disciplina). Quer dizer, há que utilizar intensivamente as escolas, pondo-as ao serviço dos alunos, dos professores e da colectividade em que estiverem integradas. Repare-se que, excepto quando funcione em desdobramento, a escola está fechada a maior parte do tempo, com desperdício das suas instalações e serviços.
Voltar a escola para o serviço da comunidade implica, nova arquitectura, com a criação de espaços acessíveis ao exterior, mas sem causar prejuízo a outras actividades que possam estar a decorrer. Deste modo, a escola irradia a sua influenciai, pondo à disposição de todos os seus campos de jogos, o seu ginásio e teatro, os seus anfiteatros, a sua biblioteca. 8a tivermos presente que, mercê do progresso tecnológico, o homem obtém mais tempo livre, que os alunos, em virtude do regime de desdobramento (e nas escolas primárias também existe o regime triplo), só frequentem a escola ou de manhã ou de tarde, damo-nos conta de que jovens e adultos estão disponíveis para malbaratarem o sou tempo ou para o aproveitarem em actividades "livres" que visam o desenvolvimento físico ou a actualizarão de conhecimentos ou até a promoção cultural.
Tal tempo, se devidamente aproveitado, permite "reciclagens" e "reconversões" escolares ou profissionais.
Penso em especial naqueles que, por motivos vários, abandonaram precocemente a escola, e que poderiam prosseguir seus estudos, criando, para os empregados, è semelhança do que se foz nas escolas técnicas, liceus nocturnos. A escola deve ser intensamente aproveitada, para bem da colectividade.
Deste modo, os liceus polivalentes (ou os actuais estabelecimentos do ensino técnico) serviriam de "apoio" às iniciativas locais, quer no campo cultural, quer no desportivo ou no recreativo, complementando o serviço prestado pelos pavilhões gimnodesportivos, que pena é não sejam mais numerosos (como é o desejo de todos os concelhos do distrito de Braga), e com utilização de toda uma infra-estrutura indispensável: material e humana. Impõe-se atrair mais jovens para as escolas de educação física, nas quais deveriam funcionar centros preparadores de orientadores de "actividades livres".
Em consequência do desenvolvimento do 1.º ciclo do ensino secundário e da criação dos liceus polivalentes, haverá maior número de alunos inscritos, sobretudo quando generalizados, isto é, quando, no ritmo normal das coisas, todo b ensino secundário passar a obrigatório, o que acarreta a localização de mais unidades escolares. Mas como, pela complexidade da sua estrutura, tais liceus não podem dispersar-se, haverá que garantir o acesso dos alunos através de uma rede de transportes escolares, privativa ou pública. O que é imprescindível é ter-se, dentro de uma área não muito grande, todos os tipos de ensino: do infantil ao superior. O distrito de Braga tem uma grande densidade de população, logo uma larga base de recrutamento estudantil, garantia de frequência das escolas que nele forem localizadas.
Mas, enquanto os liceus polivalentes não chegam, importa acorrer às necessidades culturais do meio: Fafe precisa de uma secção liceal, para a qual poderiam ser aproveitados os professores dá escola técnica e do ciclo preparatório (esboço do liceu polivalente); Vila Nova de Famalicão justifica a criação do 6.º ano na sua secção liceal, ao mesmo tempo que na sua escola técnica se deveriam criar novos cursos, de acordo com as indústrias montadas na sua área de influência (recordemos a existência da metalo-mecânica, da borracha, etc.); Guimarães, localizada no coração da indústria têxtil, precisa, pelo menos, e para já, de ver elevado a secundário o curso de auxiliar de tecelagem; Barcelos, com a sua indústria de confecções e com a sua maravilhosa cerâmica, anseia por ver instalados os cursos compatíveis; Braga, voltada para a electrónica, para os pistões e motores, para a metalo-mecânica, aspira igualmente ao enriquecimento do quadro dos seus cursos. E, para além destes cursos, progressivamente, ganham direito de cidade cursos de administração e de gestão; que num meio industrial e comercial como o de Braga (distrito) teriam perfeito cabimento.
E se de regionalização falamos, tenha-se presente a grande percentagem da população agrária, a pedir em Barcelos, em Braga e em Celorico de Basto escolas agrícolas (dó diversos graus). E é noticia em Braga e em Guimarães a localização nas suas zonas de um parque industrial, o que justifica amplamente ã criação de um instituto politécnico. Mas a estes pontos (ensino superior) se referiu já um meu colega.
Perante as novas condições do ensino, a tarefa do professor torna-se mais exigente, pois terá de ser "educador", seguro de si, para dialogar com os alunos. O professor, mais do que um transmissor, terá de ser o animador do trabalho dos seus alunos, o que implica disponibilidade, capacidade para aceitar o "outro" (o que implica a aceitação de si próprio), sentido de cooperação,