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11 DE FEVEREIRO DE 1971 1639

Tudo quanto Beja precisa, e precisa de tanto, é largamente regateado, como se estes planos transbordantes do vida que dão o pão às gentes não fossem credores de reconhecimento profundo, e não só pelo que fazem, como também pelo que podem.

E o matadouro industrial, com a rede acopulada de frio, multiplicado de promessas, vãs por enquanto; é a central leiteira e mais a estação fruteiro; á a pousada do Convento de S. Francisco, em Beja, e as de Almodôvar, Vidigueira e Alvito, a poderem erguer-se em cenários de majestade de velhos monumentos; é o pavilhão gimnodesportivo, as habitações económicas, tonto para os beneficiários da Previdência como para funcionários públicos, as residências para professores primários; é a tão necessária e prometida escola agrícola, e não só a de Beja, como a de Odemira e Moura; á a Escola Técnica de Odemira; é o Instituto Industrial do Sul, de que Beja muito se orgulharia, e pelo qual tanto temos insistido, são os edifícios da Casa Pia e da creche, velhos, impróprios e carunchosos os existentes; é o edifício dos Paços do Concelho de Castro Verde, duramente maculado pelo tempo e em risco grave; á a expansão da rede eléctrica, da de águas e de esgotos, por toda a parte numa limitação confrangedora; ó a pavimentação de tantas ruas por esses aldeamentos fora, enfim; é todo um sem-número da realizações que Beja precisa para o seu bem-estar e que não há meio de ver concretizadas.

Ainda há dias nesta Casa o meu par ilustre de círculo, o Dr. Correia das Neves, em palavras repassadas da mais viva lamentação, cheias de sentido e verdade, lastimava o deserto industrial que é o Baixo Alentejo.

E o certo é que Beja pode ser, assim se queira, uma região densificada industrialmente, para o que não lhe faltam as possibilidades futuras de uma alargada produção agro-pecuária - carne, leite, 15, peles, trigo, arroz, tomate, beterraba, algodão, cártamo, girassol e muitas e boas frutas -, produções todas estas que o Alentejo sul há-de ter em quantidade industrializável, ou não seja ele o assento da maior mancha regada do País, nos seus 100 000 ha, e que, na boa vontade e acerto de acção do Sr. Ministro das Obras Públicas, estamos em crer que não demorará muito a entrar em pleno aproveitamento.

Assim sucede pelos regadios do mundo inteiro, no seu gerar de indústrias várias.

Somente este rincão, alentejano, enquanto não tiver água explorada e energia suficiente e barata, que hoje só a tem pouca e muito cara, nunca poderá ser um pólo industrial.

E aqui não cabem culpas aos "homens ricos do Alentejo" - e nisto estamos em desacordo com o Dr. Correia das Neves, não por sermos ricos, que o não somos, mas tão-só por assim o sentirmos -, em terem contribuído para a inércia industrial da sua terra.

Não é de acusar o alentejano em não investir na indústria, primeira, porque não podia ele erguer por- si só os alicerces da promoção industrial - água e energia - e, segundo, porque na sua exercitação tradicional de agricultor, tão digna e fundamental do viver dos povos, não lhe falta campo para o investimento, que todo é pouco, essencial à promoção agrícola.

E se o homem da terra lançar a essa mesma terra todos os seus proventos, nos dias de hoje pelo geral muito minguados, pois cada vez mais a lavoura se afunda no pélago da sua desdita, não só por estruturas erradas, a que muitos dão foros de única motivação, como também, e sobretudo, por infra-estruturas inexistentes, preços tantas vezes diminuídos e circuitos atrabiliários, esmagados estes por um intermediarismo altamente perturbador, já não faz pouco em favor de comunidade.

Sr. Presidente e Srs. Deputados: A água há-de tê-la Beja dessa "Alqueva" grandiosa, com o seu lago de 3300 milhões dê metros cúbicos, cujo projecto foi recentemente aprovado por despacho ministerial, com o parecer de que ele é um "trabalho de mérito, como o exige a importância do empreendimento"; por essa aprovação e pela ânsia que sabemos da sua realização breve, daqui dirigimos ao Sr. Ministro das Obras Públicas, com o calor da nossa mais viva homenagem, um bem-haja muito sentido.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Só assim, com Alqueva e outras albufeiras mais, umas já existentes - Roxo, Mira e Odivelas -, e outras a executar; com a barragem da Bocha da Galé, fonte hiante de energia que o Guadiana, viandante intemerato do Alentejo, ao qual generosamente quer oferecer toda a muita vida que arrecada no seu caminhar duro por sobre as penedias agrestes do seu leito; e ainda a central térmica, de apoio, que, em Mértola, teria assento próprio; e mais a central nuclear, que há tempos se pensou e se disse que também seria implantada nestas bondas alentejanas, teríamos, e então sim, o Alentejo reconvertido e promovido agrícola, industrial e socialmente, no perfeito desempenho de uma acção bem vivida no todo nacional, que precisa de ser fortemente alteado.

Sr. Presidente e Srs. Deputados: Mas não há promoção possível sem perfeitas vias de comunicação, e aqui é que está o grande dói de Beja.

As rodovias, felizmente, temo-las boas e estendidas. Com alguns quilómetros mais de construção e uns tantos de reconstrução - e eu estou a lembrar-me do que nesta Câmara já pedi para a Conceição, de Ourique, freguesia absolutamente isolada quando de invernias inclementes, para Albernoa, com o seu acesso em lastimoso estado, e ainda a ligação Alvalade-Messejana, permitindo melhor caminho para o Algarve -, a auto-estrada Ficalho-Grândola, ou, pelo menos, um alargamento de leito, a ponte do Guadiana concluída e a de Pedrógão considerada, e ainda umas quantas passagens de nível desaparecidas, pode dizer-se que Beja ficará com uma rede de estradas capaz de servir, e bem, o seu desenvolvimento premeditado.

A grande mácula, o mal maior, o autêntico canoro do Sul, está na imperfeição, no obsoletismo, na total incapacidade da sua rede ferroviária, se rede se pode chamar a uma via linear, com dois ou três pequenos ramais afluentes.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Beja tem seis concelhos sem ferrovia, e dos oito por onde ela passa há dois francamente mal servidos, com as estações a distâncias infinitas.

Cada vez que penso na "linha do Sul", confrange-se-me a alma de pena, por a vermos tal qual é, na sua fraquíssima utilidade, e como devia ser, na sua dilatadíssima necessidade. Só muito raramente a utilizamos, porque não é utilizável uma via por homens destes anos de 70, em que empilhados- quando colha, desconfortados sempre, são conduzidos a velocidade média horária de 80 km. e é quando é!

Não vimos aqui repetir, porque seria fastidioso, quanto dissemos em intervenção passada de Março de 1960.

Vimos, sim, dirigir um agradecimento e fazer um pedido à Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses.

O agradecimento é devido à atenção dispensada ao que ditámos em desfavor da não inclusão da "linha do Sul"