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11 DE FEVEREIRO DE 1971 1643

Turismo, cujo titular tanto gosto tem revelado pela região minhota.

Mas sei também que nunca á demais falar no que é justo e que as coisas e interesses progridem tanto mais quanto maior for o número daqueles que nesse sentido se empenharem. E a verdade é que até agora não têm sido muitos.

Daí a referência feita, que é lambam um apelo aos próprios Minhotos, em especial aos do Alto Minho, para que não se fiquem sempre na posição cómoda, mas ineficaz, de uma expectativa permanente, toda e apenas voltada para a munificência do Poder Central.

Ninguém se ajuda melhor do que aquele que a si próprio se socorre.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Outro aspecto onde convém também tirar a máscara e mostrar a realidade das coisas é a agricultura. For aí seguimos.

Olhados os campos, dir-se-á que tudo é ridente e próspero na agricultura do Alto Minho. Eles são os mais belos, os mais viçosos e talvez até os mais aproveitados.

E, no entanto, essa máscara de beleza esconde a realidade triste de uma agricultura esquálida e pobre.

As culturas tradicionais do milho e do vinho de há muito entraram em profunda crise. Não pagam o amanho, nem compensam a exploração.

Culturas novas só muito dificilmente penetram, por inaptidão dos solos, desconhecimento dos homens ou deficiente estrutura agrária. E por mais palavras sonoras que se digam, apelando para novas técnicas, para novos métodos de cultura ou até para novas espécies, a realidade permanece a mesma, esquálida s fria, indiferente ao festival da sua aparência.

Cansados de lutar, os homens emigram (tendência que não é de hoje, mas de sempre), as mulheres ficam algum tempo, enchendo o campo com as suas canções e a garridice dos seus trajos, mas a agricultura não progride e a pobreza instalada não arreda pé. Depois, como está a suceder em escala cada vez maior, algumas seguem os maridos, outras passam a viver com os cambiais que lhes mandam da estranja, produto do enriquecimento da terra alheia. E a vida continua ma mesma, talvez com mais abandono e maior desinteresse.

Não é meu hábito chorar apenas para comover. Tenho em meus ombros demasiadas responsabilidades para tão ingénuo e demagógico procedimento.

Se trouxe para aqui o muro das lamentações é porque entendo que também do domínio das prioridades (tal como outras regiões irmãs na pobreza e no atraso) o Minho tem justificado direito a melhor posição no equilíbrio geral.

Se há novas técnicas a aplicar, que se estudem e que se ensinem, sem esquecer a realidade individualista da gente minhota; se há novos produtos a experimentar no minifúndio de Entre Douro e Minho, que se insista na sua divulgação e amanho; se há alterações a introduzir na estrutura fundiária, que se não perca o Animo, nem se desperdicem as possibilidades, sem ofensa, no entanto, de direitos e deveres recíprocos.

Insiste-se, no entanto, em afirmar que tudo deve ser pensado dentro da moldura minhota e em conformidade com a sua mentalidade, a sua maneira de ser e até as suas tradições.

Transplantar soluções ou impor remédios de alheias curas não será certamente a melhor solução.

Eu sei, e com satisfação também aqui o digo; que a matéria tem sido objecto de muito atenta ponderação e apreciação pelos Poderes Centrais, designadamente pela Secretaria de Estado da Agricultura, a cujo ilustre titular aqui presto homenagem.

A verdade, porém, é que é sempre com alegria nos olhos e a tristeza instalada no coração que os Deputados pelo Alto Alinho regressam das visitas que a si próprios se impuseram a todas as regiões do seu circulo, em permanente e atenta auscultação da vontade e dos anseios da sua gente.

Algumas soluções têm sido tentadas com êxito, mas creio bem, e sem melindre para ninguém, que a questão é mais ampla e tem de enquadrar-se num plano global de valorização regional, onde todos teremos uma palavra a dizer.

Além disso, suponho também ter chegado o momento para, com coragem, reconhecer que a terra por si só não poderá, em qualquer caso, dar aumento bastante à proliferação demográfica da sua gente, não restando, então, mais do que procurar, noutros sectores do diagrama das actividades, colocação e trabalho para os excedentes.

E por esta via chegamos aos serviços e à indústria, onde novamente a máscara oculta realidade que nem sempre se compadece com os aparências.

Não tanto como na agricultura, onde o contraste é incomparavelmente maior, mas tombem há quem se deixe iludir por augurais fogos-fátuos de pequenos indústrias e com maior ou menor consciência fale em industrialização do Alto Minho.

For amor de Deus, só porque temos em Viana do Castelo uns estaleiros navais, que felizmente muito honram a industriai nacional, algumas cerâmicas mais ou menos prosperais, duas ou três fabriquetas de artigos diversos, muitas serrações em crise e vamos ter - isto, sim, tem de ser dito com letras maiúsculas - uma das maiores fábricas de celulose do País, graças à Celnorte, lá porque temos isto, falar em industrialização parece ironia.

E aqui volta a pôr-se a questão das prioridades.

Ninguém ignora que as indústrias não se instalam, onde queremos, mas, sim, onde maior vantagem encontram para o seu desenvolvimento. Mas também ninguém desconhece que essas vantagens podem ser condicionadas por múltiplos factores, mais ou menos dependentes das novas técnicas do planeamento. São es vantagens fiscais (que se compensam com bom juro a médio ou longo prazo), são es facilidades de crédito (pelo preço do dinheiro ou possibilidade de desmobilização dos investimentos com técnicas adequadas de redesconto selectivo), são os simplificações administrativas (desonerando burocraticamente quanto possa entravar a iniciativa privada.), são os aliciantes fundiários (tão em voga lá fora e tão-pouco experimentados enfare nós).

Mas pode ir-se ainda mais longe.

Sabe-se que o homem é elemento de tensão social, factor de progresso, pela sua simples presença, tanto maior quanto mais forte for o seu desejo de ficar e o grau da sua preparação profissional.

Assim o vão compreendendo muitos povos, e com modéstia confesso que assim sempre o entendi também, quando sobre mim detive responsabilidades governativas.

E daí duas preocupações, além de outras, que marcaram essas responsabilidades: a habitação e a formação profissional.

A habitação, pelo seu valor formativo, indispensável à família no cumprimento digno da sua missão, mas também como factor de estabilização e radicação dos homens ao meio onde vivem e a que pertencem.